Decreto Divino e Onisciência: A Inclusão dos Gentios no Plano Redentor de Deus

 

 

Sermão em Atos 15:13-21, sobre a onisciência divina. Baseado na CFB 1689, capítulo 3, Sobre o Decreto de Deus. Pregado em 22/09/2024.

 

 

Meus irmãos, boa noite a todos. Quero saudá-los com a graça e a paz de Jesus Cristo, nosso Salvador. Nos alegramos aqui na presença de Deus, na companhia dos irmãos, especialmente hoje, no dia da Santa Convocação do Senhor. Igreja, nunca esqueçam que domingo é um dia especial para nós. É um dia especial por muitas razões, mas a principal delas é que é o dia do Senhor, o dia em que Deus fala conosco como uma comunidade de eleitos que se reúne para adorá-lo, ouvir a Sua voz, e ser instruída e edificada no Senhor.

 

Temos esse grande privilégio de nos reunirmos e nos assentarmos aqui, nestes bancos, para apreciar, com coração aberto, aquilo que Deus tem para nos falar e ensinar. Às vezes, Deus tem muito a nos dizer sobre Ele mesmo, mas outras vezes Ele fala sobre nós. Seja o que Deus tiver para nos dizer esta noite, irmãos, prestem muita atenção, e que nosso Deus fale poderosamente mais uma vez ao nosso coração.

 

Vamos abrir as Escrituras em Atos, capítulo 15. Atos dos Apóstolos, capítulo 15. Vamos ler a partir do verso 13 até o verso 20. Diz assim a Escritura:

 

“E, após terem feito silêncio, Tiago respondeu, dizendo: ‘Homens e irmãos, ouvi-me. Simão declarou como Deus, primeiramente, visitou os gentios para tomar deles um povo para o Seu nome. E com isto concordam as palavras dos profetas, como está escrito: Depois disto, voltarei e reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído, e o edificarei novamente das suas ruínas, e o estabelecerei, para que o restante dos homens busque ao Senhor, e todos os gentios, sobre os quais o Meu nome é invocado, diz o Senhor, que faz todas estas coisas. Conhecidas são a Deus todas as Suas obras desde o início do mundo. Por isso, a minha decisão é que não perturbemos aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas que escrevamos a eles para que se abstenham das contaminações dos ídolos, da fornicação, das coisas estranguladas, e do sangue.”

 

Apenas curvem a cabeça agora. Vamos orar ao Senhor, nosso Deus.

 

Amado Deus, Pai, nós Te damos graças, Senhor. É mais uma rica oportunidade que temos de estarmos reunidos neste culto para celebrar o Teu santíssimo nome, para declarar que cremos somente no Senhor, em Jesus Cristo, Teu santo Filho, e no bendito Espírito Santo de Deus. Ó Deus amado e bendito, nesta noite fale ao nosso coração de maneira poderosa, que se torne inesquecível para todos nós, Pai. Que as grandezas do Senhor, a bondade do Senhor, e toda a revelação que o Senhor tem para nos falar sejam manifestas. Ensina ao Teu povo os Teus caminhos, para que andemos sempre na Tua presença, para que saibamos onde olhar, onde buscar, a quem procurar. Que o Teu Espírito Santo, cheio de poder e glória, esteja no nosso meio, mostrando-nos a pessoa bendita de Jesus, o Teu Filho, o nosso Salvador. Em nome de Jesus, amém.

 

Irmãos, esse texto que acabamos de ler em Atos dos Apóstolos, capítulo 15, é um recorte de uma seção maior do livro, que fala sobre os gentios e sua entrada na igreja. Em outras palavras, eles estavam discutindo se os gentios também poderiam ser crentes, ser salvos, ou se a salvação era apenas para os judeus, para Israel. Também estavam discutindo de que maneira os gentios deveriam ser aceitos na igreja, caso fossem aceitos. Precisariam observar as práticas judaicas ou bastava crer em Jesus, o Senhor, como Salvador? Esse é o pano de fundo da passagem.

 

Mas quero destacar para os irmãos que esse texto traz uma doutrina muito interessante: a doutrina do conhecimento de Deus por decreto. Na teologia, chamamos isso de “conhecimento pelo decreto”. Não é o único tipo de conhecimento que Deus possui, mas é um aspecto importante da onisciência divina. Explicando de forma clara, onisciência significa que Deus conhece ou sabe de todas as coisas. Não há nada que Deus não saiba, nada que Ele não conheça em todos os seus detalhes. Tudo é exposto e claro diante Dele.

