Sermão em Romanos 2:14-16, sobre a realidade da lei de Deus no coração do homem. Baseado na CFB 1689, capítulo 4, Sobre a Criação. Pregado em 13/10/2024.
Peço a todos os irmãos que ouçam com atenção a leitura da Bíblia e também orem para que o Espírito Santo de Deus fale ao coração de vocês, transmitindo toda a verdade que está aqui revelada diante de nós. Diz assim o verso 14-16, de Romanos 2:
“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas contidas na lei, não tendo eles lei, são lei para si mesmos. Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando também a sua consciência e os seus pensamentos, ou acusando-os ou defendendo-os, no dia em que Deus há de julgar por meio de Jesus Cristo os segredos dos homens, conforme o meu evangelho.”
Vamos orar, irmãos. Curvem a cabeça. Oremos ao Senhor.
Bendito Deus, nosso Pai, nos achegamos à tua presença no nome do Senhor Jesus Cristo, teu Filho e nosso Salvador maravilhoso. Senhor Deus, conduz-nos nesta noite na pregação da tua palavra. Alimenta, Senhor, todo o teu rebanho, toda a tua igreja comprada com o sangue precioso de Jesus na cruz do Calvário. Senhor Deus, transmite ao coração e à alma de cada pessoa que está aqui esta noite, Pai, as verdades maravilhosas reveladas no evangelho. Que venhamos a crescer no conhecimento de Cristo, das doutrinas e das coisas reveladas, tudo para o louvor da tua glória.
Senhor, bendito Deus, faz-nos enxergar, nesta noite, a nós mesmos, os nossos próprios pecados e culpas, e que o nosso olhar também esteja voltado para Cristo, o nosso Redentor. É o que nós te pedimos, Senhor Deus, em nome de Jesus. Amém.
Irmãos, a história bíblica, logo no começo, no capítulo 3 do livro de Gênesis, fala sobre o pecado e a queda do homem. Naquela cena de Gênesis 3, Adão e Eva estão no paraíso de Deus, no jardim, o lugar mais perfeito de toda a terra. Às vezes, as pessoas acham que o paraíso de Deus era toda a terra, mas a Bíblia diz que não. A Bíblia diz que Deus plantou um jardim em uma parte determinada do planeta, e ali o Senhor colocou o primeiro casal, Adão e Eva, que viviam no jardim. Percebam que, depois do pecado, eles são expulsos do jardim, então não era toda a terra que era um paraíso. O paraíso de Deus era o lugar onde o primeiro casal vivia, Adão e Eva.
Naqueles primeiros dias, o Senhor Deus, ao formar o homem do pó da terra, deu a ele instruções acerca da obediência. O Senhor Deus havia dito que o homem precisava obedecer à sua palavra e ser fiel a tudo o que o Senhor havia ordenado. Deus deu várias funções a Adão, e Adão as cumpriu. Deus disse a Adão que nomeasse os animais, e ele deu nome a todos eles. Deus disse a Adão que cultivasse a terra, o jardim, e Adão fazia exatamente isso. Assim foi a vida do homem até que Adão e Eva decidiram desobedecer a Deus e pecar contra o Senhor.
O que essa história nos mostra, irmãos, além de revelar o primeiro pecado da humanidade, quando Eva desobedeceu a Deus e comeu do fruto da árvore que o Senhor havia proibido? Eva comeu do fruto e deu a seu marido, Adão, que também comeu. Ao fazer isso, eles quebraram o mandamento, a lei de Deus, e agora são pecadores diante do Senhor. Eles não morreram fisicamente, mas morreram espiritualmente, ficando mortos em seus delitos e pecados. Assim começa a história da humanidade, a história do pecado sobre a terra e sobre os homens.
Há um detalhe que às vezes esquecemos de perceber: desde aquele dia, o homem sempre arruma desculpas para os seus pecados. Irmãos, raramente o homem admite: “Eu pequei, sou culpado, fiz o que é mau e que desagrada a Deus. Eu mereço a sentença de morte, o juízo da parte de Deus.” Geralmente, o homem diz: “Senhor, eu pequei, mas…”, e segue com um monte de desculpas e justificativas. Essa é a sua realidade, e a minha também. Desde o primeiro pecado, o homem tenta se justificar. Quando Deus foi até Adão após o pecado e perguntou: “Adão, onde estás?”, Adão respondeu: “Senhor, eu estava nu, tive vergonha e me escondi.” Deus perguntou: “Comeste do fruto da árvore que eu te ordenei que não tocasses?”, e Adão justificou: “Senhor, a mulher que me deste me deu o fruto, e eu comi.”
