Palestra sobre o desenvolvimento dos batistas no mundo. Ocorrida na cidade de Manaus-AM, no primeiro semestre de 2024. Igreja Batista Shekinah.
Meus queridos irmãos, quero saudá-los com a graça e a paz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A todos vocês, quero agradecer pelo convite de estar aqui. Estava fazendo as contas, e esta é a terceira vez que participo de conferências aqui na Igreja Batista Shekiná. A primeira foi online, bem na época da COVID-19, quando a pandemia acabou atrapalhando minha vinda. Mas, no ano passado, com a graça de Deus, tive o privilégio de vir aqui, conhecer os irmãos, olhar nos olhos de cada um face a face e ser muito abençoado por vocês. Agora, novamente, Deus me dá o privilégio de estar aqui com vocês.
Trago um abraço para vocês da igreja que pastoreio em Teresina, no Piauí, a Igreja Batista Bom Samaritano. A Igreja Batista Bom Samaritano é a igreja mãe do trabalho em Araguaína, no Tocantins, com o qual vocês estão cooperando, ajudando o pastor Salmeron Alencar. O pastor Salmeron é oriundo da nossa igreja, foi ordenado por nós, e o trabalho em Araguaína é uma congregação da Igreja Batista Bom Samaritano. Então, em nome dele, do pastor Salmeron, e de toda a congregação, estendo aqui o agradecimento pela ajuda na plantação daquele trabalho, que é muito importante naquela região do Brasil.
Nossa missão hoje, irmãos, é tratar sobre o ardor missionário dos Batistas. Creio que todos vocês sabem e já percebem que, na história da Igreja Batista, o fervor por missões, a evangelização, a plantação de novas igrejas, e o desbravamento de terras, às vezes muito longínquas, para pregar o Evangelho de Cristo são marcas características. É um ardor que move a obra missionária, alcançando pessoas através do poder da Palavra de Deus para o louvor e a glória do Senhor.
A história missionária dos Batistas, especialmente o ardor que eles têm pela obra missionária, está muito ligada à sua teologia. Somos uma igreja — esta igreja, a nossa em Teresina e as igrejas que estamos plantando — Batistas reformadas. Portanto, defendemos as doutrinas da graça de Deus, que comumente são chamadas de calvinismo. Gostaria que vocês não se assustassem com o termo “calvinismo”, que realmente não é muito simpático, soa forte, e não tem muita relação com João Calvino em si, pois foi um termo aplicado muito depois de sua morte. Refere-se às doutrinas pregadas na época da Reforma Protestante por igrejas Batistas reformadas, congregacionais, presbiterianas, e até alguns grupos luteranos que também defendiam uma soteriologia que podemos chamar de doutrina da graça ou calvinismo.
Acredito piamente, irmãos, não apenas por confiar cegamente nisso, mas por meio dos escritos que temos, de tudo o que nossos pais Batistas nos legaram ao longo dos séculos, em todas as campanhas missionárias, associações de igrejas, sociedades missionárias e o conjunto documental que recebemos como herança, que o ardor missionário dos Batistas está intrinsecamente ligado ao seu entendimento teológico. Portanto, às suas doutrinas reformadas, às doutrinas da graça de Deus. Os Batistas reformados foram os primeiros Batistas caracterizados por sua teologia calvinista.
Deixe-me abrir um parêntese aqui. Ao longo desta semana, no Seminário Batista Aliança aqui na igreja, falamos sobre a história dos Batistas e mostramos que a primeira Igreja Batista, que deixou um lastro histórico e sucessão de igrejas, veio para a América do Norte, enviou missionários para a Índia, abrindo a cortina para as missões modernas, e enviou missionários para o Brasil. Este grupo de igrejas Batistas reformadas é o que caracteriza a nossa herança.
Tenham em mente, ao longo destas palestras de hoje e amanhã, que estamos falando do grupo Batista reformado, o mesmo grupo que também é marcado por seu fervor missionário. Foi esse grupo que se desenvolveu nos Estados Unidos, plantando igrejas e dando início às obras missionárias mundiais. É importante esclarecer que existem dois grupos principais de Batistas: os reformados e os chamados Batistas gerais. O grupo que se estabeleceu na América do Norte, plantando igrejas, desenvolvendo associações, escrevendo confissões de fé e disseminando a Palavra de Deus na América do Norte e, de lá, para o mundo, foi o grupo dos Batistas reformados.