 

Há um detalhe interessante nesta passagem, que também chamou a atenção dos nossos pais batistas reformados no século XVII, quando escreveram a Confissão de Fé Batista de 1689. Essa confissão, que usamos tanto aqui na igreja, foi escrita inicialmente em 1677, sendo a confissão de uma igreja chamada Petty France, na Inglaterra, pastoreada por Nehemiah Coxe, um dos autores, junto com William Collins. Quando trataram da doutrina do decreto de Deus, no capítulo 3, disseram:

 

“Deus conhece tudo o que venha ou possa ocorrer sob todas as circunstâncias imagináveis.”

 

Aqui, nossos pais reconhecem a onisciência de Deus. Ele sabe tudo o que vai acontecer e tudo o que poderia acontecer sob qualquer circunstância. Se você tem várias possibilidades diante de si e escolhe uma, Deus sabe o que acontecerá com a sua escolha. Ele também sabe o que teria acontecido se você tivesse escolhido outra coisa. Deus conhece tudo o que vai acontecer e também tudo o que poderia acontecer, mesmo que nunca venha a acontecer. Essa afirmação da Confissão de Fé Batista não só reconhece esse atributo de Deus, mas exalta a onisciência divina.

 

A onisciência de Deus é o conhecimento universal. Ele sabe tudo sobre tudo, em cada detalhe. Até hoje, quando os cientistas estudam algo, como a célula de um ser vivo, quanto mais potentes são os instrumentos que usam, mais descobrem coisas novas. Mas Deus já sabe tudo. Ele conhece todas as minúcias, todos os detalhes. Tudo está patente diante do Senhor. O conhecimento por decreto é o exercício da onisciência divina, onde Deus sabe infalivelmente tudo que vai acontecer, porque tudo já está decretado por Ele.

 

Imagine um engenheiro ou um músico que escreve uma partitura. Mesmo que um especialista esteja lendo e executando a música, o autor já conhece cada som que vai sair dali. Se o músico cometer um erro, o autor sabe que o som não era aquele. Assim, Deus, em Seu decreto, sabe tudo o que vai acontecer, porque decretou tudo. Ele conhece o destino das nações e de cada pessoa individualmente, pois decretou todas as coisas.

 

Esse é o conhecimento de Deus pelo Seu decreto. Embora decreto e onisciência não sejam a mesma coisa, estão intimamente relacionados. Mesmo as coisas que não se realizam estão dentro do escopo do conhecimento de Deus. Ele conhece todas as realidades possíveis, mesmo as que nunca virão a se concretizar, e esse conhecimento perfeito é parte do que faz Deus ser o Senhor soberano que governa o universo com sabedoria absoluta e perfeita compreensão.

 

que jamais acontecerão. Como eu frisei há pouco, Deus sabe como elas aconteceriam e quais seriam os desdobramentos para o mundo e para cada indivíduo caso tivessem sido decretadas por Ele. Esse é o exercício da onisciência de Deus sem o decreto. Quando Ele decreta, o decreto é fixo. Tudo o que vai acontecer é o que Ele decretou. Então, Ele conhece o que decretou; Ele sabe tudo que vai acontecer. Ele sabe quantos dias nós teremos porque decretou quantos dias teremos. Ele sabe como será nossa vida em cada detalhe, porque decretou isso antes da fundação do mundo.

 

Mas veja bem: quando estamos diante de uma certa decisão a tomar, e temos muitas possibilidades de escolha, Deus sabe exatamente quais seriam os desdobramentos de qualquer decisão que tomássemos. No entanto, essas decisões, como não foram decretadas, nunca acontecerão, mas o Senhor, em Sua onisciência, sabe tudo em detalhes: o que aconteceria conosco, com as pessoas à nossa volta, com as nações, com o mundo todo, se todas as decisões fossem diferentes das decretadas por Ele. Esse é o conhecimento do Senhor, a onisciência de Deus, que não depende do Seu decreto, porque a onisciência é algo maravilhoso, um conhecimento extremo e infinito que Deus tem.

