A completa revelação divina na Escritura

 

 

Sermão em Gálatas 1:8-9 sobre na doutrina do fechamento do cânon e o fim das novas revelações do Espírito Santo. Baseado na CFB 1689, capítulo 1, Sobre a Escritura.

 

 

Saúdo a todos com a graça e a paz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Louvamos a Deus pela vida de cada irmão. Quero convidá-los a abrir as Escrituras Sagradas na carta de Paulo aos Gálatas. Então, por favor, abra em Gálatas 1:8-9.

 

Hoje, eu quero tratar com a igreja sobre o Cânon ou a Bíblia como a revelação divina completada. Toda a revelação de Deus já nos foi entregue e ela foi escrita, preservada e fechada, nada mais podendo ser adicionado. Não há mais nada a ser acrescentado por Deus na sua revelação. A Escritura é a revelação final de Deus, é tudo aquilo que nós precisamos para a nossa salvação e para darmos glória a Deus.

 

Esse foi o entendimento predominante em todas as épocas da História da Igreja. Mesmo nos dias em que a Igreja Católica Romana prevalecia, no período medieval, Deus levantou homens em toda aquela longa era em defesa da Escritura. Na Reforma Protestante também encontramos homens corajosos que se levantaram para defender a revelação de Deus final e única pela Escritura. Por isso, o lema reformado, Sola Scriptura foi tão vigoroso, pois com ele se negava os acréscimos do romanismo papal e se negava igualmente as supostas novas revelações do Espírito Santo, como alegado por alguns grupos. Sola Scriptura também significa que a Escritura contem toda a revelação de Deus e está, agora, fechada e completa.

 

O título da mensagem desta noite é “A completa revelação divina na Escritura”. Gálatas 1:8-9, o texto diz assim:

 

“Porém, ainda que alguém, nós ou um anjo do céu vos pregasse algum outro evangelho além do que vos pregamos, que seja ele amaldiçoado. Como já vos dissemos, digo-vos agora novamente: se algum homem pregar-vos algum outro evangelho além do que recebestes, que seja ele amaldiçoado.”

 

Curve a cabeça, igreja, irmãos, e vamos orar.

 

Amado Deus, Pai do nosso Salvador Jesus Cristo, nós contemplamos, Senhor Deus, a tua presença com temor e tremor pelos méritos de Jesus e viemos aqui essa noite para adorar a beleza da tua santidade, Senhor Deus, suplicando, Deus todo-poderoso, a tua misericórdia e a tua graça derramada sobre nós. Pai bendito, Deus, que o Espírito Santo nos ajude nessa noite a glorificar o teu nome, Senhor, a aprender tua palavra, a tirar grandes lições da pregação desta noite para o teu louvor e a tua glória, e para a nossa edificação. Senhor Deus, fale ao nosso coração, aos nossos ouvidos, para que a tua palavra, Senhor Deus, seja recebida de bom ânimo por todos nós. É o que nós te suplicamos nessa noite, nos méritos de Jesus, o teu Filho amado e o nosso Salvador. Amém.

 

Queridos irmãos, a Bíblia está completa, a revelação de Deus está completa e finalizada, e completamente escrita. Nós vivemos numa época privilegiada, diferente da época dos apóstolos de Jesus, diferente da época dos profetas de Deus, diferente dos patriarcas, nos dias de Abraão, Isaque e Jacó e dos dias de Moisés. Certamente muito diferente da época de Adão e de Noé, porque na nossa época, hoje, nós temos toda a revelação de Deus escrita e entregue, à nossa disposição. Não há mais nada faltando nas Escrituras Sagradas pelo qual Deus ainda precise falar de maneira especial ao seu povo, como Ele falava no passado pelos profetas. O autor da Carta aos Hebreus diz claramente que, nos últimos dias, Deus, o Pai, nos falou por meio do seu Filho Jesus Cristo, e esta é a revelação final de Deus. E ela foi escrita por completo. Aprouve ao Deus todo-poderoso ordenar escrever as Escrituras Sagradas para nos livrar de erros, para nos salvar do engano de Satanás, da ousadia dos homens, para termos a Bíblia completa para a segurança da igreja. Então, estes livros que formam a Sagrada Escritura, os 66 livros que nós temos em mãos, são toda a revelação divina. E não há nada mais além disso. O que passar disso vem do maligno, o que for retirado disso é operação do maligno, é tentativa do maligno de minar a única palavra de Deus, a revelação final do nosso Senhor Jesus Cristo.