É verdade que Eva deu a Adão o fruto para comer, mas também é verdade que Deus havia dito a Adão que não o comesse. Não há justificativa plausível para o pecado de Adão, nem para qualquer outro pecado. Talvez você até pense: “Tudo bem, pastor, Deus falou com Adão. Adão sabia que não podia comer do fruto, mesmo que ele tenha tentado colocar um pouco da culpa sobre Eva.” Mesmo que você diga isso e tente justificar os seus próprios pecados como Adão, argumentando que não sabia que era pecado ou que nunca ouviu Deus dizer: “Não faça isso”, saiba, irmãos, que o apóstolo Paulo nos ensina em Romanos 2 e nos três primeiros capítulos dessa carta que não há homem inocente diante de Deus.
Paulo afirma que todos os homens são culpados e injustificáveis. A alma que pecar contra Deus não tem justificativa plausível. Paulo diz que todos merecem a ira e a justiça de Deus. Isso não é drástico, nem devemos achar que Deus é ruim por trazer a sua ira sobre o pecador. Leia atentamente Romanos, nos capítulos 1, 2 e 3, e você verá que a argumentação de Paulo é mostrar que não há desculpas. Paulo diz no capítulo 1 que Deus se revela dos céus através das obras que Ele criou, tornando os homens indesculpáveis em relação à existência de Deus.
Diga isso ao seu amigo ateu ou ao professor da universidade. A universidade é um dos principais locais de formação de ateus. Não estou falando contra a universidade e os seus méritos, mas é preciso identificar também os problemas, como o combate a Deus. As universidades ensinam algo contrário às Escrituras. Qualquer estudante de biologia ou história sabe disso. Eu estudei história na universidade, então sei do que estou falando. Não é apenas na universidade onde estudei; essa é uma realidade em todo lugar. Em Romanos 1, Paulo diz que o homem é injustificável se negar a existência de Deus.
Deus. Em Romanos 2, o apóstolo Paulo está falando sobre os gentios. Os gentios são aqueles homens que não faziam parte do povo de Israel. Lembrem-se: na linguagem bíblica, existem os judeus e os gentios. Os judeus são o povo de Abraão, os filhos de Abraão, aquele povo que saiu das entranhas de Abraão e se tornou, mais tarde, Israel, as 12 tribos de Israel, que se espalharam naquela região. Todos os outros povos eram chamados pelos judeus de gentios. Então, os gentios eram, por exemplo, os americanos, os alemães, e hoje nós, brasileiros. Naquela época, eram as nações que rodeavam o povo israelita: os filisteus, os amorreus, e mais tarde os romanos, os gregos; todos esses povos eram gentios, conforme chamados na Bíblia.
Paulo começa a dizer que os gentios também não têm desculpa. Um dos argumentos era o seguinte, e talvez seja o seu argumento: o judeu é indesculpável porque recebeu os oráculos de Deus. O judeu recebeu a Bíblia, a revelação; Deus falou aos profetas, e os profetas comunicaram ao povo, aos judeus, a Israel, tudo o que Deus disse. Portanto, nenhum judeu tem justificativa. Deus entregou os 10 mandamentos a Moisés no monte, e Moisés trouxe as tábuas da lei com os 10 mandamentos e os entregou ao povo de Israel. Então, eles são indesculpáveis se pecarem, pois têm a lei de Deus, sabem, receberam a revelação, os profetas falaram com eles. Não há justificativa nenhuma para pecar contra Deus.