Os Batistas calvinistas foram os primeiros a realizar missões no Brasil e a plantar as primeiras igrejas. Popularmente, eles são chamados de Batistas particulares. Vou citar quatro nomenclaturas principais que se referem a eles: Batistas particulares, Batistas reformados, Batistas calvinistas e Batistas confessionais. Cito isso porque certamente vocês encontrarão esses termos em literaturas ao longo da vida.
Os Batistas reformados são chamados de Batistas particulares. Essa foi a primeira nomenclatura dada ao grupo histórico do século XVII. Não foi um termo criado no século XVII, mas foi aplicado àquela Primeira Igreja Batista calvinista daquele tempo. Eles também são conhecidos como Batistas reformados, o que explica sua fé em relação à Reforma Protestante, sendo semelhantes às igrejas reformadas em termos de doutrina. Além disso, são chamados de Batistas calvinistas por defenderem a soteriologia baseada nos cinco pontos do calvinismo, conhecidos pela sigla TULIP. A quarta nomenclatura, que vem ganhando popularidade, é Batista confessional. Quando alguém se diz Batista confessional, está se referindo, em primeiro lugar, à Confissão de Fé Batista de 1689, declarando-se, na prática, um Batista particular, reformado ou calvinista.
A expansão missionária dos Batistas reformados aconteceu em algumas etapas importantes. O primeiro movimento foi a expansão interna na cidade de Londres, onde os Batistas particulares nasceram no século XVII. Eles começaram plantando novas igrejas e comunidades dentro da própria cidade de Londres. O segundo movimento de expansão foi por toda a Inglaterra, onde ultrapassaram as barreiras da cidade e avançaram para o restante do país, plantando igrejas.
Particulares começaram a se expandir, isto é, começaram a plantar novas comunidades e igrejas dentro da cidade de Londres. O segundo movimento de expansão dos Batistas alcançou toda a Inglaterra; assim, eles ultrapassaram a barreira da cidade de Londres e avançaram por toda a Inglaterra, plantando igrejas.
O terceiro movimento de expansão interna alcançou toda a Grã-Bretanha, incluindo a Irlanda, a Escócia e o País de Gales. Os Batistas enviaram pastores para essas regiões, e a comunidade Batista se ampliou. Perceba que o grupo que começou em Londres, na Inglaterra, foi se expandindo: primeiro dentro de Londres, depois por toda a Inglaterra e, em seguida, por toda a Grã-Bretanha. Esse movimento é chamado de expansão interna porque ocorreu dentro do território inglês, o que podemos chamar de trabalho evangelístico nacional.
Irmãos, vocês conhecem os trabalhos missionários realizados em nosso território. Muitas igrejas Batistas fazem campanhas de missões no Brasil para espalhar o Evangelho e plantar novas igrejas dentro do país. Esse trabalho é equivalente ao que os Batistas fizeram no começo de sua história, desenvolvendo sua missão em sua própria terra.
O quarto movimento de expansão é chamado de expansão externa, que começou com a migração dos primeiros Batistas para a América do Norte e, posteriormente, para a Índia, e daí para o mundo todo. Hoje, temos igrejas Batistas espalhadas por todos os cantos do mundo, em florestas, desertos, grandes centros urbanos e pequenas comunidades.
Há um livro interessante de Robert Torbet chamado *História dos Batistas*, que tem mais ou menos 70 anos. Desde essa época, ele listou as regiões que os Batistas já haviam alcançado. Há 70 anos, os Batistas já tinham grande parte do mundo coberta, e hoje, o trabalho certamente avançou ainda mais.
Olhem para o movimento de expansão interna: esse gráfico deve ajudar a entender como ele funcionou. Imagine um círculo maior representando toda a Grã-Bretanha, um círculo intermediário representando a Inglaterra como um todo, e um círculo central representando Londres, a capital. O movimento de expansão interna começou em Londres, depois abrangeu toda a Inglaterra e, por fim, toda a Grã-Bretanha, incluindo as terras de fala inglesa. Esse esquema é semelhante ao descrito em Atos dos Apóstolos: primeiro Jerusalém, depois Judeia, Samaria e até os confins da Terra.
Os Batistas fizeram exatamente isso. Começaram pregando o Evangelho em sua casa, expandindo a obra evangelística e plantando igrejas até alcançarem o mundo todo.
