A providência de Deus na vida de homens ímpios

[Texto não revisado]

 

Amada igreja, nós vamos na noite de hoje meditar no texto da palavra de Deus que se encontra no Antigo Testamento, Deuteronômio, capítulo 2, abram suas Bíblias em Deuteronômio, capítulo 2 e mantenham aberta. Por enquanto deixem suas Bíblias abertas em Deuteronômio, capítulo 2.

 

Essa noite eu quero tratar com vocês acerca de um tema relacionado à doutrina da providência de Deus. Inclusive, hoje pela manhã, quando estávamos realizando a profissão de fé dos irmãos, aqui na igreja, houve um momento em que surgiu a pergunta sobre como nós devemos considerar a mão de Deus através de eventos maus, coisas danosas e vocês responderam de maneira correta, que todas as coisas estão debaixo desta providência de Deus, desta mão de Deus poderosa. Nada acontece fora dela.

 

Acontece, igreja, que nós às vezes pensamos na doutrina da providência apenas como uma doutrina em que Deus providencia coisas boas para nós. Você se alegra com uma coisa que funcionou bem com você e diz: “a providência de Deus é maravilhosa”, mas às vezes nós acabamos nos esquecendo de que esta providência não é seletiva em relação ao tipo de ação que ela executa; ela também traz o mau. A mão de Deus também traz juízo na sua providência e mais do que isso, irmãos, essa providência divina atua de uma maneira tão extraordinária que até mesmo na vida dos homens ímpios e maus o Senhor Deus, pela providência, realiza por meio dos próprios pecados deles, o seu plano e o seu propósito maravilhoso.

 

Na nossa vida nós frequentemente somos confrontados com essa realidade do mal. O mal existe, ninguém duvida da existência do mal; ele está em todo lugar, ele está nas pessoas, nós somos atingidos por ele de uma forma ou de outra. Ninguém discute que o mal está presente; o pecado é mal por si mesmo, então, nós temos uma convivência e uma familiaridade com o mal de maneira que ele está presente e nós não podemos duvidar disso. Mas às vezes nós observamos que as pessoas, alguns homens, mulheres, acabam escolhendo caminhos que são maus e nós logo podemos olhar para alguns desses caminhos e dizer: “isso não vai terminar bem, essa escolha não é boa, não é correta, não trará bons resultados”, e às vezes, diante disso, nós nos perguntamos: “onde está Deus quando alguém escolhe um caminho de ruína e de miséria como esse?” E: “Por que Deus não intervém na sua providência para livrar tal pessoa?” Você diz, “eu estou vendo que isso não vai acabar bem, está muito claro que esse caminho é de morte e miséria, por que que Deus não intervenha aqui?”

 

É uma dúvida sincera, irmãos, e a Bíblia nos mostra que Deus na sua providência não apenas permite que tais escolhas aconteçam, mas em sua própria justiça, ele muitas vezes endurece o coração daqueles que já se voltaram contra ele e já decidiram andar em maus caminhos.

 

Nós acabamos de ler aqui na igreja, durante uma sessão do culto, Romanos 9, e ali o apóstolo Paulo diz que Deus endureceu o coração de Faraó. Está claro nas Escrituras que essa é uma verdade que nós não podemos questionar. Deus permite que tais homens avancem ainda mais em um estado de obstinação e pecado. O próprio Deus, perceba bem, entrega o homem ao seu coração de maneira que o homem não só peque contra Deus e contra o seu próximo, mas se aprofunde no pecado; ele mergulha mais profundamente e desce mais fundo no pecado.

 

Deus permite isso. Esse endurecimento de coração, irmãos, não pode ser visto como uma imposição externa, mas uma ação divina do próprio Deus que confirma e que expõe o que já está presente no coração do homem, levando às consequências dessa própria rebeldia. Endurecer o coração em outras palavras, significa Deus permitir que o homem dê vazão aquilo que ele mesmo deseja no coração. O Senhor, o nosso Deus, é tão maravilhoso que ele refreia o mal em nós; refreia o pecado em nós.