 

Como eu disse há pouco, o engenheiro sabe tudo o que vai acontecer no prédio porque ele escreveu a planta do prédio. Esse é um conhecimento que entendemos perfeitamente. Mas aquele conhecimento infalível de coisas que nunca acontecerão, mas que poderiam, só Deus tem. É o conhecimento sem o decreto infalível de Deus. É por isso que a confissão diz que Ele conhece todas as coisas que vão acontecer e as possíveis, que nunca vão acontecer, mas que eram uma possibilidade.

 

Quando vocês saíram de casa hoje, estavam determinados a vir à igreja, e aqui estão. Mas certamente poderiam ter decidido não vir ou ir a outro lugar esta noite. Deus sabe exatamente o que aconteceria em qualquer dessas circunstâncias. Ele sabe minuciosamente. Esse é o decreto de Deus e o conhecimento de Sua onisciência, mesmo sem o decreto. Quando a confissão afirma esse ponto, nossos pais usaram o texto de Atos 15:18 como referência ou base para essa doutrina. Eles falam especialmente sobre o conhecimento onisciente de Deus pelo Seu decreto.

 

Em Atos 15, temos uma narrativa reversa. Narrativas reversas começam pelo fim e voltam até o começo. Imagine a história de sua vida sendo contada do presente até o dia do seu nascimento. É isso que acontece em Atos 15: a história começa com a salvação dos gentios e volta até o começo, explicando como isso ocorreu de maneira espetacular.

 

Aqui, temos o ápice da história em Atos 15, com a explicação da salvação dos gentios. Deus, por meio de Abraão, formou o povo de Israel. Todos os israelitas descendem de Abraão, e por isso têm tanto orgulho dele, dizendo: “Abraão é nosso pai,” porque a nação começa com ele. Deus tirou Abraão da terra de Ur dos caldeus e, a partir dele, formou a nação de Israel. Todo israelita sabe que Israel é o povo de Deus, e às vezes esse orgulho se torna pecaminoso, porque acreditam que a salvação é apenas para Israel.

 

Mas será que os israelitas estão corretos ao pensar que Deus veio para salvar apenas Israel? Que a salvação é destinada somente a eles? Que todos os gentios serão condenados para sempre? Ou será que Deus mudou Seu decreto eterno, incluindo os gentios depois? Será que Deus decretou no princípio algo e depois alterou o próprio decreto? Será que Ele decretou salvar apenas Israel e, depois, ao se arrepender, decidiu incluir os gentios? Ou será que há um decreto eterno para a salvação tanto de israelitas quanto de gentios, abrangendo todas as nações?

 

Apenas para esclarecer, os gentios são todos aqueles que não são israelitas. Nós somos gentios. Qualquer pessoa que não seja da semente física de Abraão, da etnia semita de Israel, é considerada gentil. O contexto de Atos 15 é a conversão dos gentios. Como pode ser que agora esses gentios estejam se convertendo, adorando a Deus e crendo Nele? A salvação não é apenas para Israel?

 

Em Atos 15, há um concílio discutindo essa questão: se a salvação é abrangente ou restrita a Israel. Três colocações especiais se destacam: a do apóstolo Paulo, a do apóstolo Pedro e a do apóstolo Tiago. Esses três homens, em uma reunião que envolve muitos anciãos e presbíteros, vão dar um veredito baseado na Palavra de Deus, nas Escrituras Sagradas.

 

Em Atos 15:1, o texto diz: “Certos homens da Judeia ensinavam aos irmãos: ‘A menos que sejais circuncidados conforme o método de Moisés, não podeis ser salvos.'” Esses homens, vindos da Judeia, desceram das regiões de Jerusalém até onde Paulo estava pregando o evangelho aos gentios. A pregação de Paulo era: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo.” Não envolvia a observância da Lei de Moisés, nem as leis dietéticas do Antigo Testamento, como “não coma isso” ou “guarde aquilo.” A mensagem de Paulo era de salvação pela fé em Jesus Cristo.

 

Porém, esses homens, que eram da igreja judaizante (judeus que haviam crido em Jesus mas ainda insistiam na observância da Lei de Moisés), achavam que para ser verdadeiramente cristão era necessário guardar essas leis. Por isso, diziam: “Se não observardes, não podeis ser salvos.” A salvação, para eles, estava diretamente ligada à observância das ordenanças mosaicas. Diante desse dilema, o apóstolo Paulo decidiu levar a questão para Jerusalém.