A expansão externa caracterizou o crescimento dos Batistas fora da Inglaterra e aconteceu em várias etapas, especialmente duas que merecem destaque. O primeiro movimento externo foi da Inglaterra para a América do Norte. Este movimento não começou com o propósito de evangelizar, mas se tornou um movimento missionário. Eles foram para a América do Norte porque foram expulsos da Inglaterra, banidos por causa de sua fé. Na América, começaram a plantar igrejas, que se multiplicaram e cresceram.
O segundo movimento foi da Inglaterra para a Índia, no final do século XVIII, com William Carey. Ele é o missionário que sempre aparece nos slides, o homem que impulsionou o grande movimento missionário externo. Da Índia, os Batistas começaram a alcançar todo o planeta. A obra missionária dos Batistas começou com a ida à Índia e despertou um fervor espiritual para que o Evangelho fosse pregado em todas as nações.
Os Batistas reformados foram os primeiros a iniciar as missões modernas. Nenhuma outra igreja ou denominação havia se empenhado em levar o Evangelho a terras estrangeiras em outras línguas e culturas. Algumas igrejas pregavam em outras partes de seus reinos, mas era William Carey quem promovia esse avanço global, pregando o Evangelho em diferentes culturas e idiomas. Assim, os Batistas começaram a obra missionária que se espalhou pelo mundo.
Devemos muito à Inglaterra, irmãos, pois Deus foi generoso com aquele país no século XVII. Da Inglaterra surgiram muitas das igrejas reformadas com as quais temos proximidade, como os congregacionais e os presbiterianos, vindos da Escócia, Inglaterra e Grã-Bretanha. Nossos pais Batistas vieram dessa região e, de lá, espalharam-se pelo mundo.
Quero apresentar um pouco desse movimento missionário Batista, começando pela Inglaterra e passando pela Grã-Bretanha. A primeira Igreja Batista nasceu em 1638. Em 1644, já havia a primeira Confissão de Fé publicada, a Confissão de Fé Batista de 1644. Mas não quero que vocês se concentrem nas datas; foquem na expansão das igrejas.
Os Batistas começaram com uma igreja em Londres em 1638, pastoreada por John Spilsbury, o primeiro pastor Batista reformado. Em 1644, já havia sete igrejas em Londres. O crescimento foi rápido e impressionante. De uma igreja em 1638, eles chegaram a sete igrejas em 1644, apenas na cidade de Londres. Esse é o primeiro movimento de expansão interna.
Depois, os Batistas foram para a Irlanda em 1650. Nas três décadas seguintes, de 1650 a 1680, eles plantaram igrejas na Irlanda, enviando pastores para ensinar a Palavra de Deus. Observaram que ainda não havia igrejas estabelecidas nessas regiões, então enviaram pastores para organizar igrejas firmadas na Palavra de Deus. Na mesma época, enviaram pastores para o País de Gales e para a Escócia, plantando igrejas nesses lugares.
Eles mantinham contato com os crentes em Gales e na Escócia, respondendo às cartas que recebiam com dúvidas sobre como formar e pastorear igrejas de maneira que glorificasse a Deus. Nossos pais Batistas instruíram esses irmãos até que começaram a enviar pastores para auxiliar o trabalho.
Em 1689, os Batistas haviam crescido significativamente. Em 40 anos, saíram de uma igreja para mais de 100 igrejas. Em 1689, com a anulação das leis de perseguição em 1688, convocaram uma assembleia geral e reuniram mais de 100 igrejas.
Pensem nisso: em 40 anos, os Batistas saíram de uma igreja para mais de 100 igrejas e congregações. Que crescimento impressionante! Que obra de Deus poderosa! Em 40 anos, eles ocuparam grande parte de Londres, grande parte de toda a Inglaterra, e expandiram o trabalho missionário para toda a Grã-Bretanha, alcançando a Irlanda, o País de Gales e a Escócia, plantando igrejas do Senhor. Digam se isso não é verdadeiramente encarar a obra que Deus nos mandou fazer com a máxima seriedade. Digam-me se isso não significa investir tudo no Reino de Deus, entregar-se em favor do Reino de Deus, trabalhar com afinco e interesse na obra de Deus.