Mas os gentios não receberam os oráculos de Deus. Deus não falou com os gentios. Deus não enviou profetas para Babilônia para falar com aquele povo e pedir que se arrependessem. Deus não mandou profetas para a Síria ou outras partes do mundo antigo. Os oráculos de Deus foram entregues a Israel; os profetas eram judeus, israelitas, e a revelação era para eles. Então, o povo poderia dizer: “Já que a revelação era para eles, não podemos ser julgados por essa lei de Deus, porque não sabíamos. E Deus não será injusto ao nos punir por algo que não sabíamos. Eu, por exemplo, não sei que assassinar é pecado para Deus. Nunca recebi uma tábua dizendo: ‘Não matarás’. Quem recebeu isso foi o povo de Israel. Eles sabem que, se matarem, estão pecando contra Deus, mas nós não. Essa lei não veio para nós; é para o povo judeu. Se pecarmos, quebrando esse mandamento que Deus deu aos judeus, é porque não sabíamos que era pecado.”
Assim, as pessoas poderiam justificar, ou os homens da antiguidade poderiam justificar, dizendo que pecaram sem saber, quebraram a lei de Deus sem saber. Os gentios estavam nessa situação; eles não receberam a lei. Eles não sabiam o que Deus ordenava nem o que Deus proibia, o que era certo ou errado. Essa era a perspectiva deles. Talvez seja a sua, e talvez você diga, ao se desculpar de seus pecados: “Eu não sabia que isso era pecado. Se eu soubesse, não teria feito isso ou aquilo.” Ou: “Ah, eu não sabia que matar era pecado. Se eu soubesse, não mataria ninguém.” Talvez um bandido, um assaltante, um ladrão ou um assassino diga isso. Mas será que isso é uma justificativa?
No capítulo 2, Paulo argumenta contra isso. Ele diz que as pessoas são indesculpáveis. Os gentios, que não receberam a lei como Israel, são indesculpáveis; pecam contra Deus e serão punidos pelo Senhor pelos seus pecados. Olhem agora para o texto, por favor. Paulo diz no verso 14: “Porque, quando os gentios, que não têm lei…” Ele repete essa expressão logo em seguida: “Os gentios que não têm lei fazem naturalmente as coisas contidas na lei, não tendo eles lei.” Vocês veem que Paulo, duas vezes, diz que os gentios não têm lei. Ele lembra que os gentios não receberam a lei; não foi dada a eles uma lei de Deus como foi dada aos judeus, as leis de Moisés.
Paulo mostra que, de fato, os gentios não receberam a lei que os judeus receberam. Porém, ele diz: “Quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que estão na lei, não tendo eles lei, são lei para si mesmos.” Guardem essa palavra: “naturalmente”. Paulo está dizendo o seguinte: quando um gentio, que não recebeu os 10 mandamentos, olha para uma pessoa e pensa: “Eu não posso matar essa pessoa porque é errado. Não vou fazer isso, não vou cometer adultério, não vou roubar porque é errado”, ele sabe que é errado. Então Paulo diz: “Quando ele age naturalmente de acordo com a lei, ele é lei para si mesmo.” Por quê? Veja o verso 15: “Eles mostram a obra da lei escrita em seus corações.”
A primeira razão que torna o homem injustificado por seus pecados é que Deus criou o homem com a sua lei no coração. Prestem atenção, irmãos: Deus criou o homem como uma criatura moral. Isso significa que a lei moral de Deus foi plantada em seu coração na criação. Você nasceu com a lei de Deus no seu coração. Por isso, mesmo que os gentios, como nós, não tenham recebido os 10 mandamentos nem jamais tenham lido a lei de Deus, a nossa consciência nos acusa. Sabemos que assassinar é pecado, roubar é errado, agredir alguém ou dar um mau testemunho, mentir, tudo isso é errado. Por que sabemos disso? Porque Deus nos criou com essa lei em nosso coração. Toda a criação humana foi feita com essa lei.
Paulo está dizendo que os gentios não têm desculpa para os seus pecados. “Ah, mas eu não sabia.” Você sabia, porque a lei de Deus está no seu coração. Você é indesculpável diante de Deus. Não pode chegar diante Dele e dizer: “Senhor, me perdoe porque eu não sabia.” A lei está no seu coração. Deus pode perdoar os seus pecados, mas é um fato que a lei está em você, dizendo o que é certo e o que é errado.