 

A nossa época está repleta de grandes absurdos no que diz respeito ao ensino do evangelho. Nós vamos encontrar em muitas igrejas esse evangelho diluído, desmanchado. Você sabe, quando alguém, por exemplo, pega o vinho e quer enfraquecê-lo, põe água no vinho, e ele vai diluindo o vinho para que fique mais fraco, às vezes para que ele possa render mais ou para deixar o vinho com um sabor alterado ou mais fraco em sua composição. Mas aí, se você faz a mesma coisa com o evangelho, se começa a inserir coisas no evangelho, você o dilui, e ele não é mais evangelho. Ele já não é mais a palavra de Deus, ele já é a palavra de Deus e algo mais que foi inserido nele, o que destruiu completamente a verdade ali apresentada.

 

Então, em muitas igrejas, o evangelho já foi completamente diluído, misturado, enfraquecido, inutilizado, não mais podendo ser chamado verdadeiramente de evangelho da graça de Deus. Em outras igrejas, o evangelho foi inflado, recebeu acréscimos que acabaram por inutilizá-lo, por descaracterizá-lo, como foi o caso dos judaizantes no primeiro século, que acrescentaram à fé as obras. Eles ensinavam que a salvação de fato é por crer em Jesus Cristo pela fé, mas que era preciso também observar as obras da Lei conforme Moisés havia escrito desde os tempos antigos. Para eles, era necessário guardar a Lei de Moisés e crer em Jesus como Senhor e Salvador. Isso não é o evangelho, está longe de ser o evangelho. Não é fé somente, não é graça somente. Então, não é o evangelho do nosso Senhor Jesus, que foi entregue pelos apóstolos para as gerações.

 

De fato, irmãos, em outros grupos, o evangelho foi mesmo alterado, como é o caso, por exemplo, das Testemunhas de Jeová, que alteram o texto da Sagrada Escritura, trocam palavras, modificam a palavra de Deus para sua própria ruína e destruição. Quando Paulo escreve essa porção aos Gálatas, a igreja da Galácia, essa é a única carta de Paulo em que, logo após a saudação, vem uma reprimenda severa do apóstolo Paulo. E essa reprimenda é justamente porque eles estavam abandonando a revelação única de Deus. Nos dias de Paulo, apenas o Antigo Testamento estava escrito, e o Novo Testamento seria então formado por estas cartas de Paulo, de Pedro, as cartas gerais, como a carta de Tiago. Essas cartas, junto com os evangelhos e atos, formam o Novo Testamento. Mas, nesses dias, estava em formação, então o cânon não estava fechado, isto é, escrito, mas a revelação de Deus já havia sido entregue. Era justamente o ensino dos apóstolos que depois viria a estar presente em nossas Bíblias, como as cartas que temos aqui e os outros livros da Escritura Sagrada.

 

Quando Paulo dá essas instruções, quando ele faz essa reprimenda aos Gálatas, irmãos, ele o faz porque havia um grupo de judeus, convertidos ao cristianismo, mas que exigiam a observância da Lei de Moisés para a salvação. Esses judeus entendiam que era obrigatório que todos guardassem a Lei exatamente como os antigos judeus faziam na época do Antigo Testamento. Então, era algo como: “Eu creio que Jesus Cristo é o Messias, eu creio que Ele é o Filho de Deus, que Ele ressuscitou dos mortos, mas…” E aqui mora o problema. “Mas ainda é necessário guardar as obras da Lei, ainda é necessário obedecer à Lei, como nos dias de Moisés”. Se alguém apenas cresse em Jesus, mas não guardasse a Lei, não estava salvo, porque a salvação não era pela fé somente, na perspectiva dos judaizantes. E esse terrível ensino estava entrando na igreja da Galácia, e muitos líderes da igreja haviam sido contaminados pelo ensino dos judaizantes.