Esses irmãos do passado tinham o desejo ardente de ver o Evangelho avançar, e isso é o que os números nos mostram. As igrejas cresciam quase mensalmente, com novos trabalhos surgindo continuamente. E esse trabalho não parava. Em 1689, naquela assembleia, ao ler o relatório das igrejas presentes, soubemos que cerca de 107 igrejas haviam enviado delegados ou representantes. Isso sem mencionar as igrejas que não enviaram delegados, o que revela que o número de igrejas Batistas era superior a 107, pois nem todas haviam enviado seus representantes. Isso nos mostra que o crescimento numérico das igrejas locais era ainda maior do que o que os números indicavam.
Olho para esse tempo e me pergunto: como nossos pais Batistas conseguiram crescer tanto e se desenvolver tão rapidamente? Eles oravam, claro, mas os outros também oravam. Eles pregavam a Palavra e tinham um grande interesse nas Escrituras Sagradas, como é relatado. Tivemos o maior pregador do século XVII, John Bunyan, um pastor Batista que foi preso em Londres por 12 anos. Os historiadores dizem que os carcereiros o liberavam para sair nas madrugadas, e ele saía para pregar a Palavra. Ele se reunia com pessoas que já o esperavam, e Joel Beeke, um grande historiador puritano, diz que John Bunyan plantou mais igrejas à meia-noite do que em qualquer outro horário, com sua pregação.
Eles tinham um ardor pela pregação da Palavra de Deus, mas também havia planejamento e ideias. Uma dessas ideias era a associação de igrejas. As igrejas Batistas cooperavam mutuamente por meio de associações para o avanço do Reino de Deus. Surgiu um espírito de entusiasmo com o avanço da igreja; as igrejas cooperavam para que o Evangelho fosse levado adiante.
Deixem-me dizer algo para vocês: naquela época, houve grande pobreza material entre as igrejas evangélicas. Conseguem entender isso? A época em que a igreja mais cresceu, em que houve um grande despertamento da fé, foi a época em que a igreja era mais pobre. Durante a assembleia de 1689, parte das reuniões serviu para socorrer pastores que não tinham sustento. Eles estavam pastoreando e cuidando dos irmãos, mas não tinham um centavo, porque eram perseguidos pelo governo inglês, que lhes tomava os empregos estatais, prendia-os, fechava as igrejas e confiscava os bens de seus membros. Mesmo assim, nossos irmãos cresceram, multiplicaram-se e avançaram, pregando a Palavra do Senhor.
Que Deus seja glorificado com isso, irmãos. Que isso sirva de lição para nós e acenda uma chama em nossos corações para fazer missões, pregar o Evangelho e crer que o poder está em Deus e em Sua Palavra. O Senhor é quem abre portas e faz essa grande obra. No final do século XVII, o número de igrejas Batistas na Inglaterra variava de 130 a 180 igrejas plantadas e ativas na Grã-Bretanha. Recordem-se: em 1689, 107 igrejas foram listadas. Onze anos depois, no fim do século, já eram cerca de 130 a 180 igrejas. No início do século XVIII, o número havia subido para 220 igrejas Batistas na Grã-Bretanha.
Esses homens eram grandes evangelistas e pregadores, incansáveis, movidos pelo Espírito de Deus para pregar a Palavra. Pense em você por um instante. Pense no seu entusiasmo na obra de Deus. Reflita sobre como está o seu espírito e seu coração diante da ordem de Jesus de sair e pregar a Palavra. Como está o seu interesse no crescimento do Reino de Deus, no plantio de igrejas e na criação de comunidades de fé bíblica que se levantem contra as trevas deste mundo?
Nossos pais tinham grande interesse. Por favor, olhem para o slide: este é um mapa que mostra a expansão. Veja o ponto amarelo no mapa verde da Inglaterra: é Londres. A partir dali, eles alcançaram toda a Inglaterra. A expansão interna os levou até a Escócia, à esquerda, ao País de Gales e à Irlanda do Norte. Esse é o cenário da expansão interna em que nossos pais começaram a trabalhar. A Grã-Bretanha não é um continente; é uma ilha. Mesmo assim, o ardor de nossos primeiros pais era tão grande que só podemos louvar a Deus por suas vidas.
