Os caminhos amargos e graciosos da providencia divina na vida dos homens

Sermão em 2 Crônicas 32:24-26, sobre os sofrimentos dos filhos de Deus ocasionados pela Sua providência. Baseado na CFB 1689, capítulo 5:6, Sobre a Providência de Deus. Pregado em 03/11/2024.

 

 

Meus irmãos queridos, boa noite a todos. Vamos abrir a Palavra do Senhor em 2 Crônicas, capítulo 32. Vamos ler dos versos 24 ao 26. Diz assim o texto:

 

“Naqueles dias, Ezequias ficou enfermo de morte e orou ao Senhor, que lhe falou e deu-lhe um sinal. Porém, Ezequias não retribuiu segundo o benefício feito a ele, porque o seu coração se exaltou; portanto, houve ira sobre ele e sobre Judá e Jerusalém. Não obstante, Ezequias se humilhou por causa do orgulho do seu coração, tanto ele quanto os habitantes de Jerusalém, de modo que a ira do Senhor não veio sobre eles nos dias de Ezequias. Amém!”

 

Vamos orar, irmãos.

 

Nosso Pai, Senhor Deus, Criador dos céus e da terra, Deus altíssimo e único, a Ti, Senhor Deus, elevamos nossas orações, na certeza de que o Senhor as ouve. Ó Senhor Deus, conduza-nos nesta noite, neste culto, agora na pregação da Tua santa Palavra, para que tudo o que for pregado encontre coração de terra boa, para que o Espírito de Deus possa arar e colher, Senhor Deus, para a glória do Teu santo nome. Senhor, visite-nos, Deus, essa noite poderosamente. Que a verdade, Senhor Deus, provoque mudanças em nós, que a igreja cresça e seja edificada no Senhor pela poderosa Palavra do Senhor. Fale conosco, Senhor Deus, em nome de Jesus. Nós suplicamos que o Senhor seja glorificado nesta noite, que o Teu nome seja exaltado, e que os nossos lábios proclamem o Teu nome com alegria e grande glória, Senhor. É o que Te pedimos, Senhor Deus, em nome de Jesus, Teu Filho. Amém.

 

Queridos irmãos, hoje eu quero tratar com vocês sobre uma das mais importantes doutrinas das Escrituras e também uma das que mais causam impacto na nossa vida quando a compreendemos corretamente. Eu lembro de uma ocasião, irmãos, que já relatei aqui. Acho que preciso começar a pensar em novas ilustrações, porque tenho repetido algumas, mas esta é muito boa e se parece com o que quero dizer nesta introdução.

 

Certa vez, eu estava sentado, conversando com um dos meus professores do seminário. Foi quando cheguei ao seminário, no ano de 2005, se não me engano. Estava estudando muito a doutrina da eleição e da predestinação, empolgado, aprendendo novas coisas, mas ao mesmo tempo deixando de lado ideias equivocadas que, por muito tempo, pensei serem a verdade de Deus. Já estava muito seguro quanto à doutrina da predestinação e quanto aos cinco pontos do Calvinismo. Na verdade, estava seguro em relação a quatro pontos, mas ainda lutava com a expiação limitada de Cristo, uma doutrina maravilhosa.

 

Na altura dessa conversa com o meu professor, eu já havia compreendido a doutrina da expiação limitada, mas lembro que, um pouco antes disso, ainda lutava. Dizia: “Senhor, como isso pode ser verdade?” Eu lia as passagens e via que era verdade, estava na Bíblia, mas pensamentos antigos diziam: “Isso é injustiça, não pode ser.” E nessa conversa, ao falar para ele da alegria que sentia por ter conhecido essas doutrinas maravilhosas e como elas mudaram minha vida, ele disse: “É como se fosse uma nova conversão, não é?” Não é uma nova conversão, mas parece que você acabou de conhecer o evangelho da graça de Deus de verdade. Parece que toda a Bíblia passa a fazer sentido, tudo se encaixa.