Quando Calvino ensinou sobre essa passagem de Romanos, ele escreveu que, quando Deus criou o homem, plantou nele essa lei. Calvino chamou isso de “semen religionis” (a semente da religião), a semente da lei plantada no coração humano. Se você perguntar a uma pessoa sobre a lei moral de Deus e pedir que cite os 10 mandamentos, talvez ela não consiga. Pode se lembrar de um ou outro mandamento que ouviu em algum lugar, mas talvez não consiga listar todos os 10 mandamentos integralmente. Isso não significa que ela não tenha a lei. Mesmo sem conhecer detalhadamente a letra da lei, esta lei está em seu coração, de maneira que você sabe o que é certo e o que é errado. Por isso, no passo seguinte, o apóstolo Paulo diz aqui: veja, a consciência do homem testifica. Ou seja, além de a lei estar no seu coração, a própria consciência humana testemunha que ele é culpado quando peca. É por isso que, quando você comete algo errado, a sua consciência dói, ou como alguns dizem: “Minha consciência pesou.” O que é isso, irmãos? Isso é exatamente o que o apóstolo Paulo está dizendo que acontece: a consciência diz que você é culpado, que você pecou.
Sabe quando, por exemplo, você trata alguém mal, quando é grosseiro com alguém sem motivo? Alguém está passando, você está com um problema e responde de forma ríspida, rude, manda a pessoa para longe, tratando-a de maneira injusta. Quando você chega em casa, com a cabeça mais fria, começa a pensar no que aconteceu, e a consciência começa a dizer que você foi grosseiro, que agiu mal, que foi perverso e que não deveria ter feito isso. Isso é porque a lei de Deus está no seu coração, e a consciência testifica que você pecou, que quebrou a lei.
Quando um filho desrespeita os seus pais, é rude no tratamento ou fala palavras torpes contra eles, à noite sua consciência também dói. Meus filhos, algumas vezes, vieram me pedir perdão por coisas que disseram ou atitudes que tomaram. Às vezes, algo acontece ao meio-dia, à tarde, e depois de algum tempo, um filho ou filha vem e diz: “Pai, me perdoa, eu falei aquilo, desculpa.” O que é isso? A consciência acusando o pecado. A consciência acusa o pecado, e ela só faz isso porque existe uma lei escrita no nosso coração, dizendo o que é pecado.
Por outro lado, quando você faz a coisa certa, pode dizer que está com a consciência limpa, tranquila. A consciência não o acusa de nada, porque você obedeceu, fez o que devia ser feito, agiu conforme a lei de Deus. Os gentios, que não receberam a lei escrita, às vezes agiam conforme a lei de Deus e, outras vezes, quebravam essa lei. A lei está no coração, e a consciência diz se você é culpado ou inocente, se agiu bem ou mal, porque a lei de Deus está no coração.
Portanto, desculpar-se dos pecados alegando ignorância, como se não soubesse, não passa. Paulo diz no final do verso 15 e no verso 16: “Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando também a sua consciência e os seus pensamentos, ou acusando-os ou defendendo-os, no dia em que Deus há de julgar, por meio de Jesus Cristo, os segredos dos homens, conforme o meu evangelho.” Paulo está dizendo que haverá um dia em que todas estas coisas estarão patentes, descobertas aos olhos de Deus, e não haverá desculpas. Quando Deus julgar os homens pelas suas obras, você não poderá dizer: “Mas, Senhor, que culpa tenho eu se eu não sabia?” Deus dirá: “Está escrito no seu coração. Você sabia. Você não deu ouvidos, não ouviu sua consciência.”
Paulo afirma no capítulo 2 que todos os homens são culpados de seus pecados, sem qualquer justificativa. Todos são pecadores, sabem o que é pecado, conhecem a lei de Deus em seus corações, e suas consciências os acusam. Eles sabem quando transgridem a lei de Deus, e não há desculpa.
No capítulo 3, que não vamos ler hoje, mas quero apenas contextualizar, Paulo se volta para os judeus. Eles têm algo diferente dos gentios, pois foram mais privilegiados. Não apenas receberam a lei de Deus escrita no coração, como todos os homens, mas também tiveram a consciência que os acusava e receberam os oráculos de Deus pela boca dos profetas, pela pena dos profetas que escreveram e pela lei de Moisés. Eles tinham a lei no coração e no papel, escrita diante deles. Podiam consultar a lei, olhar e ver exatamente o que ela dizia.