Agora vamos aos detalhes sobre a expansão externa dos Batistas. Mais uma vez, voltemos nosso olhar para os primeiros Batistas na Inglaterra. Eles foram obrigados a deixar sua terra por causa da perseguição religiosa. Não se esqueçam: o século XVII foi marcado por grande perseguição religiosa. Nossos pais Batistas foram duramente perseguidos. Não apenas eles, mas os Batistas foram os mais perseguidos de todos os grupos. Eles sofriam dupla perseguição: eram perseguidos pela Igreja da Inglaterra porque não pertenciam a ela, e a Igreja da Inglaterra perseguia todos que se separavam, incluindo presbiterianos e congregacionais. Contudo, os Batistas eram ainda mais perseguidos.
Esses grupos que saíram da Igreja da Inglaterra, porque os Batistas eram credobatistas, negavam o batismo infantil, e os grupos reformados que praticavam o batismo de crianças acabavam perseguindo os nossos pais Batistas. Mesmo assim, eles acabaram lançando essa luz, essa tocha, por toda parte.
O primeiro movimento de migração dos Batistas ocorre por causa da perseguição, ou seja, eles foram banidos para a América do Norte, para as colônias da Inglaterra que existiam ali. Eles não foram para a América do Norte com o plano de evangelizar. Eles nunca fizeram uma reunião dizendo: “Vamos nos reunir e plantar uma igreja na América do Norte.” Não, eles foram forçados a ir para a América. Ou eram presos ou exilados para povoar as colônias inglesas na América, num trabalho obrigatório e forçado para não serem presos. Nossos pais, assim como muitos outros cristãos daquela época, decidiram entrar no Mayflower, um barco puritano, e zarpar da Inglaterra para a América do Norte. E foi lá que começaram a abrir igrejas.
Nos primeiros anos da década de 1640, eles começaram a plantar igrejas onde hoje é os Estados Unidos. A primeira igreja Batista plantada foi a Igreja Batista de Providence. Essa igreja foi plantada por um homem que foi banido, Roger Williams. Ele foi banido da colônia na América do Norte pelos pedobatistas, porque ele era Batista. Quando a multidão de crentes pedobatistas reformados chegou à América, banidos da Inglaterra e perseguidos pela própria Inglaterra, esses mesmos que haviam sido perseguidos começaram a perseguir os Batistas. O veneno que eles tinham que absorver da Inglaterra, eles lançaram sobre os Batistas.
Roger Williams foi expulso de uma colônia. Imaginem o que era uma colônia naquela época: um pedaço de terra cercado por uma muralha de madeira para que os índios não entrassem. Fora das muralhas, estavam completamente desprotegidos. Roger Williams foi jogado para fora da colônia no mais rigoroso inverno norte-americano. Milagrosamente, pela providência de Deus, ele conseguiu comprar terras dos índios. Os índios eram assassinos naquela época, e ser jogado para fora da colônia significava morte. Mas, pela providência divina, sem sequer saber a língua indígena a princípio, ele conseguiu negociar com os índios, comprar terras e, eventualmente, ir à Inglaterra obter o direito de fundar uma colônia. Ele deu a essa colônia o nome de Providence, e é ali que nasce a primeira igreja Batista na América do Norte, uma igreja Batista calvinista sob a liderança de Roger Williams.
Logo em seguida, outra igreja foi plantada em Newport, no estado de Rhode Island, por um pastor chamado John Clarke. E assim os Batistas começaram a povoar a América do Norte. Dessas duas igrejas, muitas outras surgiram. No século XVII, houve um desenvolvimento significativo na América do Norte. Os Batistas reformados se organizaram, formando associações, e o número de igrejas aumentou. O fervor missionário que tinham na Inglaterra foi levado para a América do Norte, e eles continuaram a multiplicar igrejas, pregar a Palavra e plantar novas comunidades de fé.
Pouco tempo depois, com a América do Norte já povoada e muitas igrejas plantadas, ainda no século XVII e início do século XVIII, foi criada a Associação Batista da Filadélfia. Várias igrejas faziam parte dessa associação, que adotou a Confissão de Fé Batista de 1689. Todas as igrejas que queriam participar dessa associação precisavam subscrever a confissão, que naqueles dias era chamada de Confissão de Fé da Filadélfia, uma cópia da de 1689. Mais tarde, eles criaram outra associação, a Associação Batista de Charleston, que desenvolveu um catecismo para ensinar adultos, jovens e crianças, também baseado na Confissão de Fé Batista de 1689. Posteriormente, fundaram a Associação Batista de Sandy Creek, igualmente baseada na fé dos primeiros Batistas de 1689.