 

Eu disse: “É exatamente isso. Tudo agora faz sentido.” A doutrina que quero tratar com vocês hoje, apesar da maravilha da expiação limitada ou definida, não é essa. Talvez você pense: “O pastor vai pregar hoje sobre a doutrina da predestinação.” Ela é maravilhosa, mas não é sobre isso que quero falar. A doutrina da predestinação está dentro dela, depende dela. Talvez você pense: “O pastor vai pregar sobre a salvação, sobre a morte de Jesus Cristo.” Essa doutrina que vou pregar inclui a salvação; a salvação depende dela. É uma doutrina maravilhosa: a doutrina da providência de Deus.

 

A doutrina da providência de Deus é o ensinamento das Escrituras de que o Senhor, o Deus do universo, não só criou todas as coisas, mas também governa e dispõe todas as coisas como quer, sustentando-as com Seu poder. Pense na criação e na vida humana: Deus criou o homem, mas também o sustenta vivo. Estamos vivos agora porque há um poder divino que nos mantém vivos. A providência de Deus ensina que Ele governa o homem e todas as suas criaturas de forma miraculosa e poderosíssima. Há um poder de Deus que governa a vida de cada homem e mulher na terra.

 

A doutrina da providência ensina que Deus governa não só a vida humana, mas tudo o que foi criado: as coisas sem vida, os planetas, as estrelas, a Via Láctea, a água, as montanhas. Deus criou, controla e governa tudo. Essa doutrina é maravilhosa, mas se torna ainda mais especial quando entendemos seus desdobramentos na nossa vida diária. Às vezes, pensamos que a providência se refere apenas a essas coisas gerais: “Ah, Deus criou, então Ele governa tudo e sustenta tudo.” Mas a providência de Deus envolve todas as coisas, das menores que você possa imaginar às maiores. Tudo acontece dentro da providência de Deus, por um decreto Dele na eternidade.

 

Na eternidade, Deus determinou que tais coisas acontecessem, e é a providência divina, o Seu poder, que faz com que elas aconteçam no tempo certo. Um exemplo prático: você veio para a igreja esta noite. Isso estava determinado na eternidade, mas a providência de Deus agiu para que tudo desse certo, para que você estivesse aqui hoje. Isso é a providência: o pneu do carro não furou, a bateria funcionou bem, você não adoeceu, tudo deu certo. Não houve problema no trânsito, e tudo aconteceu para que você pudesse estar aqui nesta noite. Isso é a providência de Deus. Mas a doutrina da providência, com todos os seus desdobramentos, é algo muito delicado e especial, pois mesmo nas coisas que achamos que não têm a mão de Deus, a providência divina está lá. Mesmo nas coisas contrárias a nós, cristãos, ao povo de Deus, a providência está operando, trabalhando, movendo para que tudo seja conforme a vontade de Deus.

 

Nossos pais batistas reformados escreveram na Confissão de Fé de 1689 um capítulo inteiro tratando sobre a doutrina da divina providência. São sete parágrafos ensinando sobre a providência de Deus. Quero destacar o parágrafo 5 dessa confissão e trabalhar essa perspectiva, considerando o texto que acabamos de ler em 2 Crônicas. Nossos pais escreveram o seguinte:

 

“O Deus muito sábio, justo e gracioso frequentemente deixa, por algum tempo, os seus próprios filhos sob tentações e na corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou para fazê-los conhecer o poder oculto da corrupção e engano de seus corações, para que sejam humilhados e para elevá-los a uma dependência mais íntima e constante de seu próprio auxílio, tornando-os mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecado e para outros santos e justos fins.”