 

Você não é tão mal quanto pode ser, quanto tem capacidade e potencial para ser, e você não é tão mal assim porque Deus não deixa que você vá muito longe na sua maldade. Deus refreia a sua maldade. Mas com alguns homens, irmãos, o Senhor Deus permite que eles avancem mais e mais no pecado para a sua própria ruína e condenação. Essa ação soberana de Deus revela algo muito profundo sobre essa doutrina da providência. Deus é capaz de usar as próprias escolhas e os pecados das pessoas para cumprir a sua providência e o seu plano, os propósitos de Deus. Ele é capaz de usar os pecados dos homens para cumprir o seu plano e para exercer ao mesmo tempo juízo e até para trazer bênção através disso.

 

Na providência divina o conhecimento não é apenas um ato de juízo da parte de Deus. É também um ato de juízo da parte de Deus, mas de uma maneira tão poderosa e especial, Deus permite que o pecado siga o seu curso natural para que o homem entenda que ele é pecador de fato e que não é Deus que está empurrando o homem sujeito ao pecado. Às vezes a pessoa olha para a doutrina da providência, para esse lado da providência em relação ao pecado e das ações pecaminosas, e acaba pensando que Deus é quem faz as pessoas pecarem. Deus não faz o homem pecar. Ele permite que o homem avance no próprio desejo que há no seu coração.

 

Ele permite que o homem peque e peque cada vez mais, mas de uma maneira tal que ele usa até esse pecado para que o seu propósito e o seu plano eterno sejam realizados de maneira suprema e sem erro. Olhe, por favor, para Deuteronômio 2:26-30, porque aqui temos uma lição da providência de Deus.

 

“E enviei mensageiros do deserto a Quedemote, de Quedemote até Seom, rei de Hesbom, com palavras de paz, dizendo, deixa-me passar pela tua terra, passarei pela estrada e não desviarei a mão, nem para a direita, nem para a esquerda. Tu me venderás água por dinheiro para que eu possa comer e me darás água por dinheiro para que eu possa beber. Somente passarei a pé, como fizeram comigo os filhos de Esaú, que habitam em Seir e os Moabitas que habitam em Ar, até que eu passe o Jordão e entre na terra que o Senhor nosso Deus nos dá. Mas Seom, rei de Hesbom, não quis permitir que passássemos por ele, porque o Senhor, teu Deus, endureceu o seu espírito e tornou o seu coração obstinado, para que pudesse entregá-lo na tua mão, como se vê neste dia.” Amém.

 

Vamos orar, irmãos:

 

Senhor nosso Deus, Deus todo poderoso, Deus da providência, que comanda todas as coisas conforme o seu poder e a sua vontade, que opera dos céus e realiza todas as coisas de maneira sábia e poderosa. A ti, Senhor Deus, elevamos nossos corações e almas para suplicar ao Senhor que nessa noite, mais uma vez, pelo teu Filho, fale conosco com misericórdia e paz e nos ajude, Deus, a conhecê-lo um pouco mais para a glória e para a exaltação do teu nome. Senhor, envia o teu espírito sobre nós de maneira poderosa, pai, para que venhamos a compreender e ser edificados pelo Senhor e entender a tua palavra e nos alegrarmos nela, Senhor Deus, como aqueles que se deliciam com favos de mel. Senhor, nos ajude pelo Espírito Santo, pai, a compreender a profundidade destas coisas tão grandes, para não cometermos erros, para não interpretarmos a tua palavra de forma equivocada, mas entendermos plenamente pelo Espírito Santo o significado dessas coisas tão elevadas. Ó Deus, nós te pedimos em nome de Jesus Cristo, seja conosco nessa noite, mais uma vez, pai, e nos ajude com a tua palavra em nome de Jesus. Amém!