O que quero enfatizar é que nossos pais na América do Norte trouxeram a mesma doutrina calvinista e o mesmo vigor missionário. Em uma aula, eu perguntei algo aos alunos que agora compartilho com vocês. O que vemos hoje são pessoas alegando que os Batistas não podem ser calvinistas ou evangelistas, que Batistas calvinistas eram contrários às missões e à evangelização porque acreditavam na eleição e na predestinação, e por isso não saíam para evangelizar. Mas a história mostra que quem evangeliza e lança a semente do Evangelho são os Batistas calvinistas e reformados.
No século XVIII, surge o plano de missões. Depois de experimentar grande crescimento nos Estados Unidos, os Batistas reformados começam a focar missões pelo mundo. É aí que recebemos missionários Batistas no Brasil. Amanhã falarei mais sobre isso. Batistas dessas associações, especialmente da Associação Trienal e da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, por meio da Junta de Richmond, que era o braço missionário daquela convenção, enviaram missionários para várias partes do mundo, incluindo o Brasil.
Assim, foram nossos pais com esse ardor no coração que enviaram missionários para todas as partes. Esse slide mostra para vocês o movimento de expansão externa dos Batistas. Veja aí na Grã-Bretanha, olhe a seta saindo da Grã-Bretanha para o continente americano, América do Norte. Lembrem-se, esse primeiro movimento não teve um foco na realização de missões evangelizadoras, mas sim na instalação e na vida longe de perseguições. Eles foram para lá fugindo da perseguição, para que pudessem, naquele lugar, adorar a Deus livremente, como faziam na Holanda, que era outro destino comum. Mas qual foi o resultado dessa migração que, a princípio, não tinha foco missionário? O resultado foi que eles plantaram muitas igrejas.
Sabe, irmãos, pode ser que uma igreja pense assim: “Vamos plantar uma igreja com alguns irmãos, mas não vamos nos preocupar em nos disseminar ainda. Vamos apenas plantar, nos fortalecer, estudar a doutrina, crescer aqui, e quando estivermos com 10, 20, 30, 40 anos bem fortalecidos, bem estruturados, aí sim vamos fazer a obra de missões.” Isso foi tudo o que nossos pais não fizeram. Eles fizeram o contrário. A obra de missões vinha sempre em primeiro lugar. Eles estavam instalando igrejas e já plantando outras, já pregando o evangelho em outro lugar, já lançando a semente em outra parte, já enviando homens para outros territórios. Sempre foi assim, nos primeiros séculos e em todos os lugares onde nossos pais Batistas estiveram.
Em segundo lugar, a pregação e o ensino resultaram em conversões. Mas quem eram os convertidos no início, se estavam ali apenas os banidos da terra? Sabem quem estava se convertendo com a pregação dos nossos pais Batistas? Presbiterianos. Muitos deles, que eram batizados na infância, não eram verdadeiros convertidos, mas filhos de crentes que cresciam dentro da igreja sem jamais ter experimentado a verdadeira regeneração. Quando se deparavam com a pregação da palavra, criam no Senhor Jesus e passavam a fazer parte da comunidade Batista.
Sabe quem mais? Batistas gerais. Alguns poucos estavam chegando ali nos Estados Unidos, na América do Norte, e quando ouviam uma pregação, quando eram confrontados com aquela mensagem, passavam a entender que haviam crido de forma inadequada e migravam para o grupo de Batistas reformados. E os católicos romanos? Eles também ouviam a pregação da palavra por meio de nossos pais, eram desafiados em sua fé, confrontados com a Escritura, criam no Senhor Jesus e faziam parte dos Batistas reformados. Houve, por meio do ensino da Bíblia e da pregação da palavra de Deus, conversões genuínas entre os Batistas. Somente mais tarde, quando a América começou a ser mais povoada, é que o evangelho começou a alcançar outras pessoas.
Em terceiro lugar, a partir dessas igrejas que nasciam na América do Norte, houve um despertamento para a obra missionária mundial. Somos muito devedores aos nossos pais Batistas dos Estados Unidos, porque o Senhor Deus pôs no coração daqueles irmãos um tipo de fogo missionário, uma tocha para alcançar o mundo inteiro. Foi da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos que saíram os missionários que levaram a palavra de Deus para toda a terra. Aqueles irmãos americanos enviaram missionários para o Brasil, para muitos outros países da América do Sul, para o Oriente, para o Japão e para tantas outras partes do mundo com o único intuito de pregar a palavra de Deus.
