A Chegada dos Batistas no Brasil

Palestra sobre a história dos batistas no Brasil. Ocorrida na cidade de Manaus-AM, no primeiro semestre de 2024.

Igreja Batista Shekinah

 

 

Meus queridos irmãos, bom dia a todos. Que grande privilégio eu tenho de estar com vocês nesta manhã na casa de Deus, para assim continuarmos a nossa exposição sobre os Batistas e o seu ardor missionário. Espero, em Deus, que esse mesmo ardor que nossos pais demonstraram séculos atrás possa também ser um ardor genuíno e verdadeiro que habite em nosso coração. Que nós venhamos a olhar para a obra de Deus, para as missões, e nos alegrar com elas, participar delas, trabalhar, nos gastar e doar o que for possível, fazendo tudo ao nosso alcance para que a obra do Todo-Poderoso, por nosso intermédio, possa avançar não só aqui no Amazonas, mas também por toda parte, pelo mundo inteiro.

 

Hoje quero trazer aos irmãos um ponto importante da nossa história: a chegada dos Batistas ao Brasil. Ontem falei com vocês sobre o desenvolvimento dos Batistas e como eles tinham esse grande ardor missionário e evangelístico, como se multiplicaram ali na cidade de Londres nos primeiros anos do século XVII. Depois, num segundo movimento de expansão interna, os Batistas continuaram a crescer, desta vez por toda a Inglaterra. Em seguida, um novo momento, uma nova expansão, e os Batistas começaram a crescer por toda a Grã-Bretanha, alcançando outras regiões do país, como a Escócia, o País de Gales, e a Irlanda. Assim, rapidamente, no século XVII, os Batistas alcançaram toda a Grã-Bretanha, e o número de igrejas cresceu de maneira exponencial.

 

A primeira lição que isso nos ensina é que nossos pais, a primeira e a segunda geração de Batistas reformados, tinham esse ideal em seus corações: levar a Palavra de Deus e pregá-la. Eles acreditavam que Deus movia os corações por meio da Sua poderosa Palavra. Eles sabiam que eram instrumentos nas mãos de Deus para disseminar a Palavra do Senhor. Eles reconheciam que só o Senhor, em Sua soberania, poderia abrir os corações de homens, mulheres, crianças e idosos para crerem no Senhor Jesus Cristo. Eles entendiam que toda a obra era divina, que era a Palavra de Deus operando e salvando vidas. Mas, ao mesmo tempo, sabiam que eram os instrumentos de Deus, usados por Ele para a salvação.

 

Da mesma forma, devemos compreender que hoje, no século XXI, somos os instrumentos de Deus para a propagação do evangelho em toda a terra. Espero sinceramente que o mesmo ardor que havia no coração dos nossos pais também habite no nosso. A história dos Batistas, a história missionária, começa no Brasil de uma maneira bem interessante. Irmão, pode passar o slide. Antes de entrarmos nessa história, precisamos esclarecer alguns pontos importantes para que vocês possam entender melhor o contexto.

 

O primeiro ponto a ser meditado é que os Batistas foram acusados de forma injusta, com falsas alegações. Quero destacar algumas dessas acusações contra os Batistas calvinistas ou reformados. Esta palestra de hoje depende muito da de ontem, então, quem assistiu ontem pode perceber o que significa o termo “Batista reformado, calvinista ou particular.” É preciso pegar esse gancho para darmos continuidade. Entre as acusações injustas, uma das principais é que os Batistas não eram calvinistas. Essa falácia sobrevive até hoje. Muitas pessoas no nosso meio olham para as igrejas Batistas reformadas ou calvinistas e dizem que estamos fora da curva, que não somos verdadeiros Batistas. Eles afirmam que os primeiros Batistas não eram calvinistas e que essa ideia de calvinismo é nova, uma moda recente que muitas igrejas Batistas estão adotando.

 

Irmãos, isso é totalmente falso. Os Batistas sempre foram calvinistas. Se olharmos para a simbologia dos Batistas — ou seja, os documentos e símbolos de fé que nossos pais publicaram ao longo da história —, veremos que a nossa primeira Confissão de Fé, a Confissão de Fé Batista de 1644, é calvinista. Inclusive, ela é reconhecida pela Convenção Batista Brasileira como a primeira Confissão de Fé escrita e subscrita por várias igrejas Batistas no mundo. Quarenta anos depois, mais ou menos, surgiu a segunda Confissão de Fé, também escrita em Londres, que é ainda mais clara e precisa em seus pontos calvinistas.

 

Além disso, se você observar os catecismos baseados nessas confissões, verá que eles também apontam para um calvinismo vigoroso. Os primeiros Batistas escreveram muitos catecismos, livros com perguntas e respostas sobre teologia, que reforçam a doutrina calvinista. Se lermos os escritos de homens como Hanserd Knollys, Henry Jessey, Benjamin Keach, William Kiffin e tantos outros Batistas do século XVII, veremos que todos eles defendem a doutrina calvinista. Até os sermões desses pastores, preservados ao longo do tempo, mostram que nossos pais sempre defenderam essa fé.

 

Portanto, afirmar que os Batistas não são calvinistas é um grande erro. Desde o primeiro momento de seu surgimento, no ano de 1638, os Batistas sempre defenderam a soteriologia calvinista, a fé reformada. Outra acusação que surge é que os Batistas seriam hiper-calvinistas, o que é uma heresia. O hiper-calvinismo é uma distorção que exagera os ensinamentos de Calvino. Mas os nossos pais nunca foram hiper-calvinistas.