 

Nós temos aqui a doutrina da providência de Deus diante de nós, mas aquele lado da providência que atua no coração dos homens ímpios, da parte maldosa ou dos próprios pecados que residem no coração deles.

 

O contexto dessa passagem precisa ser elucidado para que a gente entenda muito bem. Quando Moisés escreve essas palavras, ele está se dirigindo ao povo de Israel. Deuteronômio é um livro que foi escrito quando o povo estava no deserto, saiu do Egito, mas ainda não havia cruzado o Rio Jordão, nem entrado na terra prometida. Eles ainda estavam no meio do caminho, quase chegando, mas ainda não haviam entrado na terra.

 

E quando eles saíram do Egito pela mão poderosa de Deus, o Senhor foi conduzindo aquele povo, conforme a sua própria direção, pelo caminho que Deus quis levá-los. Os estudiosos, quando olham para a rota que os filhos de Israel tiveram que passar (eles saíram do Egito, foram para Canaã), aquela rota, irmãos, era uma rota muito rápida de ser feita. É claro que eles não precisavam passar 40 anos no deserto. Eles poderiam ter chegado muito rapidamente, em questão de poucas semanas, mas por causa do pecado e da dureza do coração deles, passaram 40 anos no deserto.

 

É nessa ocasião que Moisés escreve esse livro. Ele está registrando uma das passagens dos filhos de Israel naquele deserto. O povo de Israel precisava cruzar alguns territórios que já eram habitados e povoados para poder chegar ao seu destino, a terra de Canaã. Um desses territórios era o território de Hesbom, cujo rei era Seom. A Bíblia registra esse homem, Seom, como um homem muito valente, um guerreiro, poderoso e temido. E o povo de Israel precisava passar por dentro das terras daquele rei, temido e valente.

 

Imagine que nós estamos aqui em nossa cidade, tranquilos, e de repente chegam alguns mensageiros para falar com as autoridades da nossa cidade. Esses mensageiros diziam: “Está vindo logo atrás de nós uma multidão de gente, cerca de um milhão ou um milhão e meio de pessoas, e eles precisam passar por dentro desta cidade, porque o destino deles é mais adiante, e não há como ir por outro lado, não dá para desviar. A única rota é essa que nós temos aqui. Mas não se preocupe, pois tudo o que eles comerem aqui, eles pagarão, eles querem pagar. E toda água que eles consumirem nos rios, nas lagoas, eles irão pagar por cada gota da água. Eles vão passar a pé, não será montado em animais, eles vão passar caminhando, não vão parar, vão simplesmente cruzar o território o mais rápido possível, para não causar nenhum transtorno, nenhum dano maior.”

 

Foi exatamente isso que Moisés mandou dizer. Ele enviou mensageiros até o rei, o rei Seom, de Hesbom, com essa notícia, com a proposta de pagar para passar pela terra dele. Era como se fosse uma espécie de pedágio daqueles dias. Para passar, temos que pagar. Porém, o texto diz que o rei de Hesbom não quis permitir que os filhos de Israel passassem. Ele manda dizer: “não passarão!” “Pelas minhas terras, não passarão!”

 

Se Israel não passasse por aquelas terras, teriam que arrodear uma parte, fazer um contorno, que era praticamente impossível. Imagine você fazer uma passagem rápida por um lugar, cruzar uma ponte, atravessar um rio, logo você está do outro lado, é rapidinho, não é? Imagine a cidade de Timon, ela está lá do outro lado. Se não tivesse ponte, irmãos, como faríamos para chegar em Timon? Se não tivéssemos barcos, como atravessar o rio? Nós teríamos que arrodear por alguma passagem que não houvesse água para poder chegar do outro lado. Era exatamente essa a dificuldade. Israel não tinha outra passagem.