Todo esse movimento, todo esse ardor que havia no coração dos nossos irmãos, foi fomentado pelo entendimento que tinham da Escritura Sagrada, por suas doutrinas, pelo seu ardente calvinismo que, longe de impedi-los de pregar, os impulsionava a proclamar a palavra de Deus. Foi esse entendimento teológico, o conhecimento das verdades profundas da Bíblia, que os motivou. Eles entendiam que, se Deus predestinou um povo para a salvação, esse povo seria salvo, e que o meio para a salvação era ouvir o evangelho. Assim, eles sabiam que eram chamados a pregar o evangelho, e foi isso que fizeram.
Se Deus elegeu um povo, há um povo que será salvo por meio da pregação da palavra. Isso impulsionava nossos pais a pregar. Eles não ficavam sentados esperando Deus salvar. Eles levavam o evangelho porque sabiam que Deus salvaria por meio da pregação, da disseminação da palavra por toda parte. Eles criam nisso, e a obra foi realizada. Os Batistas não tinham medo de fracasso. O “fracasso” — vou abrir aspas aqui, porque não era fracasso de jeito nenhum — era a falta de conversão. Eles não temiam pregar e as pessoas não ouvirem o evangelho, porque sabiam que toda a obra de salvação estava sob a soberania de Deus.
Eles diziam: “Deus nos levantou para pregar, para sermos arautos do evangelho, para lançarmos a semente na terra.” Mas sabiam que fazer a semente germinar era obra do próprio Deus. Eles não consideravam a evangelização um fracasso. Eles consideravam a soberania de Deus em primeiro lugar. Pensem assim, meus irmãos: considerem que vocês são chamados por Deus para levar a sã doutrina de Jesus Cristo ao mundo inteiro, e que a obra será realizada pelo próprio Deus. Considerem que vocês são trabalhadores na seara de Cristo, nada mais que trabalhadores, e que o Senhor é o dono da obra. Ele fará germinar a semente que vocês lançarem. Ele dará crescimento ao trabalho que vocês realizarem. Ele fará com que a palavra chegue ao coração das pessoas a quem vocês pregarem. Não pensem em fracasso.
Quero terminar com uma história de um homem que pregava o evangelho para um amigo por muitos anos. Ele orou a Deus dizendo: “Senhor, vou com todas as minhas forças me dedicar a salvar o meu amigo pela pregação da tua palavra. Abre o coração dele, Deus.” E aquele homem, dia após dia, em cada oportunidade, em cada visita que fazia ao lar do amigo, pregava Cristo. Ele falava de Jesus e da salvação, mas seu amigo era duro como concreto, firme como uma barra de ferro. Ele sempre tinha uma resposta, nunca dizia sim ao evangelho. Anos e anos se passaram, e aquele amigo permaneceu imutável.
Finalmente, esse homem precisou sair do país para uma missão. Ele partiu, triste, e orou: “Ó Deus, eu te pedi aquela alma, supliquei pelo meu amigo, mas o Senhor é soberano. Te agradeço por isso.” Anos depois, ele voltou a visitar aquela mesma cidade, mais de dez anos depois, e para sua surpresa, aquele amigo havia sido alcançado pela palavra de Deus. E sabem como? Nenhum outro missionário pregou para ele, mas ele contou que começou a sentir falta das visitas do amigo. Ele disse: “Todos os dias, praticamente, eu ouvia alguém bater na minha porta. Era meu amigo, e ele trazia a palavra de Jesus para mim. Eu não gostava daquilo, mas gostava da companhia dele.” E então, ele começou a lembrar das conversas, a pensar no que o amigo dizia, até que um dia, refletindo sobre Jesus, foi tão tocado que caiu no chão, dobrou os joelhos, chorou, e entregou a vida a Cristo.
Vocês percebem o poder da palavra de Deus? A semente foi lançada, e anos depois ainda estava no coração e na mente daquele amigo. Ao meditar naquelas coisas grandiosas, ele se rendeu aos pés de Cristo. Preguem a palavra. Talvez seus olhos não vejam a conversão de um amigo ou familiar querido em seus dias, mas, se for da vontade de Deus, a palavra que vocês lançaram pode vir a dar fruto no tempo certo. Amém. Muito obrigado, irmãos. Que Deus seja louvado por isso.