Mesmo que dissessem: “Meu coração é obscuro, está nublado pelo pecado que habita em mim”, isso seria verdade. Eles não conseguiam ver a lei de Deus claramente, por causa do pecado que habita neles. A culpa, porém, é nossa. Nós estragamos a nós mesmos com o nosso pecado. Esse é o ponto. Mas os judeus tinham a lei escrita também, então podiam consultar a lei e verificar se o coração estava na direção certa. Eles olhavam para a lei de Deus e, ainda assim, pecavam contra Ele.
Foram os judeus que crucificaram nosso Senhor Jesus Cristo. Eles gritaram no meio da multidão: “Crucifica-o, crucifica-o!” Foram eles que receberam os oráculos de Deus, todas as profecias sobre o Messias que havia de vir, o Filho de Deus. Eles não reconheceram Jesus, embora tivessem as profecias diante de si, e o mataram. Pecaram contra Deus.
Quando Jesus conta a parábola do bom samaritano, Ele fala de um judeu que estava voltando da celebração cultual em Jerusalém. O sacerdote, que também era judeu, viu um conterrâneo caído no chão, agredido por salteadores. O sacerdote olhou e passou de largo. Um levita fez a mesma coisa. Mas um samaritano, que era inimigo mortal dos judeus, foi quem ajudou o homem ferido. O judeu odiava os samaritanos, mas o samaritano é quem mostrou bondade.
Ora, irmãos, se essas coisas, como fazer o bem e amar, estavam na lei, e os judeus tinham a lei escrita, e a consciência os acusava, mas ainda assim não a obedeciam, o que Paulo está nos ensinando? Em Romanos 3, ele conclui dizendo: “Portanto, todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Não há um justo, nem um sequer. Não há quem faça o bem. Veneno de víboras está em seus lábios, e seus pensamentos são de morte, miséria, pecado e destruição.” Assim é o homem, mesmo com a lei escrita no coração.
Por que você dá desculpas? Por que tenta justificar seus pecados? Por que sempre tenta encontrar um álibi para seus próprios erros, seus próprios pecados? Por que você precisa dizer: “Mas…”? Quando um pai chama o filho e diz: “Olha, filho, você fez isso”, o filho responde: “Ah, pai, eu fiz isso, é verdade, pai, me desculpa, mas…” e começam as justificativas, não é? Você também faz isso. Admite, mas se justifica. Diante de Deus, você diz: “Eu pequei, mas a mulher que tu me deste me fez pecar.” Adão se justificou. Deus foi até Eva, e ela disse: “Senhor, eu pequei, mas a serpente…” Ela jogou a culpa na serpente, como se não tivesse responsabilidade em desobedecer a Deus. Assim somos nós.
Então, irmãos, por que nos justificamos por nossos pecados se a Bíblia revela claramente que somos injustificáveis? Se a Bíblia diz, com todas as letras, que a lei está no seu coração, que você conhece, sabe o que é pecado, sabe o que é certo e o que é errado. Paulo diz: “O bem que eu quero fazer, que eu sei que devo fazer, esse não faço; mas o mal que não quero fazer, que eu sei que não devo fazer, esse faço.” Paulo está afirmando que ele sabe o que é certo e o que é errado, mas ainda assim faz o que é errado. O apóstolo Paulo, um judeu, está dizendo isso.
Por que há tanta justificativa? Tudo isso é fruto da nossa natureza caída. As desculpas que damos são um reflexo do pecado que habita em nós. As justificativas que apresentamos são também pecado. Toda vez que você diz: “Eu admito isso, mas…” e se justifica, você peca novamente, porque é injustificável. Você deveria simplesmente dizer: “Eu pequei. Eu mereço a morte, a condenação, a punição. Eu transgredi a lei de Deus. Se Deus me matar, Ele fará justiça perfeita.” Mas, em vez disso, nos justificamos contra Deus e contra o próximo.
Você vai até uma amiga ou um colega de trabalho e diz: “Olha, quero te pedir perdão. Fui grosso com você, dei um mau testemunho a seu respeito, mas você fez por merecer.” E então começa a justificar seu pecado. Isso deve mostrar que você é uma criatura caída em pecado. Não só o seu pecado revela isso, mas também sua tentativa de justificar o pecado. Essas atitudes dizem: “Eu sou mesmo pecador. Eu não admito. Tento escapar. Tento me livrar, de alguma forma, justificar o que é injustificável.”