 

Todas as outras opções eram totalmente inviáveis. Então, o rei de Hesbom disse: “não passarão, não permito que passem.” E eu fico perguntando a mim mesmo, pensando nessa passagem, por que aquele homem recusou que algumas pessoas passassem pelo seu território? Que mal isso poderia causar? Além do mais, ele ia receber muito dinheiro. O pagamento seria generoso, porque seria muitas bocas comendo e bebendo. Provavelmente eles demorassem ali algumas semanas cruzando a terra, talvez pelo menos alguns dias fossem necessário para cruzar todo o território. O rei receberia recursos generosos só por permitir que Israel passasse. Mas ele bate o pé e diz, “não passarão. Por aqui, não passarão.” Bom, para chegar na terra que Deus prometeu dar aos filhos de Israel, eles tinham que passar por lá.

 

Há algumas coisas que devem ser levadas em consideração. A primeira delas é que Deus empenhou sua palavra de que Israel entrariam na terra de Canaá. Então, eles tinham que passar. Deus prometeu e eles teriam que passar por ali. É claro que eles não poderiam passar voando. Eles tinham que passar pela terra. Cruzar a terra. Mas o que nós devemos ver, sobretudo aqui, é a mão invisível da providência de Deus endurecendo o coração do rei Hesbom para que ele não permitisse que o povo passasse.

 

Essa passagem foi muito importante para os nossos pais batistas particulares, quando eles escreveram o sexto artigo do capítulo 5 da Confissão de Fé de 1689. Naquele artigo sexto, eles falam justamente da providência de Deus em relação aos homens ímpios e maus. Os batistas olharam para esta passagem de Deuteronômio e usaram-na como uma base para a doutrina que eles estão ensinando na confissão. Confissão de Fé Batista de 1689, capítulo 5, parágrafo 6. Prestem atenção. O texto diz o seguinte:

 

“Quanto aqueles homens perversos e ímpio… algumas vezes também retira os dons que já tinham e os expõe a tais coisas que a corrupção deles torna em ocasião de pecado. E, ademais, Deus os entrega às suas próprias concupiscências, desejos, às tentações do mundo e ao poder de Satanás, de maneira que acabam por oferecer-se em suas próprias iniquidades para sua própria condenação e ruína.”

 

Note que a Confissão diz que Deus, muitas vezes, “expõe tais coisas que a corrupção deles torna em ocasião de pecado”. Aqui é exatamente esta passagem de Deuteronômio que os nossos pais tem em mente. O Senhor Deus pôs no coração do rei de Hesbom, nesta ocasião do pedido de Israel por passagem, pela sua invisível providência, um não retumbante, não permitindo que o povo de Israel cruzasse a terra, mas isso para a própria ruína do rei, não para a ruína dos filhos de Israel. A providência aqui, na verdade, era para trazer juízo sobre o rei e, ao mesmo tempo, abrir o caminho para que o povo de Israel entrasse na terra prometida, como o Senhor havia predito em sua palavra.

 

Diante disso, meus irmãos, eu quero apresentar algumas considerações nesta passagem, que nós precisamos enxergar de maneira muito clara. A primeira delas é em relação à soberania de Deus e à sua providência. Essa passagem destaca a soberania de Deus sobre as nações e os eventos históricos. Esse é um evento histórico. Um dia, no passado, o povo de Israel passou pelo território de Hesbom, do rei Seom. Isso aconteceu de verdade, não é uma lenda, não é um mito, é um fato histórico e Deus, em sua providência, governa os fatos históricos. A história é dele; ele escreveu a história, ele determinou a história e, aqui, nós estamos vendo exatamente isso. Deus vai conduzindo o seu plano, Deus vai conduzindo a sua história de maneira que o povo de Israel vai passar pela terra, porque o Senhor Deus é soberano e poderoso para fazer isso. O rei de Hesbom, o rei Seom, não poderia, de forma nenhuma, por meio nenhum, impedir o povo de Israel de passar.