 

Os batistas, nesta passagem da confissão, estão dizendo que Deus, na sua providência maravilhosa, às vezes deixa os próprios cristãos entregues aos seus corações pecaminosos. Ele faz isso para exercer justiça pelos pecados cometidos anteriormente ou para que nós, cristãos, possamos conhecer de perto a miséria do nosso pecado, entendendo quão mal e terrível ele é em nossa própria vida. Dessa forma, Deus nos faz mais dependentes Dele, buscando perdão, arrependimento e crescimento espiritual. Ele também nos torna mais vigilantes para não cairmos em futuras ocasiões de pecado, atentos contra elas, ou para cumprir qualquer outro propósito que seja da vontade de Deus.

 

Agora olhe para o texto que lemos em 2 Crônicas. Aqui temos um exemplo claro da providência de Deus em ocasiões especiais. A passagem fala do rei Ezequias, um dos bons reis apresentados nas Escrituras, que temia e amava o Senhor e estava disposto a obedecer a Deus. Mas ele era um homem como nós, com um coração inclinado ao mal, e pecava contra Deus. O texto relata que o rei Ezequias havia sido muito abençoado. Antes desta passagem, é narrada uma situação em que o rei Senaqueribe, da Assíria, havia cercado Jerusalém, ameaçando destruí-la.

 

Isso lembra a história que mencionamos hoje pela manhã, quando o rei Ben-Hadade cercou Samaria. Mas aqui é Jerusalém, no Reino de Judá, e o inimigo é o rei Senaqueribe, da poderosa e temida Assíria, cruel e opressora. Senaqueribe cercou Jerusalém e enviou mensageiros dizendo: “Entreguem-se, pois todas as nações que enfrentamos foram destruídas, e nenhum deus pôde livrá-las de nossas mãos. Vamos destruir, amassar e oprimir vocês. Não há Deus que possa livrá-los.”

 

O Senhor, na sua providência, age de maneira extraordinária. Em 1 Reis, que discutimos hoje de manhã, Deus destruiu os exércitos de Ben-Hadade com os jovens de Israel. O rei perguntou: “Senhor, como isso vai acontecer? Não temos exército.” E Deus respondeu: “Com os jovens, eu darei a vitória.” Agora, Senaqueribe, muito mais poderoso e cruel, diz que não há Deus que possa livrar Jerusalém. E o que Deus faz? Deus não manda jovens dessa vez. O texto diz que, durante a noite, o Senhor fere os soldados de Senaqueribe sem intervenção humana, sem uma espada. Deus envia seu poder e humilha Senaqueribe, que volta derrotado para a Assíria.

 

O rei de Jerusalém era Ezequias, e ele havia consultado o profeta Isaías, orando juntos ao Senhor. Deus deu uma grande vitória. Mas Ezequias se encheu de orgulho. O texto mostra que, depois da vitória, o coração de Ezequias se exaltou. O orgulho precede a ruína. Quando viu a vitória esmagadora sem precisar fazer nada, ele disse: “Eu sou o cara! Deus está comigo! Sou Ezequias, o rei, e nada vai acontecer comigo.” Ele se exaltou, cheio de autoridade, e inflou o peito de orgulho.

 

Agora veja o verso 24 do capítulo 32 de 2 Crônicas: “Naqueles dias, Ezequias ficou enfermo de morte.” A primeira coisa que aconteceu foi que ele adoeceu, e não era uma doença qualquer. Ele ficou gravemente doente, uma doença fatal, sem cura. O rei, tão orgulhoso, que havia presenciado a grande vitória de Deus, caiu doente. Mas o texto diz que ele orou ao Senhor, e o Senhor falou com Ezequias e lhe deu um sinal. Quando li essa passagem, pensei: “Que sinal Deus deu para Ezequias?”