Ah, meus irmãos, esta é uma das razões pelas quais Deus se fez carne e veio habitar neste mundo: para ir à cruz do Calvário e morrer em nosso lugar, por causa das nossas justificativas. Mesmo tendo a lei em nosso coração, ainda tentamos escapar e justificar nossas maldades e ofensas. Não havia o que fazer conosco. Nós não somos capazes nem mesmo de admitir os nossos pecados.
Na parábola de Jesus sobre o fariseu e o cobrador de impostos, o fariseu ora de peito aberto para o céu, autojustificado, dizendo: “Senhor, graças te dou porque não sou como aquele publicano.” Ele se justifica: “Eu sou religioso, vou à igreja, participo do culto, leio a Bíblia.” Ele está cheio de justificativas. Mas a atitude do publicano é a correta: ele nem levanta a cabeça para o céu e diz: “Sou pecador, sou pecador, sou pecador. Não posso nem levantar meus olhos, porque sou pecador. Não há desculpa. Não há perdão para mim mesmo. Não há justificativa para o meu pecado. Eu errei, pequei, mereço a morte, a condenação. Pequei contra Deus, transgredi os seus mandamentos, burlei a sua lei.” Essa é a atitude que Cristo diz que o homem deve ter: não se justificar, mas simplesmente admitir: “Mereço a punição.”
A maravilha do Evangelho, irmãos, é que Deus enviou Jesus Cristo, seu Filho, para nos livrar de nossos pecados, inclusive das nossas justificativas pecaminosas. Jesus Cristo veio ao mundo para pagar o preço de todos os nossos pecados: mentira, roubo, qualquer pecado que você possa imaginar. Não importa o tamanho da sua lista de pecados. Talvez você pense: “Pastor, eu tenho pecados demais.” Jesus Cristo veio morrer e pagar o preço por cada um dos seus pecados. Todos os seus pecados estão perdoados. O sangue precioso que verteu do madeiro da cruz é suficiente para pagar, redimir, limpar e torná-lo mais alvo que a neve. É o sangue do Filho de Deus bendito, daquele que se fez carne, do precioso Jesus Cristo, nosso Redentor maravilhoso.
Irmãos, Ele pagou o preço pelos nossos pecados, pelas nossas desculpas pecaminosas, pelas nossas justificativas injustificáveis. Cristo veio e padeceu por nós, limpando-nos de nossas iniquidades e manchas de pecado. Essa é a única maneira de escaparmos de nossos pecados: estando em Cristo Jesus, nosso Senhor. Não confie em suas justificativas. Às vezes, você consegue justificar seu pecado para alguém. Você tem uma boa lábia, admite o erro, mas continua se justificando, e a pessoa que ouve até pode dizer: “É, tudo bem, você tem razão, sua justificativa é boa.” Mas essa justificativa não funciona com Cristo.
Se você chegar ao céu, ou melhor, diante do trono de Cristo no dia do juízo — porque a Bíblia diz que naquele dia Ele separará os bodes das ovelhas, e às ovelhas Ele dirá: “Vinde a mim, benditos de meu Pai”, mas aos bodes o Senhor Jesus dirá: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno” — se você chegar diante de Jesus com suas justificativas, sem o sangue de Cristo, será condenado. A Cristo ninguém engana. Nossas justificativas não são suficientes para limpar nossa culpa. Se Jesus, o Filho de Deus, não limpar nossos pecados com seu sangue, seu sacrifício, sua morte, nossas justificativas nunca poderão fazer isso.
Lembrem-se disso, irmãos. Pelo amor de Deus, lembrem-se de que vocês têm uma lei escrita por Deus em seus corações. Lembrem-se de que são injustificáveis. Lembrem-se de que sua consciência os acusa, dizendo que pecaram. Lembrem-se de que não há desculpa diante de Deus. Vocês devem recorrer apenas a Cristo. A única verdadeira justificativa que temos é a obra de Cristo. Se, por acaso, Satanás aparecer naquele dia, dizendo: “Ele é pecador, ele mentiu, ninguém viu, mas eu vi”, você terá uma justificativa: Cristo.