 

Na verdade, essa obstinação dele está sendo usada pelo Senhor para que o povo de Israel passe, porque haverá guerra por causa disso. A soberania de Deus está ligada, nesse episódio, à guerra que vai acontecer entre Israel e Seom. O Senhor é o Senhor de todos os reis da terra e ele direciona os acontecimentos do mundo de acordo com o seu plano. Em Provérbios 21 está escrito que Deus inclina o coração dos reis para fazer aquilo que ele quer: “Como um ribeiro de águas, assim é o coração do rei nas mãos do Senhor. Este o inclina para onde quer.”

 

Quem fez os ribeiros de águas? Quem fez os rios que cortam a terra? Não foi o Senhor, o nosso Deus? E quem desenhou o traçado dos rios, e por onde eles vão passar? Não foi o Senhor, o nosso Deus? “Assim é o coração do rei”, diz Provérbios. Deus inclina o coração do rei para fazer tudo o que Ele quer. Tudo o que a providência o leva a realizar. Deus é o Senhor soberano de toda a história, dos atos históricos, dos acontecimentos, dos reinos, de tudo. Ele guia os povos, irmãos. Ele faz um exército vencer ou perder uma batalha. Ele faz um país prosperar ou afundar. Ele faz um país ter paz ou viver em um clima de guerra, destruição e medo. É a providência invisível de Deus que mantém estas coisas assim.

 

Eu já ouvi muita gente falando coisas do tipo, “o Brasil é um país maravilhoso, porque aqui não há guerras, porque aqui não tem terremotos, não tem os tsunamis, no Brasil não tem aqueles tornados. É um país bom demais.” Mas pessoas não olham para a providência quando falam sobre essas coisas. Elas olham para as coisas naturais quando estão pensando nisso. Olham para a localização geográfica do país e dizem, “não tem terremotos porque o Brasil não está no meio de placas tectônicas grandes, que são propícias a terremotos.” Dizem: “O Brasil não tem tornados, coisas assim, por conta das condições climáticas do país, da posição do país”, etc. Nunca lembram, irmãos, que na verdade é a providência de Deus que garante a estabilidade. É a providência de Deus que governa o nosso país. Deus pode mudar isso a qualquer tempo. A qualquer momento, a qualquer instante, Deus pode mudar o cenário do Brasil.

 

Em segundo lugar, o nosso texto fala sobre o endurecimento do coração como parte da ação da providência de Deus nos homens. Essa ideia de que Deus endurece o coração de Seom, como vimos aqui, ela deve nos fazer, imediatamente, voltar a nossos pensamentos àquela passagem de Romanos 9, quando Paulo diz que Deus endureceu o coração do faraó nos dias do Êxodo. Esse endurecimento do coração, no sentido teológico, representa um juízo de Deus sobre uma pessoa que já rejeitou completamente se submeter à vontade de Deus.

 

Pense mais uma vez sobre o caso do faraó. Vamos recordar aquela passagem de Êxodo. Ali, várias vezes, Deus enviou Moisés ao faraó dizendo: “liberte meu povo para que eles saiam daqui e me adorem no lugar que eu designei”. “Liberte os filhos de Israel.” E o faraó obstinado dizia, “quem é o seu Deus? Eu não conheço esse Deus.” “Não libertarei, serão escravos.” E não os libertava. Então, Deus começou a endurece-lo com a sua mão poderosa, e a castigá-lo trazendo as pragas do Egito. Ele trouxe várias pragas sobre o Egito, dez ao todo, sempre aumentando em intensidade, dor e pressão. Isso só mostra, irmãos, que o faraó nunca, nunca decidiu de coração deixar o povo ir. Isso mostra que a obstinação dele foi aumentando, aumentando, aumentando…

 

Ele foi dizendo não para Deus. Ele foi desobedecendo a palavra de Deus. Ele foi rejeitando as ofertas. Ele foi sempre se colocando como adversário de Deus. Até o ponto em que Deus disse, “Então, endurecerei o teu coração para que você faça de fato o que está nele”. É um juízo de Deus entregar um homem ao seu próprio coração. Irmãos, nós devemos clamar a Deus todos os dias em agradecimento, porque o Senhor não permite que você seja guiado pelo seu próprio coração caído. O Senhor não permite nem endurece o seu coração em seus pecados. Imagine o homem ou a mulher que você seria se Deus entregasse você ao seu próprio coração.