 

Quando Paulo saía da igreja em que ele estava trabalhando, plantando uma igreja e passando algum tempo ali cuidando dela e fortalecendo-a, os judaizantes vinham atrás, pregando outro ensino. Eles diziam que Paulo não era verdadeiramente um apóstolo de Jesus, que ele não era do círculo de Pedro, de Tiago, etc. Então, ele era um falso apóstolo. Por isso, Paulo vai defender também o seu apostolado aqui. Ele vai dizer que foi comissionado pelo próprio Senhor Jesus, que apareceu a ele numa revelação, e ele diz isso aqui em Gálatas. Eles também diziam que a mensagem que Paulo estava ensinando, de fé somente, não era o evangelho, e que o evangelho era fé e a observância da Lei, e que Paulo pregava um falso evangelho.

 

Mas veja, note que era exatamente o oposto disso. Era exatamente o oposto. O evangelho é crer somente e ser salvo. Irmãos, não foram poucas as batalhas pela fé que os nossos irmãos do passado enfrentaram por causa do evangelho da graça de Deus. E é aqui, diante desse cenário, que surgem as palavras de Paulo nos versos 8 e 9, quando ele traz inclusive uma maldição sobre aqueles que rejeitam o evangelho verdadeiro por um falso evangelho: “Se alguém vos apresentar outro evangelho, algo que vá além do que nós pregamos, que seja amaldiçoado”.

 

Eu quero tratar com vocês, esta noite, sobre três pontos importantes, irmãos. O primeiro é o conteúdo desse falso evangelho. O segundo ponto são as manifestações desse falso evangelho. E o terceiro ponto, os pregadores ou mestres desse falso evangelho e o juízo que recairá sobre eles.

 

Primeiro, note o conteúdo deste falso evangelho. O falso evangelho não é o evangelho da graça somente. O verdadeiro evangelho é o evangelho da graça de Deus. É graça pura e simplesmente a graça de Deus, e nada mais do que a graça de Deus constitui o único evangelho que foi entregue por Deus em Jesus Cristo para os pecadores. É um evangelho que não faz exigências, que não cobra obras. Não está preocupado com coisas que precisam ser realizadas pelo homem. É um evangelho que desafia o homem apenas a confiar em Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.

 

Se alguém perguntar: o que é o evangelho? É aquilo que está escrito nos antigos cânones ou documentos da igreja: Deus enviou seu Filho amado ao mundo, e Ele se fez carne, morreu na cruz do Calvário e ressuscitou dos mortos no terceiro dia, e aquele que crê Nele será salvo. Isso é o evangelho. É crer em Jesus Cristo apenas. Se você crê que Jesus é o Filho de Deus, que veio ao mundo em carne, que foi morto na cruz do Calvário para salvar-nos dos nossos pecados, se você crê em Jesus assim, você está salvo. É o que a Bíblia diz: “Crê e serás salvo”. Não são obras, não é faça alguma coisa, trabalhe, conquiste ou batalhe por algo. Apenas descanse na obra que Jesus fez no Calvário. Creia no Senhor apenas, e isso é suficiente. Isso é o evangelho.

 

O conteúdo do falso evangelho, por outro lado, não é “crer somente”. É crer e fazer sua parte. É o evangelho com obras. Esse não é o evangelho que está nas Escrituras Sagradas, não é a mensagem revelada pelos apóstolos de Jesus, quando ainda estavam pregando a mensagem recebida e que depois foi escrita. Note que Paulo, aos Gálatas, fala contra esse falso evangelho que exigia que o homem depositasse suas obras ao lado da graça de Jesus Cristo. Paulo fala contra o falso evangelho dos judaizantes, contra o ensino judaizante, e chama isso de “outro evangelho, que não é outro”. Ele diz que é um falso ensino.