 

A Escritura continua: “Porém, Ezequias não retribuiu segundo o benefício feito a ele, porque o seu coração se exaltou; portanto, houve ira sobre ele, sobre Judá e sobre Jerusalém.” O rei, que havia sido curado por Deus, não retribuiu com gratidão. O texto diz que o rei Ezequias não retribuiu ao benefício que Deus lhe deu, que era o sinal da cura da enfermidade. Esse sinal mostrava que o Senhor estava com ele, que o Senhor era poderoso para livrá-lo da morte e curar sua enfermidade fatal. Mas, após ser curado, Ezequias não se importou com o benefício que recebeu da parte de Deus. Ele não retribuiu segundo o benefício recebido, porque seu coração ficou exaltado.

 

Essa parte é muito importante para entendermos a reação de Ezequias após receber tamanha graça de Deus. Mais uma vez, Ezequias era o rei. Ele poderia consultar todos os médicos do seu reino se quisesse. Tinha todos os remédios possíveis à sua disposição. Talvez as pessoas mais pobres do reino não pudessem conseguir a cura de uma doença porque não tinham dinheiro para comprar medicamentos ou acesso a tratamentos, mas o rei poderia. Ele tinha todo o dinheiro necessário, toda a influência, poderia chamar os melhores médicos. No entanto, a doença era para a morte. Remédios e médicos não adiantariam. A doença era fatal, e o Senhor iria ceifar a vida de Ezequias.

 

Ezequias orou, e Deus deu a ele a cura, mas ele não retribuiu. Em vez disso, seu coração se encheu de orgulho. É exatamente nesse ponto que a providência de Deus às vezes age na vida dos cristãos de maneira dolorosa. Refiro-me àquele momento em que estamos cheios de nós mesmos, cheios de orgulho, achando que nada pode nos derrotar ou tocar. Dizemos: “Sou muito abençoado por Deus, tudo o que eu toco vira ouro, minhas mãos são abençoadas.” Enchemo-nos de orgulho, como se fôssemos especiais diante de Deus. É nesse momento que Deus, pela sua providência, às vezes nos mostra que precisamos nos humilhar e cair diante Dele.

 

A providência, quando traz disciplina, é boa para nós, mesmo que seja dolorosa. Estava falando recentemente com os irmãos sobre a disciplina, e como devemos encará-la como algo bom da parte de Deus. Quando você é disciplinado, louve a Deus, não pelo pecado que cometeu e que resultou na disciplina, mas porque Deus está trazendo você de volta à sensatez, fazendo com que seus olhos se abram para o pecado que está cometendo e para a loucura em que está vivendo. A disciplina serve para dar um choque e fazer você acordar para a realidade, para as coisas necessárias da Palavra de Deus. É o remédio amargo que cura a doença.

 

A providência de Deus, mesmo quando vem em ocasiões dolorosas, é boa. Como diz o teólogo John Piper, ela é amarga, mas boa. Ele escreveu um livro chamado “Amarga e Doce Providência”. Às vezes, Deus nos trata como tratou Ezequias, derrubando-nos do cavalo porque nos enchemos de orgulho diante Dele. Ezequias, em vez de se humilhar e agradecer ao Senhor pela cura e pela vitória sobre Senaqueribe, encheu-se de orgulho e se gabou. O texto diz que Ezequias não retribuiu segundo o benefício feito a ele, porque o seu coração ficou exaltado. O resultado foi que a providência se tornaria amarga para fazê-lo acordar.

 

Pense na providência de Deus em sua vida. Às vezes, Deus faz isso com você, ou pode fazer no futuro, ou já fez no passado. Ele traz momentos amargos, dificuldades e dores para que seu coração exaltado seja abatido, para que você reconheça que é pó e cinza, e que Deus é Deus. Na sua providência maravilhosa, Ele envia a mão invisível para cuidar de você, mesmo que essa mão o faça gemer um pouco.