 

Se Deus entregasse vocês aos seus próprios desejos e anseios do coração pecaminoso seria uma grande tragédia, certamente, irmãos. Aqui, o endurecimento do coração deve ser encarado como um juízo da parte de Deus. Deus endurece o coração no sentido de dar continuidade a uma disposição pecaminosa que já está no coração do homem. Significa realmente abrir as portas do coração pecaminoso e liberar o mal que está nele. É dar vazão a tudo que há nele. Permitir que tudo que há no coração saia e execute o desejo.

 

Várias vezes na história bíblica, Deus entregou homens aos seus corações. Em nenhuma das ocasiões isso é visto como uma graça divina. Pelo contrário, em todas as ocasiões isso é um juízo, e um terrível juízo da parte de Deus. Romanos capítulo 1, quando fala sobre o pecado da imoralidade sexual é um exemplo. Deus diz que por causa do pecado, da dureza deles, Deus entregou tais homens a sua própria sensualidade para fazerem aquilo que o coração deles desejava fazer em relação à imoralidade sexual. Daí emergiu pecados como o homossexualismo. Porque Deus entregou tais homens a essas paixões infames, como descreve ali o apóstolo Paulo. Nunca a Escritura vai mostrar o endurecimento do coração ou a entrega de tais homens aos seus próprios corações como sendo um ato de graça, como se algo bom pudesse sair dali. Nunca, irmãos.

 

Por isso, sempre agradeça a Deus por ele não entregar você ao seu próprio coração. A Bíblia diz claramente, “enganoso é o coração do homem mais do que todas as coisas.” O coração do homem não é só um poço de enganos e mentiras e maldade, ele é o mais profundo poço de engano e mentira. Ele é o ponto mais baixo da desgraça e do pecado. O coração! De lá a Escritura diz, “procedem os maus pensamentos, assassinatos”, tudo, tudo vem do poço da maldade do coração. Então, quando um homem é entregue a isso, irmãos, é um juízo da parte de Deus.

 

A nossa confissão diz, como nós lemos agora a pouco, que Deus faz isso, muitas vezes, para punir pecados anteriores. Ou seja, entregar ao próprio coração é uma forma de julgamento divino contra o seu pecado. É como se Deus dissesse o seguinte: “você cometeu muitos pecados, já se rebelou tantas vezes, você se contrapõe a minha palavra tantas vezes, pois agora eu vou te punir, eu vou trazer um juízo sobre você”, e você pergunta: “que juízo será esse Senhor?” E Deus diz: “você será guiado pelo próprio coração.” Isso é um julgamento terrível, irmãos. Sabe aquelas pessoas que não querem que ninguém cuide da vida delas? Aquelas pessoas que dizem, “eu quero ser livre, eu quero viver a vida como eu quero, eu quero governar a minha vida.” Ela deseja se desamarrar dos enlaces divinos. Ela quer dizer o seguinte: “eu não quero que Deus se meta na minha vida, eu não quero que ninguém se meta na minha vida, eu quero fazer aquilo que eu acho certo, que eu acho melhor, eu quero fazer aquilo que eu tenho vontade de fazer.” Essa pessoa não sabe, mas ela está pedindo para ser entregue ao próprio coração. E isso é uma grande ruína. Isso é uma grande miséria e pecado. Os homens, em lugar de pedirem isso, deveriam pedir para serem entregues à Palavra de Deus. É o que o Salmo 119 nos ensina, que devemos ser entregues, não ao nosso coração caído, mas à palavra de Deus e ser conduzidos pela palavra de Deus.