Chame o Filho de Deus ao seu socorro. Cristo pagou o preço da suas mentiras. Ele pagou o preço dos pecados que eu cometi. Na verdade, essa é a única justificativa que você tem: Cristo, o Senhor, não as suas próprias, mas Cristo, o Senhor. Recorra a Ele, irmãos, busque o verdadeiro descanso, que está em Jesus Cristo, nosso Senhor. Se você buscar descanso em outro lugar, pode até enganar os homens aqui na terra, mas no dia do juízo você será desmascarado, e Deus dirá: “A tua consciência te falou, você sabia.”
O pastor John MacArthur, irmãos, da Igreja Batista na América do Norte, recentemente disse algumas palavras a respeito de um dos pastores da igreja que cometeu um delito, um pecado. O pastor John disse o seguinte: “Eu não sei como uma pessoa consegue pregar e continuar pregando, vivendo uma vida enganosa e falsa”, que era justamente o que estava acontecendo ali. A nossa consciência sempre nos acusa quando estamos em pecado.
Comece a pensar sobre isso, irmãos. Comece a ouvir mais a sua consciência, porque Paulo diz aqui: ora acusando. Ela acusa, dizendo: “A lei está aqui.” Ela olha para a lei e diz: “Você pecou. Isso é pecado, é reprovável. Você precisa se arrepender, precisa abandonar o pecado.” Sua consciência vai martelando, lembrando, apontando, mostrando o pecado. Portanto, não há justificativa diante de Deus se buscarmos nossas próprias desculpas.
Então recorra a Cristo, porque você pode ter sido o pior pecador da face da terra. Paulo diz sobre si mesmo que era o pior dos pecadores. Ele se atribui esse título, mas sabe que estava salvo em Cristo, pois afirma: “Eu preferiria morrer; seria muito melhor, porque eu estaria logo com o Senhor, com Jesus Cristo.” Ele sabe que seus pecados, embora fosse um pecador como você e eu, já estavam sobre Cristo, e que o Senhor já havia pago o preço deles. Paulo escreve aqui em Romanos: “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”
Esses pecados, pelos quais às vezes tentamos dar justificativas, tornam essas justificativas inúteis se estiverem fora de Cristo. Se Cristo não for a nossa única justificativa, então, irmãos, descansem apenas no Senhor Jesus, em Cristo, em ninguém mais, em nada mais, e em nenhuma outra justificativa, mas somente Nele. E agradeçam, irmãos, porque o ato de perdoar pecadores é um ato de pura graça de Deus.
Lembrem-se de que Deus diz: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia.” A misericórdia de Deus não é uma obrigação que Ele tem para com os pecadores. Deus não precisa perdoar você; Deus não lhe deve o perdão nem a misericórdia. Ele dá a quem quer. E se recebemos perdão, misericórdia e graça em Jesus, seu Filho, agradeçam, irmãos, agradeçam, porque vocês receberam o único meio, Cristo, para salvar-se dos seus pecados. Amém.
Vamos ficar de pé, igreja, e vamos orar.
Nosso Deus e Pai, louvamos o teu nome, Senhor. Te agradecemos. Nos achegamos à tua santa presença nesta noite e, diante das palavras que o apóstolo Paulo escreveu nesta carta aos Romanos, reconhecemos, Senhor Deus, os nossos pecados e a nossa miséria. Reconhecemos que somos injustificáveis por nós mesmos e que a lei do Senhor está em nosso coração e revela a nós a maldade, os pecados e a desobediência. Ajuda-nos, Senhor Deus, em Cristo Jesus, nosso Salvador, a sermos fiéis e a descansarmos somente em Cristo e na sua graça. Ó Deus bendito, não há salvação fora de Jesus Cristo. Faça, Senhor Deus, com que todos que estão aqui creiam nisso e busquem, com todas as suas forças, o Senhor Jesus Cristo, o Salvador dos perdidos, aquele que traz perdão sobre os mais terríveis pecadores. Ó Deus, faça com que o pecador, nesta noite, entenda que Jesus perdoa o seu pecado, por mais feio, terrível e grave que ele seja. Há perdão, misericórdia e graça em Jesus Cristo, nosso Salvador. Que a igreja olhe para Cristo e agradeça pelo perdão, e que aqueles que ainda não conhecem o Senhor olhem para Ele e busquem de todo o coração. Nós te suplicamos, Senhor Deus, que haja arrependimento, que haja salvação, e que haja consciência em todos nós. Em nome de Jesus Cristo, para a glória de Deus, amém.