 

A simplicidade do evangelho deve nos fazer descansar completamente, colocando todas as nossas cargas no nosso Senhor Jesus Cristo. Todos os homens buscam fazer algo para se sentirem orgulhosos ou privilegiados, seja no trabalho, diante de amigos ou da família. Eles querem ser reconhecidos por algo extraordinário que fizeram. Na salvação, não é diferente. A maioria das pessoas quer, de alguma forma, se gloriar diante de Deus, dizendo que fizeram a sua parte, que trabalharam, batalharam pela sua própria salvação. Isso não é o evangelho. O evangelho é: creia somente, descanse somente, apenas confie no Senhor Jesus Cristo e naquilo que Ele fez no Calvário. Esse é o evangelho genuíno, o evangelho que está revelado na palavra de Deus.

 

Todas as vezes que alguém vem até você com outro ensino diferente desse, isso é um falso evangelho, e, como Paulo diz, que seja amaldiçoado. Nós, como igreja do Senhor, devemos repudiar com todas as nossas forças qualquer ensino que distorça o evangelho. Devemos ser veementes, até ferozes, como Paulo foi. Ele começa sua carta aos Gálatas com uma severa repreensão, dizendo que estava admirado de como eles estavam se desviando tão rapidamente daquele que os chamou para a graça de Cristo para um outro evangelho. Devemos repudiar qualquer ensino que acrescente algo ao evangelho ou que subtraia algo dele. O evangelho é: creia somente. Se você crê em Jesus, você está salvo. Esse é o evangelho da graça de Deus.

 

Agora, olhemos para o ensino da Igreja Católica Romana. Ali não se prega o “crer somente”. Lá, você encontrará a crença mais as obras. Obras de justiça, sacrifícios, penitências — não é apenas Jesus e sua obra, mas Jesus, sua obra, e mais as suas obras. Esse é o falso evangelho que é pregado em muitas igrejas, incluindo a Igreja Católica. Mas o verdadeiro evangelho é: creia somente.

 

Não é à toa que, nos dias de Lutero, o reformador, o Papa ficou tão irritado, porque Lutero, com a sua pregação da justificação somente pela fé, estava minando os alicerces da Igreja Católica. A igreja estava ruindo porque Lutero estava provando, mediante as Escrituras, que o evangelho era: creia somente. Não havia necessidade de comprar indulgências, de fazer promessas ou penitências. Creia somente. Essa era a pregação de Lutero e o conteúdo de suas aulas de teologia em Wittenberg, era a bandeira do evangelho que ele levantava.

 

O falso evangelho moderno, o evangelho social e progressista, vai de encontro ao evangelho verdadeiro, porque ele também traz as obras. Ele diz que o evangelho é missão integral, que crer em Jesus é importante, mas é preciso também ajudar os pobres, fazer boas obras, ou não estará verdadeiramente salvo. Mas isso é um falso evangelho. O verdadeiro evangelho é: creia somente.

 

Não estou dizendo que praticar boas obras seja errado, mas elas não fazem parte do evangelho da salvação. Você não é salvo pelas boas obras. Todas essas coisas que tentam igualar-se ao evangelho, à graça, ao crer somente, são falsas e diminuem a glória de Deus. Elas repartem a glória de Deus com outros. Esse é o evangelho que Paulo combatia, o evangelho dos judaizantes, que dizia: “Creia, mas também observe os mandamentos da Lei de Moisés, guarde as cerimônias.” Não era crer somente, e Paulo está falando contra esse falso evangelho.

 

As outras religiões também são baseadas em obras. Nenhuma outra religião na face da terra exige apenas a fé para salvação. Todas as outras religiões exigem obras: sacrifícios, obediências e ofertas para a divindade, a fim de ganhar a salvação. Nenhuma outra religião na face da terra exige somente a fé para a salvação. Todas exigem obras. Todas ensinam que é preciso dar algo para a divindade, para agradá-la, a fim de que ela te presenteie com a salvação. Isso não é o evangelho da graça de Deus e não é evangelho de maneira nenhuma. O nosso evangelho, o evangelho apostólico, o evangelho que está no cânon fechado, e que não pode ser alterado, é: creia somente. Mais uma vez, qualquer que chegar até você com outro evangelho que não esteja de acordo com as Escrituras, deve ser rejeitado, repudiado com todas as suas forças. É falso.