 

E ainda mais um ponto. Temos na divina providência tanto atos de justiça da parte de Deus, como atos de juízo da parte de Deus. Essa doutrina está implícita na ideia de que Deus exerce juízo sobre os inimigos de Israel, aqui, o rei Seom. Quando Deus endurece o coração dele e ele se recusa a permitir que Israel passe pelas suas terras, ele encontra a oposição divina. O Senhor, sem que ele perceba e sem que ele saiba o que está acontecendo, já está julgando e fazendo justiça contra ele. Essa atitude, como nós vamos ver nessa história, não vai terminar bem, ela termina em ruína e derrota, em desgraça e morte para Seom e para o seu reino. Porque, na verdade, esse endurecimento do coração que vinha da parte de Deus, era para que Israel conquistasse a terra, para que Israel possuísse a terra.

 

Note que não era plano de Israel ficar na terra. Eles queriam apenas passar pela terra, para chegar do outro lado do Rio Jordão, e entrar na terra prometida. Mas, por causa do pecado, Deus trouxe juízo sobre aquele rei e aquela nação e deu a Israel terras do lado de cá do Jordão, a Transjordânia. Há duas tribos que ficaram do lado de cá; essas tribos estão em terras que foram julgadas pela mão de Deus, que são frutos de um juízo divino, da justiça de Deus sobre eles.

 

Há uma lição muito importante que temos que ter em mente em todos os atos da providência de Deus, mas principalmente em atos da providência como esse, em que o Senhor Deus endurece coração; em que o Senhor Deus faz com que os homens caiam nos seus próprios planos. Os próprios planos humanos são a ruína deles, a própria maldade do homem vai redundar na desgraça deles. Veja, Seom não deixa Israel passar, isso gera uma guerra e Seom e seus homens são derrotados e aniquilados. E tudo isso, diz o texto, vem do Senhor. O verso 31diz, “e o Senhor me disse”, diz Moisés, “eis que tenho começado a dar-te Seom e a sua terra diante de ti.”

 

Começa a possuí-la para que possa herdar a sua terra. É o Senhor quem estava dando a terra de Seom para Israel. Era parte do plano divino da providência que Israel possuísse aquela terra, não só passasse por ela, mas ficasse nela, e algumas tribos ficaram na terra. Amados, o que nós devemos aprender com isso? Devemos aprender a repousar na providência de Deus em qualquer situação. E eu me refiro a descansar na providência, porque, como eu disse agora há pouco, é muito fácil descansar na providência quando ela é favorável. Mas descansar na providência, quando as coisas são duras para nós, é mais difícil. Então, aprenda a descansar na providência, porque há um Deus que a governa, a dirige, é o Senhor de toda a história.

 

Em segundo lugar, jamias culpem Deus pelo pecado do homem. Não digam, “a providência é a autora do pecado.” A providência conduz as coisas, ela usa as coisas para que o plano de Deus seja realizado. Deus executa a sua vontade por meio das ações maldosas e pecaminosas dos homens. É assim que temos que entender a providência. E nunca tentar dizer, Deus é o criador do pecado, Deus fez o homem pecar. Não, Deus não faz o homem pecar. Mas Ele trabalha de forma misteriosa, nos caminhos de sua providência, mesmo com os pecados dos homens.