 

Em Atos 15:4-5, Paulo expõe como Deus operou grandes coisas entre os gentios por meio de sua pregação. Mesmo assim, alguns judeus se levantaram e disseram: “Mas levantaram-se alguns da seita dos fariseus que haviam crido…”

 

O texto diz que alguns judeus que eram fariseus, parte da seita farisaica, já haviam crido na pregação de Cristo, por isso estavam presentes na reunião em Jerusalém. Esses judeus acreditavam que a salvação dependia da observância da Lei de Moisés. O texto relata: “Levantaram-se alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo que era necessário circuncidar e ordená-los a guardarem a Lei de Moisés.” Assim, a situação estava dividida, pois esses cristãos judaizantes queriam que os gentios, para serem recebidos, observassem toda a lei mosaica, incluindo as restrições dietéticas do Antigo Testamento, como não comer animais imundos ou beber sangue.

 

Esses cristãos judaizantes acreditavam que Jesus, o Messias, veio exclusivamente para salvar Israel. Embora considerassem a possibilidade de uma exceção para os gentios, pensavam que eles precisariam seguir as leis mosaicas, guardando todas as ordenanças. É nesse contexto que a narrativa reversa dos judeus e a doutrina da onisciência de Deus pelo decreto entram em cena.

 

Primeiro, os apóstolos interpretam a salvação dos gentios pela graça e pela fé em Cristo Jesus. Veja o que o apóstolo Pedro diz a partir do verso 7: “E havendo muita discussão, Pedro levantou-se e disse-lhes: ‘Homens e irmãos, vós sabeis que há um bom tempo Deus me escolheu dentre vós para que por meio da minha boca os gentios ouvissem a palavra do evangelho e cressem.'” Aqui, o decreto da salvação dos gentios é quase explícito, pois Pedro explica que Deus o escolheu para levar o evangelho aos gentios, para que eles cressem. A salvação sempre vem por meio da pregação da Palavra: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.” Pedro está afirmando que Deus o designou para ser o instrumento que levaria a Palavra aos gentios, a fim de que eles cressem.

 

No verso 8, Pedro diz: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo assim como fez a nós.” Isso mostra que havia evidências claras de salvação entre os gentios: o Espírito Santo. Pedro diz que Deus deu o Espírito Santo aos gentios da mesma forma que o deu aos judeus, indicando que eles estavam realmente salvos.

 

Pedro continua no verso 9: “E não pôs diferença entre nós e eles, purificando seus corações pela fé.” Aqui, Pedro destaca que o Espírito Santo opera da mesma forma na salvação de judeus e gentios, purificando os corações pela fé. Tudo o que aconteceu com os judeus que creram também aconteceu com os gentios. Pedro afirma: “Não há diferença entre nós e eles. Recebemos o mesmo Espírito e a mesma fé.”

 

No verso 10, Pedro questiona: “Agora, por que tentais a Deus, impondo um jugo sobre a cerviz dos discípulos, que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas cremos que pela graça do Senhor Jesus Cristo seremos salvos, como eles também.” Pedro demonstra que os gentios receberam o Espírito Santo e a fé purificadora para crer em Jesus, e que a salvação dos gentios já estava nos planos de Deus. Deus havia designado Pedro para pregar as boas novas a eles.

 

Este concílio em Jerusalém não era apenas uma disputa teológica, mas uma afirmação central da obra redentora de Jesus Cristo. Ele é quem quebra as barreiras entre judeus e gentios. Somente por meio da morte e ressurreição de Jesus todos os povos, incluindo os gentios, podem ser reconciliados com Deus. Cristo é a reconciliação; Seu sangue precioso purifica os pecados tanto de judeus quanto de gentios. Esse é o centro da pregação de Pedro: os gentios foram salvos sem a Lei de Moisés, porque Cristo os salvou.

 

Tudo isso já estava decretado desde a eternidade. Deus já havia determinado a salvação dos gentios e sabia, por Sua onisciência, que eles seriam salvos. Irmãos, houve um dia em que cada um de nós creu no Senhor Jesus. Antes de nossa conversão, talvez nunca imaginássemos que um dia seríamos crentes. Um ano antes de nossa conversão, talvez nunca pensássemos que serviríamos a Jesus. Para nós, a conversão foi uma surpresa, assim como para muitos à nossa volta.