 

Em segundo lugar, há as manifestações desse falso evangelho. Como ele se manifesta? Como ele surge? Aqui, precisamos considerar algumas questões. Quando o Senhor Jesus deu suas instruções aos apóstolos em Mateus 28, Ele disse para batizar aqueles que cressem. Lembrem-se, por exemplo, da ocasião em que Filipe foi até o eunuco, que estava lendo o profeta Isaías e não entendia. Filipe explicou-lhe, falando de Jesus, e o eunuco creu. Imediatamente, ele foi batizado. Aquele eunuco não tinha preparação teológica ou doutrinária, mas ele foi salvo. O eunuco não tinha precisão teológica, mas ele foi salvo. Seria possível dizer que aquele eunuco era um arminiano ou um calvinista naquele primeiro momento?

 

Da mesma forma, o ladrão na cruz, que se arrependeu e pediu misericórdia a Jesus, foi salvo. Ele não tinha uma teologia refinada, mas creu que Jesus era o Rei e pediu para ser lembrado no reino de Cristo. Ele disse: “lembra-te de mim quando vieres no teu reino”. Ele sabia que Jesus era um rei e tinha um reino. Jesus disse a ele: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”. Aquele ladrão tinha alguma precisão teológica? Podemos dizer que ele era um calvinista ou um arminiano? É claro que não. Contudo, fica claro que ele creu em Jesus e que o evangelho é crer somente em Jesus. Em Mateus 28 Jesus diz exatamente isso, que devemos batizar todo aquele que crer Nele, e, só depois, ensiná-los a guardar todas as coisas que Ele ensinou. A precisão teológica vem depois da fé. A precisão teológica é um segundo ato no drama do evangelho de Cristo no mundo.

 

Quantos homens de Deus tiveram sua teologia confundida em maior ou menor grau, mas, contudo, eram fiéis crentes em Jesus Cristo? Lembrem-se de homens como John Wycliff, John Huss e tantos outros que integravam a igreja romana, mas repudiavam seus erros (apesar de continuarem a sustentar alguns deles por um tempo), porém, creram em Jesus Cristo somente. Devemos negar a salvação destes homens, alguns deles chamados de pré-reformadores? Devemos afirmar que os tais foram lançados no inferno e em terrível condenação, mesmo crendo em Cristo de todo coração, apesar da imprecisão teológica em algumas questões?

 

A disputa entre calvinismo e arminianismo é uma questão de entendimento teológico, mas não é uma questão de salvação. Vocês já devem ter tomado conhecimento de um debate que está ocorrendo na internet entre os calvinistas. Alguns deles tem dito que se alguém defender a fé arminiana, isto é, se for arminiano em sua compreensão da salvação, o tal não é salvo. Em resposta a isso, muitos outros calvinistas já se manifestaram de maneira oposta, alegando que a salvação está vinculada exclusivamente à fé em Jesus Cristo e não à corrente teológica defendida. Se alguém crê no Senhor Jesus Cristo de todo o coração, está salvo, independentemente de qual linha teológica siga. A salvação não depende de uma compreensão perfeita dos mistérios teológicos, mas de crer em Jesus como Senhor e Salvador.

 

O evangelho é crer somente, é crer em Jesus Cristo somente. A precisão teológica virá depois, só depois. É claro que o falso evangelho vai trazer manifestações teológicas completamente equivocadas, como os judaizantes, que traziam a lei junto com a graça e cobravam a obediência à Lei. Era “crê mais observação da lei”. É claro que o falso ensino ou o falso evangelho está cheio de distorções, mas também é verdade que vários homens ao redor do mundo, de todas as épocas, ainda que não tivessem um perfeito entendimento da salvação, ou de como opera a salvação, eles creram em Jesus Cristo de todo seu coração e foram salvos, e nós não podemos colocar isso em cheque de maneira nenhuma. O verdadeiro evangelho prega a salvação pela fé e pela graça de Deus, e as manifestações teológicas virão com o tempo. Devemos sempre lembrar que a precisão teológica não é o critério da salvação; a fé em Cristo é.