 

Lembrem, para encerrarmos, do caso de José do Egito. A história de José é a história da providência de Deus, que foi aberta para nós. Nós temos o privilégio de as Escrituras Sagradas terem nos mostrado e explicado como funciona a providência de Deus, naquele episódio. O filho de Jacó, José, está com todos seus irmãos mais velhos, irmãos filhos de outras mães. E eles então decidem dar um fim em José, porque perceberam que o seu pai gosta mais de José do que deles. E trata José de maneira diferente. Por isso querem matá-lo. Fazem uma reunião para saber que fim darão a José. Até que um dos irmãos diz “não, não vamos sujar nossas mãos com o sangue do nosso próprio irmão. Vamos vendê-lo como escravo. Ele será levado para longe. Nunca mais teremos notícia dele. E diremos que ele foi comido por uma fera, um lobo, um animal selvagem.”

 

O plano passou. E ele foi vendido como escravo. E depois foi vendido de novo. Até chegar no Egito e trabalhar na casa de Potifar. E ali ele passou por todas aquelas coisas que nós conhecemos. Foi caluniado pela esposa de Potifar. Foi preso, lançado na prisão. Ali ele interpreta sonhos. Começa a subir de posição. O faraó manda chamá-lo porque ele teve um sonho estranho. E o sonho o estava incomodando demais. Ele quer a interpretação. E alguém diz, “tem um hebreu que interpreta sonhos. Ele está na prisão. Ele interpretou meu sonho.” E o faraó diz, “mande chamá-lo.” José vem e interpreta o sonho do faraó. E passa a ter ao lado de faraó autoridade no Egito. Se tornou governador de todo o Egito, abaixo apenas de faraó.

 

Vocês estão entendendo? Ele foi vendido como escravo. Seus irmãos eram perversos. Arquitetaram um plano terrível contra ele. Mas agora ele está abaixo apenas do faraó do Egito. Quem diria que seria assim? E mais, a providência de Deus não é sem propósito. Há um propósito. Ela é teleológica. Ela tem uma finalidade. José não é levado apenas para ser governador. Ele foi levado para salvar Israel. Essa é a providência de Deus. A nação ia morrer de fome. Jacó e seus filhos iriam morrer sem alimento e o povo Israel não existiria. Mas, pela providência, providência sobre atos maus, José foi colocado para livrar toda a nação, o Egito, os povos vizinhos, mas especialmente Israel. Porque de lá viria Messias, o Salvador, o nosso salvador de Judá.

 

Só sabemos disso porque a Bíblia revelou que Deus agiu em sua providencia pela maldade dos irmãos de José. A Bíblia nos mostrou um pouquinho do porquê da providência, de como ela age. Mas se nada disso nos fosse revelado, só iríamos achar que aquela era uma história interessante. Mas a providência está lá. Descansem nela. Olhem para Deus como o Senhor da providência, irmãos. Descansem porque vocês foram poupados dos vossos próprios corações. Que Deus seja louvado, irmãos. E o nome de Jesus Cristo, o Salvador, seja exaltado. Amém.

 

Senhor nosso Deus Todo-Poderoso, graças a nós te damos, Senhor, dos céus e da terra, pela tua graça e a tua grande misericórdia. Deus obrigado porque a tua mão poderosa está dirigindo a nossa vida, a igreja, bem como a vida de cada um em particular, pelos caminhos que te agradam, Senhor Deus, e que são bons e retos aos olhos do Senhor. Pai, obrigado, Deus, por nos preservar, por nos guardar, Senhor Deus, por nos livrar do nosso próprio coração, inimigo terrível que temos.

 

Vamos orar:

 

Senhor, nos ajude, Pai. Tenha misericórdia de nós ao longo de toda a nossa vida, para não cairmos em miséria e desgraça. Que a tua providência, Senhor Deus, sobre nós, seja misericordiosa. Tenha compaixão, Senhor. Guarda-nos durante esta semana que começa. Livre-nos de todo mal, Senhor Deus, e nos dá oportunidade de falar de Jesus, o Salvador, para outros homens e mulheres. Nós te pedimos que haja salvação por nossa instrumentalidade, que o Senhor use cada um de nós como servos do Senhor para levar a tua palavra. Pedimos isso em nome de Cristo Jesus, o nosso Salvador. Amém.