 

Lembro-me de uma ocasião em que meu filho do meio, Marcus, cortou o dedo. Ele escondeu isso de mim e da mãe por um bom tempo, cerca de duas ou três horas, e o corte era muito grande. Quando ele finalmente mostrou para a mãe, ela quase enlouqueceu e, muito nervosa, me chamou. Quando vi, sabia que era grave e disse que precisávamos levá-lo imediatamente ao hospital. No hospital, o médico olhou o corte e disse que não havia outra opção: precisava de sutura. Marcus estava com medo, tremendo, e o médico explicou que já fazia tempo demais e que talvez nem colasse. Ele não queria fazer a sutura, mas teve que fazer. A dor inicial foi quando a agulha foi aplicada, mas logo depois tudo passou.

 

Assim é a mão da providência divina: como a mão do médico, ela dói no começo, mas depois o alívio vem. A mão de Deus, na providência, às vezes é amarga por causa do nosso pecado e da nossa miséria. Quando essa providência vem e nos faz gemer, é o momento de refletir. Já perceberam que buscamos mais a Deus na dor e na agonia do que na bonança? Quando as coisas estão bem, às vezes nem lembramos de Deus. Fazemos uma oração rápida: “Ó Deus, obrigado,” e seguimos aproveitando o tempo de bonança. Mas, quando enfrentamos o vale da sombra da morte, não tiramos os olhos de Deus. Clamamos: “Ó Deus, ajuda-me! Senhor, tem misericórdia de mim! Pai, perdoa-me! Protege-me, Senhor!”

 

Deus envia essas situações, essa amarga providência, para fazer isso: para que você se volte mais para Ele, dependa mais Dele, clame mais por Ele e reconheça seu próprio pecado. Nesses momentos, pedimos perdão a Deus: “Senhor, perdoa minha miséria, meu pecado, minha mentira.” Colocamos diante Dele nossa vida pecaminosa e suplicamos por misericórdia. A providência amarga serve para isso. Um dos motivos pelos quais Deus envia a amargura é para que você veja seus pecados, se aproxime mais Dele e dependa mais Dele.

 

Imagine aquela pessoa que vai ao médico e ouve: “Sinto muito. Fizemos tudo o que podíamos, mas não há mais nada a fazer. Vá para casa e aproveite sua família nos dias que lhe restam.” O texto diz que o rei Ezequias não retribuiu ao benefício que Deus lhe deu, que era este sinal: a cura de sua enfermidade. Era o sinal de que o Senhor estava com ele, o sinal de que o Senhor era poderoso para livrá-lo da morte e curar sua enfermidade fatal. Mas Ezequias, depois de curado, não se importou com o benefício recebido da parte de Deus. Ele não retribuiu conforme o benefício das mãos do Senhor. E por quê? Porque o coração dele ficou exaltado.

 

Essa parte é muito importante para entendermos a reação de Ezequias após tamanha graça da parte de Deus. Mais uma vez, Ezequias era o rei, e ele poderia consultar todos os médicos de seu reino se quisesse. Tinha à sua disposição todos os remédios possíveis. Talvez as pessoas mais pobres do reino não tivessem condições de comprar medicamentos ou de ter acesso a curas. Mas o rei tinha dinheiro, poder e influência; poderia chamar os melhores médicos. No entanto, sua doença era fatal, e nada disso adiantaria. A doença estava para ceifar a vida de Ezequias, e ele ora a Deus, que o cura. Mas ele não retribui, e o texto diz que seu coração se encheu de orgulho.

 

É exatamente neste ponto que a providência de Deus age na vida dos cristãos, de maneira muitas vezes dolorosa. Quando estamos cheios de nós mesmos, cheios de orgulho, achando que nada pode nos atingir, que somos abençoados em tudo o que fazemos, enchemo-nos de orgulho. É nesse momento que Deus, pela sua providência, nos mostra a necessidade de nos humilharmos.

 

A providência de Deus, quando traz disciplina, é boa para nós. Devemos louvar a Deus por esses momentos de aflição que nos aproximam Dele. Não louvamos pelo sofrimento em si, mas porque ele nos leva a reconhecer nossos pecados e a buscar o Salvador. Esse sofrimento nos faz clamar a Deus, pedir perdão, reconhecer nossa miséria e pecaminosidade.