 

Permitam-me ler para vocês um diálogo interessante baseado nesse assunto, que aconteceu ainda no século XVIII, sendo registrado no diário de um dos participantes. Esse diálogo aconteceu entre John Wesley, que era um pregador arminiano, e o pregador calvinista Charles Simon. John Wesley foi um dos maiores pregadores daqueles dias e Charles Simon era um calvinista teologicamente bem respeitado. Foi registrado o seguinte diálogo, ocorrido em 20 de dezembro de 1784. Simon registrou o diálogo no qual ele questionou Wesley acerca da teologia da salvação. Ele diz seguinte: “(Simon) Senhor, eu sei que você é chamado de arminiano e por vezes tenho sido chamado de calvinista, portanto, suponho que devemos contender, mas antes de concordar com o início do combate, com a sua permissão lhe farei algumas perguntas. Por favor, senhor, você se sente uma criatura depravada?” Ele pergunta isso para o John Wesley, que era um arminiano. “Você se sente uma criatura depravada, de tal modo depravada, que nunca teria pensado em voltar-se para Deus se Deus não tivesse primeiro colocado isso em seu coração? Sim”, diz Wesley, “sinto-me de fato”. Ele pergunta de novo: “E você despreza totalmente a ideia de vangloriar-se diante de Deus por algo que possa fazer, buscando a salvação unicamente por meio do sangue da Justiça de Cristo?” Wesley diz: “sim unicamente por meio de Cristo”. Outra pergunta: “mas o senhor, supondo que você foi primeiramente salvo por Cristo, não deverá de uma forma ou de outra salvar-se por meio de suas próprias obras?” Ele responde: “Não, eu preciso ser salvo por Cristo do início ao fim”. Palavras do arminiano Wesley. Depois, Simon pergunta novamente: “admitindo, então, que você foi transformado inicialmente pela graça de Deus, não deveria de uma forma ou de outra manter-se em pé usando suas próprias forças?” Ele diz: “Não, eu preciso também da força de Cristo para me sustentar.” Mais uma pergunta de Simon: “Então, você deve ser sustentado a toda hora e em todo momento por Deus tanto quanto um bebê nos braços de sua mãe?” Wesley responde: “Sim, completamente. Outra pergunta: “e toda sua esperança na graça e na misericórdia de Deus preservará você para o seu reino Celestial?” “Sim, eu não tenho outra Esperança senão Ele”. Então, vem o final do diálogo, quando Simon conclui: “Então, senhor, com sua licença novamente, porque tudo isso é o meu calvinismo. Essa é a minha eleição, a minha justificação pela fé, minha perseverança final, isso é em Essência tudo o que sustento e como sustento, portanto, se desejar em vez de procurar termos e frases para serem um motivo de discórdia entre nós, unamo-nos cordialmente nas coisas que concordamos.”

 

Isso é importante, irmãos, porque mostra que se você crê somente e repousa sua fé sua esperança na graça de Deus somente, você está salvo, não importa se você é um calvinista ou se você é um arminiano. Você está salvo porque crer em Jesus Cristo e na salvação pela graça. Não importa se a sua precisão teológica não é tão precisa assim, porque nós sabemos que há equívocos na maneira de entender este ato salvífico do Deus soberano por parte dos arminianos modernos e também em parte pelos arminianos mais antigos, mas esse é um segundo passo, esse é o momento da precisão teológica, não é o momento da salvação e não o momento de entender como as coisas se deram, e ninguém é salvo por entender como as coisas se deram. Nós somos salvos por crer no senhor Jesus Cristo, o Rei da Glória. Isso é a salvação.