 

Lembro de um dia, enquanto minha mãe fazia compras, eu conversava com um antigo colega de escola. Ele comentou: “Como você está, pastor? De vez em quando, converso com os amigos do passado, e muitos não acreditam que você se tornou pastor. Eles brincam, dizendo que ainda esperam a sua recaída para que você volte para nossa antiga turma.” Para muitos, nossa conversão foi uma surpresa, mas não para Deus. Antes mesmo de existirmos, Ele sabia que creríamos em Jesus, porque decretou nossa salvação.

 

Você é um gentio, e deve se ver nessa passagem. Embora o texto tenha um contexto temporal, referindo-se aos gentios daquela época, o princípio aqui é universal. Em todo lugar do mundo, a salvação determinada por Deus na eternidade inclui os gentios, de todas as nações, e isso nos inclui.

 

Depois que Pedro fala, Tiago se levanta e toma a palavra. Olhe para os versos 13 e 14: “E, após terem feito silêncio, Tiago respondeu, dizendo: ‘Homens e irmãos, ouvi-me. Simão Pedro declarou como Deus, primeiro, visitou os gentios para tomar deles um povo para o Seu nome.'” Tiago vê o cumprimento pleno da salvação dos gentios nas profecias antigas. Ele compreende que Deus já havia determinado isso há muito tempo. Citando o profeta Amós, Tiago diz no verso 11: “Naquele dia levantarei o tabernáculo caído de Davi, e restaurarei suas ruínas, e o edificarei como nos dias antigos, para que possuam o restante de Edom e todos os gentios que são chamados pelo Meu nome, diz o Senhor que faz essas coisas.”

 

É interessante que Tiago, ao citar Amós 9:11-12, destaca que a salvação dos gentios não era uma novidade, mas algo predito pelos profetas. Deus já havia anunciado que salvaria os pagãos. Edom e os pagãos mencionados representam os gentios. Eles seriam chamados pelo nome do Senhor e viriam a Cristo. Mais uma vez, irmãos, devemos nos ver aqui. Nós, gentios, somos parte dessa promessa de Deus, que decretou desde a eternidade nossa salvação, sendo aplicada a nós, porque de fato e de verdade o Senhor nos alcançou, o Senhor nos chamou, e nós pertencemos a Ele, irmãos. Os profetas já anunciavam a salvação dos gentios pela graça, através da fé em Cristo. Em Amós 9, verso 11, Deus promete levantar o tabernáculo caído de Davi. Veja aí na sua Bíblia: Ele fala em restaurar o reino davídico, que naquela altura estava em decadência. Quando Amós disse essas coisas, ele falou na época dos reis de Israel, naquele período que estamos estudando no livro de Reis. O reino de Israel, especialmente o reino de Judá, estava caído, rachado, dividido, esfacelado. Mas Amós declara que haverá um dia em que Deus restaurará o tabernáculo caído, a tenda caída de Davi. A palavra “tabernáculo” ou “tenda de Davi” é uma referência simbólica ao reinado de Davi, que estava enfraquecido, mas seria restaurado, segundo a palavra de Deus, sobre um povo unido e renovado.

 

Essa restauração não é meramente política; não se trata de um reino físico de Israel sendo reconstruído. Irmãos, é algo espiritual, envolvendo a união de todas as nações sob o reino de Deus, não apenas Israel, mas todo o Israel de Deus, todas as nações a quem foi determinado pelo Senhor. Existe um Israel étnico, que está no território de Israel, mas há também uma semente espiritual de Abraão, que é o Israel de Deus. Estes são todos os que creem no Senhor Jesus, incluindo tanto o Israel étnico que crê em Jesus quanto todos os pagãos — ou melhor, os gentios — espalhados pela face da terra que também creem no Senhor Jesus.

 

Esse tabernáculo reconstruído de Davi representa a promessa maravilhosa de restauração e salvação abrangente. Quando Amós profetiza sobre a restauração do tabernáculo caído, ele está apontando para Cristo, para a vinda de Jesus ao mundo, para o nascimento do Senhor Jesus, o descendente de Davi, a raiz de Davi, como diz a Escritura Sagrada. É em Jesus, meus irmãos, que há salvação. Em Cristo, Deus não apenas restaura o reino de Israel, mas expande esse reino, trazendo todas as nações, incluindo os gentios, para o Seu reino.

