O Testemunho da Igreja quanto à Escritura

 

 

 

Trecho extraído da aula 38 do CHTB (A autoridade da Escritura e o catolicismo romano).

_________________________________________________

A igreja é testemunha das Escrituras e de toda a revelação de Deus. Ao longo dos séculos, ela tem reconhecido e confirmado a canonicidade dos livros sagrados. Importa ressaltar que tal reconhecimento difere substancialmente da ideia de que a igreja possui autoridade para determinar o cânon.

 

De acordo com a compreensão batista reformada, a igreja não estabelece quais livros são inspirados; antes, apenas os reconhece e dá testemunho de sua origem divina. Portanto, a presença dos livros no cânon não decorre de uma determinação eclesiástica, mas do testemunho histórico e contínuo da igreja, que, conduzida pelo Espírito Santo, os recebe como Palavra de Deus.

 

A Confissão de Fé Batista de 1689 enfatiza que a igreja é testemunha da Escritura, não sua juíza. Esse ponto distingue-se da posição da igreja católica romana, a qual reivindica autoridade sobre a Palavra, afirmando-se não apenas testemunha, mas também intérprete suprema e árbitra de sua autoridade. Por outro lado, os anabatistas, embora igualmente divergentes da posição católica, defendem que a revelação ainda está em progresso e que o cânon permanece aberto, o que contrasta com a compreensão batista de que a Escritura constitui a revelação escrita e definitiva de Deus.

 

A questão que se impõe, portanto, é a seguinte: o que leva a igreja a testemunhar sobre as Escrituras? Em primeiro lugar, o cumprimento histórico das declarações bíblicas, visto que muitos de seus registros correspondem a eventos comprováveis e verificáveis na história. Esse aspecto, por si só, já garantiria a credibilidade do testemunho eclesiástico. Contudo, não se trata apenas de comprovação histórica. A igreja também dá testemunho dos milagres realizados por Deus, reconhecendo-os como confirmação da mensagem divina, bem como das promessas cumpridas e cridas pelo povo de Deus. Assim, o testemunho da igreja é abrangente, abarcando elementos históricos, miraculosos e doutrinários, todos confirmados pela experiência comum de fé.

 

Porém, tal testemunho não pode ser compreendido como produto exclusivo da razão ou da análise humana. Ele depende, essencialmente, da atuação do Espírito Santo, que persuade a igreja de que as Escrituras são, de fato, a revelação de Deus. O mesmo Espírito que testifica ao crente que ele é filho de Deus (Romanos 8:16) é aquele que confirma a autoridade da Palavra inspirada. Como afirmou Cristo, “o testemunho de Deus é maior do que o dos homens” (cf. João 5:36). Por essa razão, a Confissão de 1689 declara que a persuasão quanto à verdade infalível e à autoridade divina da Escritura não se fundamenta apenas em evidências históricas ou argumentos racionais, mas provém da operação interna do Espírito Santo, que, mediante a Palavra e juntamente com ela, testifica ao coração dos crentes.

 

Assim, o testemunho da igreja não pode ser reduzido a um processo meramente lógico, tradicionalista ou filosófico. Trata-se de uma realidade espiritual, produzida pela obra do Espírito, que atua de forma interna e eficaz no coração daqueles que constituem a verdadeira igreja de Cristo. O Espírito que inspirou a Escritura é o mesmo que confirma sua autoridade. Portanto, os batistas sustentam que o testemunho que a Bíblia dá de si mesma é verdadeiro justamente porque é confirmado pelo Espírito Santo.

 

No encerramento do quinto parágrafo da seção em análise, a Confissão de 1689 afirma expressamente:

 

“Nossa plena persuasão e certeza quanto à verdade infalível e divina autoridade provêm da operação interna do Espírito Santo, que, pela Palavra e com a Palavra, testifica aos nossos corações.”

 

Dessa forma, evidencia-se que o testemunho da igreja está intrinsecamente ligado à ação do Espírito Santo, sendo impossível dissociá-los. Isso significa que a rejeição da Escritura como Palavra de Deus por parte de muitos povos e indivíduos, ao longo da história, revela a ausência desse testemunho divino que persuade internamente o coração humano. Esse convencimento, cumpre destacar, não é fruto de conquista humana, mas resultado da graça soberana de Deus.

Quer aprender mais sobre as História e Teologia dos Batistas?