 

Agora, em terceiro lugar, vejamos o destino dos pregadores do falso evangelho. O que acontecerá com aqueles que propagam essa heresia? Paulo traz uma maldição sobre eles. Note que ele diz que não importa quem seja o pregador desse falso evangelho, ele está amaldiçoado. Seja quem for — um líder, um mestre respeitado, ou mesmo um anjo do céu — se trouxerem outro evangelho, Paulo diz que devem ser amaldiçoados. Note as palavras de Paulo, especialmente o que se concentra nos versos 8 e 9: “porém, ainda que nós…” Paulo está dizendo: “ainda que eu, Paulo”. Lembre que Paulo era Apóstolo de Jesus. Paulo não era simplesmente um discípulo qualquer, ele havia sido comissionado pelo próprio Senhor, como Apóstolo do Senhor, junto com os demais Apóstolos para propagar este evangelho genuíno e verdadeiro, mas ele afirma: “se um dia eu chegar nesta igreja e trouxer para vocês outro evangelho, diferente daquele que eu preguei para vocês, que eu seja amaldiçoado vocês. Que vocêsme expulsem desta igreja”. Paulo não poupa nem a si mesmo. Paulo não imuniza a si mesmo quando está falando do falso evangelho, tão perigoso e pernicioso ele é.

 

E essa maldição é cair sob a ira de Deus, é a perdição total. Seja alguém de grande influência ou um ser celestial, se trouxerem um falso evangelho, que sejam rejeitados e amaldiçoados. Paulo não poupa palavras para mostrar a seriedade da questão. Ele não poupa nem a si mesmo quando trata do falso evangelho.

 

Ele diz que, se ele próprio ou seus companheiros voltassem um dia à igreja e trouxessem um evangelho diferente daquele que ele já havia pregado, que eles fossem amaldiçoados. Veja a seriedade da advertência: “Se um dia eu, Paulo, chegar até vocês e trouxer outro evangelho, amaldiçoem-me”. Paulo não estava isento dessa maldição, e isso mostra o rigor com que ele tratava a questão do evangelho verdadeiro.

 

Mas ele não fala apenas de si mesmo. No verso 8, ele também inclui outras pessoas. Ele diz: “Ainda que alguém”. Esse “alguém” poderia ser qualquer pessoa que chegasse à igreja, fosse um mestre judeu, um profeta, um apóstolo ou até mesmo um anjo vindo do céu. Ele diz que, se qualquer pessoa pregasse um evangelho diferente daquele que eles haviam recebido, que essa pessoa fosse amaldiçoada. Mesmo que fosse alguém de alta reputação, mesmo que fosse um grande mestre da Lei, como Gamaliel, um dos mestres mais respeitados nos dias de Paulo, se Gamaliel pregasse um evangelho diferente, Paulo diz: “Que ele seja amaldiçoado”.

 

Paulo vai além, dizendo que, mesmo que um anjo do céu descesse e pregasse um evangelho diferente, esse anjo deveria ser amaldiçoado. Ele está falando de criaturas celestiais, seres espirituais que vivem nas esferas superiores. Mas, mesmo que um desses anjos viesse com uma mensagem diferente da que já foi revelada, Paulo diz que esse anjo deveria ser rejeitado, amaldiçoado.

 

Paulo, obviamente, cria na existência das criaturas celestes, dos anjos e das criaturas do mundo espiritual. Paulo cria num mundo superior e ele disse que se uma dessas criaturas angelicais descer aqui, com uma outra mensagem, afirmando que há uma nova revelação e que as coisas são diferentes, e apresentar a vocês um outro evangelho, que este anjo seja amaldiçoado. Ponham para fora, expulsem, pois tão precioso é o evangelho. Ele não pode ser deteriorado e estar na igreja. O evangelho verdadeiro vocês conhecem, e a sua mensagem é a fé única e exclusivamente em Cristo. Qualquer coisa que passar disso é falso Evangelho.