 

Pense na providência de Deus como um café sem açúcar: é amargo, mas mantém você acordado. O que aconteceu com Ezequias? O texto diz que ele não retribuiu segundo o benefício que recebeu. Houve ira sobre ele, sobre Judá e sobre Jerusalém. A mão de Deus se tornou pesada. Mas o verso 26 revela que Ezequias se humilhou por causa do orgulho de seu coração. Essa providência amarga fez Ezequias reconhecer seu pecado e se humilhar.

 

Deus, na sua providência, usa maneiras diferentes para tratar cada um de nós. Ele usa sua providência dolorosa, mas boa, para nos trazer de volta a Ele, para fazer-nos reconhecer nossos pecados e buscar o Senhor. Ezequias fez isso. Ele e os habitantes de Jerusalém se humilharam, e a ira do Senhor não veio mais sobre eles. Quando nos humilhamos e a providência amarga cumpre seu propósito, Deus retira a amargura e a doce providência continua a operar.

 

Deus usa qualquer instrumento que Ele quiser para nos trazer de volta. Até mesmo os anjos caídos podem ser instrumentos da providência divina. Muitas vezes atribuímos tudo o que acontece de ruim a Satanás, mas ele não age por conta própria. Ele não pode tocar nos crentes sem a permissão de Deus, como vemos no livro de Jó e em outras passagens. Há um limite para a ação dos demônios, e esse limite é estabelecido por Deus.

 

Quando Deus quis provar a fé de Jó, permitiu que Satanás o atacasse, mas sem tirar sua vida. Jó não sabia que havia uma disputa cósmica entre Deus e Satanás, nem que Deus estava provando sua fé. Mas Deus sabia, e Ele permitiu aquilo. No final, a amarga providência foi retirada, e a doce providência chegou para Jó.

 

O que precisamos aprender hoje é o que nossos pais batistas escreveram na Confissão de Fé: frequentemente, Deus deixa seus filhos em tentações e na corrupção dos seus corações para castigá-los por pecados anteriores ou para fazê-los conhecer a corrupção e o engano de seus corações. Deus permitiu que o coração de Ezequias se exaltasse para que ele provasse o veneno que havia em si mesmo.

 

Na nossa jornada como filhos de Deus, o maior ato de providência já foi realizado: Deus provou seu amor ao providenciar seu Filho amado, Jesus, que morreu em nosso lugar na cruz. A doutrina da salvação está dentro da providência divina. Desde a eternidade, Deus determinou que Jesus morreria pelos nossos pecados, e a providência fez com que Cristo viesse ao mundo e fosse para o Calvário. Ele nos ama, mesmo quando a providência é amarga.

 

A amarga providência foi provada por Jesus, que sofreu em nosso lugar. Então, quando você passar por momentos amargos, lembre-se de que Deus o ama. Ele pode estar querendo abrir seus olhos para o pecado ou fazer com que você clame mais a Ele. Deus tem seus motivos para permitir a providência amarga, seja para aproximá-lo mais Dele, seja para corrigir você. Às vezes, Deus precisa providenciar situações amargas para que voltemos a Ele, para que sejamos disciplinados e reconheçamos nossos pecados.

 

A amarga providência é boa, mesmo que ninguém tenha prazer na dor. Seu fim é glorioso e serve para o bem do povo de Deus. Para finalizar, lembre-se da Palavra de Deus que lemos: “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, o Senhor.” Não importa. O que quer que aconteça, quão amarga seja a providência de Deus na sua vida, não há mais condenação sobre você, porque o sangue do Cordeiro já foi providenciado e está sobre a sua vida. Que Deus tenha misericórdia de nós, irmãos, e nos faça atravessar a providência divina com paz e com alegria. Amém.