 

Em terceiro lugar, ao fazer menção da salvação dos gentios no verso 12, Tiago lembra-se das promessas que Deus fez a Abraão. Quero que vocês entendam por que essa é uma narrativa reversa. Ela começa com a discussão em Jerusalém entre os apóstolos. Pedro diz que Deus o chamou para pregar aos gentios para que cressem e fossem salvos. Em seguida, Tiago se levanta e volta no tempo, aos profetas do Antigo Testamento, aos dias de Amós, muitos séculos antes, e diz que Amós profetizou que Deus restauraria o tabernáculo caído de Davi.

 

Tiago fala sobre Cristo, o Reino de Davi, que viria por meio da semente de Davi, o Salvador, o Leão da Tribo de Judá. E Amós, que havia dito essas coisas, estava, por sua vez, olhando mais para trás, para o pacto que Deus fez com Abraão. No pacto abraâmico, Deus fez grandes promessas a Abraão, incluindo a promessa de fazer dele uma grande nação. Mas, mais importante, Deus disse a Abraão que todas as famílias da terra seriam abençoadas por meio dele, através de sua descendência. Essa promessa é a base para entender que a salvação dos gentios está incluída no plano de salvação de Deus.

 

Os gentios não foram incluídos depois como uma espécie de plano B, como alguns dispensacionalistas sugerem. Eles não são uma tentativa de Deus, por não ter sido aceito por Israel, de salvar outro povo. Não, irmãos. Desde o princípio, desde as promessas antigas, Deus já havia dito que salvaria pessoas de todas as nações, não apenas Israel, mas gentios de todas as partes. Isso faz parte das promessas feitas a Abraão. Essa promessa é vista como a base para entender a inclusão dos gentios no plano de Deus de salvação.

 

O pacto com Abraão não se limitava apenas a Israel, embora Abraão fosse o pai de Israel. O pacto abrangia todo o Israel que sairia de Abraão. Lembrem-se de que Paulo diz: “Nem todo israelita é verdadeiramente israelita, mas aquele que crê.” Isso é o verdadeiro Israel, a salvação, o pacto abraâmico para salvar pessoas de todas as nações e do mundo inteiro. As famílias da terra seriam abençoadas por meio de Abraão. O pacto abraâmico é uma bênção universal para todas as nações da terra.

 

Quando Tiago diz, nos versos 16 a 18 de Atos, que “todas as Suas obras são conhecidas a Deus desde o início do mundo,” ele se refere a esse conhecimento divino, que chamamos de onisciência de Deus. Onisciência, porque Deus havia decretado a salvação dos gentios. Ele já sabia, na Sua onisciência, que os gentios seriam salvos, pois Ele mesmo decretou a salvação deles. Deus conhecia a salvação dos gentios porque prometeu a Abraão, no pacto, que faria dele uma grande nação e que todas as nações da terra seriam benditas em seu nome. Ele olhava para os gentios quando fez a promessa a Abraão de salvar muitas nações.

 

Estamos incluídos nessa promessa. Os gentios de todas as eras fazem parte da promessa a Abraão. Quando Deus fez essa promessa a Abraão, Ele tinha você em mente. Acredite, Deus não salvou um povo aleatoriamente; Ele não salvou uma multidão desconhecida. Deus conhece cada um dos Seus eleitos profundamente e detalhadamente. Você, eleito de Deus, gentio, estava na mente de Deus quando Ele prometeu a Abraão que daria um povo a ele, que salvaria pessoas de todas as nações. Você estava no pensamento de Deus, na escolha divina. Não era uma massa sem faces e sem nomes, mas cada indivíduo, cada pessoa.

 

Se Deus conhece, como diz a Escritura, pelo nome, cada uma das estrelas do céu, quanto mais conhecerá cada um de nós, que fomos criados à Sua imagem e semelhança. Ele nos conhece muito bem. Não era estranho ver os gentios sendo salvos, como pensavam os judaizantes. Era exatamente o esperado. Pedro concorda com isso, e depois Tiago, o líder da igreja de Jerusalém, também concorda. Ambos os apóstolos veem a salvação dos gentios como o cumprimento da bênção do pacto abraâmico.