 

O evangelho, irmãos, é tão precioso que não pode ser adulterado. Ele não pode ser distorcido, diluído ou inflado, e ainda assim ser aceito na igreja. Não podemos receber o falso evangelho de maneira alguma. Alguns podem até dizer: “Vamos ouvir, mesmo com desconfiança, para ver se é isso mesmo”. Mas o evangelho verdadeiro já é conhecido, é a fé única e exclusivamente em Cristo. Qualquer coisa além disso é um falso evangelho e deve ser rejeitado de imediato. Não devemos perder tempo com ele, devemos tirá-lo de nosso meio.

 

Poderíamos nomear várias igrejas e exemplos de pregadores que pregam o falso evangelho. Poderíamos apontar líderes e mestres que serão julgados por Deus no tempo determinado. A ira de Deus certamente virá sobre aqueles que distorcem o evangelho, e isso está claro nas Escrituras. Quando Paulo escreve essas palavras, note como ele trata o assunto com seriedade. Ele não aborda o tema de maneira leve ou superficial. Ele trata a questão com grande rigor e urgência.

 

Lembrem-se do caso de Corinto, onde havia uma pessoa envolvida em um grave pecado de imoralidade, e Paulo ficou indignado porque essa pessoa ainda estava na comunhão da igreja. Ele questionou por que ela não havia sido expulsa. Agora, pensem no evangelho, na sua pureza e importância. Quando o evangelho é alterado ou diluído, quando um falso evangelho é aceito, o prejuízo é ainda maior. Paulo não permitiu que isso avançasse. E nós, irmãos, devemos ser vigilantes e estar atentos ao verdadeiro evangelho da graça de Deus. Não devemos permitir que o falso evangelho entre em nossas igrejas ou em nossas vidas. O falso evangelho deve ser repudiado. Ele é nocivo, maléfico, maligno e jamais devemos estender nossa mão direita para ele.

 

Nossos pais batistas nos deixaram uma herança importante. Eu quero terminar com uma citação da Confissão de Fé Batista de 1689, no capítulo 1, parágrafo 6. Está escrito:

 

Todo o conselho de Deus, concernente a todas as coisas necessárias para sua própria glória, para a salvação, a fé e a vida do homem, ou é expressamente declarado, ou necessariamente contido na Sagrada Escritura, ao que nada em qualquer tempo deve ser acrescentado, seja por novas revelações do Espírito ou por tradições de homens.

 

Nossos pais batistas afirmam que a Escritura está fechada. Quando eles dizem isto, estão afirmando que a revelação já foi completamente entregue e escrita. Não há novidades. Se algo não está nas Escrituras Sagradas, qualquer evangelho ou mensagem que não esteja de acordo com a revelação canônica deve ser rejeitado, pois trata-se de um falso evangelho. Nada pode ser acrescentado ao evangelho que já foi dado.

 

Como servos do Deus Altíssimo, somos chamados a zelar por essa palavra, a sermos fervorosos e vigilantes em relação ao evangelho. Não podemos baixar a guarda, especialmente vivendo em uma época de tanto engano, de mentiras e falsas pregações. O falso evangelho está por toda parte, e nossa missão é não deixar que ele entre em nossas igrejas ou em nossas vidas. Que Deus nos abençoe, irmãos. Amém.

 

Vamos orar:

 

Amado Deus, Pai celeste, louvamos e agradecemos ao Senhor pela tua graça, pelo evangelho genuíno de Jesus, que nos foi entregue pelas mãos apostólicas e que foi preservado em tua palavra escrita, a Bíblia. Ó Deus Supremo, livra-nos do erro, dos falsos mestres, das mentiras e de tudo que busca minar a verdade que nos foi dada pelo divino Espírito Santo. Ajuda-nos, Senhor, em todos os momentos, para que não escorreguemos nem para um lado nem para o outro. Que sejamos firmes na doutrina, mas, ao mesmo tempo, não caiamos no engano de radicalizar sem necessidade. Ajuda-nos a sermos prudentes e fiéis à tua palavra. Em nome de Jesus, oramos. Amém.