 

Pedro sabia que o pacto com Abraão seria cumprido com a salvação dos gentios. Tiago também afirma isso, dizendo que os profetas esperavam por esse momento. Tudo gira em torno do cumprimento das promessas de Deus no pacto abraâmico. A salvação dos gentios, portanto, não era novidade para aqueles que prestavam atenção na Palavra revelada de Deus, como Pedro, Tiago, Paulo e muitos outros. Porque estava tudo dito lá, desde quando Deus prometeu a Abraão que todas as nações da terra seriam abençoadas por meio de sua descendência. Essa promessa tinha em vista Jesus Cristo. Por meio Dele, a promessa é cumprida. Igreja, a salvação dos gentios é o cumprimento do decreto de Deus.

 

Deus veio salvar, não apenas tornar a salvação possível, mas salvar de fato, por meio de Cristo. Essa é a bênção universal prometida. Deus, em Sua onisciência, viu a obra de Seu Filho amado desde a eternidade, salvando os gentios, derramando Seu sangue por eles, não apenas pelo Israel étnico, mas também pelos gentios. Deus viu, desde sempre, a salvação deles em Sua onisciência e em Seu decreto.

 

Quando nossa confissão diz que Deus conhece tudo o que venha ou possa ocorrer sob todas as circunstâncias imagináveis, e cita Atos 15:16 como referência, ela tem o objetivo de exaltar a onisciência de Deus em Seu decreto, especificamente aqui relacionado à salvação dos gentios. Ah, meus irmãos, isso é maravilhoso! Deus sabe todos os caminhos, todas as coisas. Não é à toa que, certa vez, o pregador Spurgeon disse que o número dos salvos ou dos eleitos de Deus não pode aumentar nem diminuir; ele é o mesmo sempre. Deus sabe exatamente o número dos salvos, quem são, e quando serão salvos. Ele conhece cada detalhe disso, irmãos. A onisciência de Deus é algo incrível, especialmente quando relacionamos com Seu decreto eterno.

 

Fico muito impressionado, meus irmãos, ao ver que, lá atrás, no século XVII, nossos pais batistas particulares, ao escreverem esse documento, relacionaram textos como esse para exaltar a Deus em Seu decreto eterno e em Sua onisciência maravilhosa. Ele sabe tudo sobre nós, não só a nossa salvação, mas absolutamente tudo. Tudo o que você possa imaginar, até o que você não sabe sobre si mesmo, Deus sabe, em Sua onisciência, cada aspecto disso. Exalte a Deus, igreja, por Sua grande onisciência, esse atributo tão maravilhoso de saber todas as coisas.

 

Quero terminar este sermão lembrando que, hoje, a grande maioria das pessoas entendidas no mercado comum do mundo diz que o maior tesouro, o maior poder que existe, é o conhecimento. “Quem sabe tem poder. Conhecimento é poder.” Fico pensando nessas palavras e naquele que sabe todas as coisas. Quão grande é o Seu poder! Deus sabe tudo, absolutamente tudo. Ele é onisciente. Amém.

 

Fiquem de pé, meus irmãos.

 

Senhor nosso Deus, louvado seja o Teu nome altíssimo. Nós rendemos louvores a Ti nesta noite, porque só o Senhor é digno de ser adorado. Bendito seja o Teu nome. Nós nos alegramos, Senhor Deus, com o Teu Espírito Santo, com a palavra, e com o que aprendemos esta noite. Alegramo-nos com o conhecimento que o Senhor nos revelou, mas ainda mais em saber que as Tuas promessas de salvação são todas cumpridas cabalmente. O Senhor conhece cada homem e mulher, salvo e eleito, e no tempo certo os chamará para se arrependerem de seus pecados e crerem em Jesus. De maneira tão maravilhosa, Senhor, este conhecimento nos é revelado na Tua palavra. O Senhor sabe todas as coisas, e nós podemos e precisamos descansar em Ti, Senhor, em Cristo Jesus, o Salvador, que foi enviado ao mundo para que as promessas de salvação se cumprissem. A raiz de Davi, Cristo Jesus, nosso Salvador. Deus, em nome Dele, abençoa todo o Teu povo, Pai, perdoando os seus pecados e concedendo graça, alegria, e perseverança em Cristo Jesus e na fé. Nós Te suplicamos isso, Senhor, totalmente confiados na Tua palavra, na promessa, e em Jesus, Teu Filho. Amém.