 

Se tomarmos, por exemplo, os sermões de John Bunyan, considerado por muitos o maior pregador puritano do século XVII, perceberemos que eles são repletos de chamados e apelos para que o pecador creia em Jesus, se arrependa dos pecados e venha a Cristo de todo o coração. Assim, à semelhança dos sermões de Bunyan, estavam os sermões e a fé dos nossos pais. Muitos outros exemplos de pregadores poderiam ser citados, mostrando como eles faziam de tudo ao seu alcance para que o pecador cresse em Jesus, abandonasse seus pecados e viesse a Cristo pela fé. Então, os Batistas não são hiper-calvinistas. Os Batistas calvinistas, quando olham para esses grupos de Batistas reformados, dizem que eles nunca tiveram uma tradição de evangelização, alegando que eram grupos que se desenvolviam a partir de famílias, mas sem um trabalho evangelístico, o que não é verdade. Eles acusavam que os Batistas acreditavam na predestinação e eleição de Deus, mas que isso significava que deveriam apenas ficar sentados esperando Deus trazer os eleitos para suas igrejas.

 

Os Batistas nunca acreditaram que deveriam ficar sentados sem agir. Eles sempre entenderam que Deus elegeu e predestinou homens para a salvação, mas também acreditavam que a igreja precisava ser ativa. Como eu expliquei ontem, se olharmos para a história da expansão interna dos Batistas, veremos que eles cresceram poderosamente em toda a Grã-Bretanha. Em 1638, havia uma única igreja Batista reformada, mas, em 1689, pouco mais de 40 anos depois, já havia mais de 107 igrejas Batistas. Veja quanto crescimento em apenas quatro décadas! Se não evangelizassem, como tantas igrejas nasceriam e se desenvolveriam?

 

No início do século XVIII, poucos anos depois, os Batistas na Grã-Bretanha já somavam mais de 220 igrejas. Em menos de 100 anos, passaram de uma para 220 igrejas. Isso demonstra que a ideia de que os Batistas não evangelizavam é completamente falsa. Quando vemos a história e o crescimento acelerado das igrejas Batistas, percebemos que a acusação não faz sentido.

 

Outros dizem que os Batistas calvinistas não têm organizações missionárias ou não realizam missões. Aqui é importante separar o que é evangelização do que é missões. Evangelização é fazer missões dentro do próprio país, como as Missões Nacionais. É o que acontece quando uma igreja envia missionários para fora de Manaus, para outras cidades do Amazonas ou até mesmo para outros estados do Brasil. Essa missão local é evangelização, como quando vocês desejam abrir um ponto de pregação em outro bairro de Manaus e enviam alguém para começar o trabalho, pregar e ser sustentado pela igreja. Isso é evangelização ou missões locais.

 

A acusação de que os Batistas calvinistas não realizavam missões fora da Grã-Bretanha é igualmente falsa, talvez a pior de todas. Os Batistas calvinistas são os pais das missões modernas. As missões modernas começam com William Carey, um pastor Batista calvinista de Londres no século XVIII. No final do século XVIII, esse homem partiu para a Índia, um país cuja língua ele não conhecia, sem um conhecimento profundo da cultura local. Ele levou sua família para plantar uma igreja Batista e expandir o Reino de Deus.

 

Muitas igrejas e denominações, inclusive alguns Batistas de Londres, foram contra sua decisão. Diziam: “Se Deus quiser salvar pessoas lá, Ele fará isso sem você.” Eles disseram a William Carey para ficar em Londres e pregar ali, argumentando que, se Deus quisesse salvar os pagãos, Ele o faria sem a necessidade de missionários. Mas Carey não aceitou essa argumentação e partiu para a Índia para pregar. Sabe o que aconteceu? Nenhuma igreja estava fazendo missões naquele momento, desde a Idade Média. Nenhuma igreja enviava missionários para o mundo, mas Carey, um pastor Batista calvinista, decidiu obedecer ao chamado de Jesus em Mateus 28, indo pregar o evangelho aos pagãos na Índia.

 

Depois dele, o mundo inteiro, especialmente a Europa e a América do Norte, se encheu de fervor missionário. Ele foi o catalisador desse movimento. Ele é conhecido como o “pai das missões modernas.” Se você ler qualquer livro de história missionária, verá esse título atribuído a ele. É mais uma falácia dizer que os Batistas calvinistas não organizaram sociedades missionárias. A primeira organização missionária foi criada pelos Batistas reformados de Londres. William Carey foi um dos fundadores, junto com Andrew Fuller, outro ministro Batista e teólogo, e outros pastores e diáconos de várias igrejas Batistas independentes. Eles oraram, investiram recursos e criaram a primeira sociedade missionária, ou junta de missões, como conhecemos hoje.

 

Outro mito é que os Batistas calvinistas não crescem numericamente e são igrejas pequenas e raquíticas. Isso é outra falácia. Historicamente, as igrejas Batistas reformadas sempre cresceram, e hoje ainda vemos um grande crescimento delas. Não precisamos nem voltar no tempo; podemos testemunhar esse crescimento agora. Outro equívoco é que os Batistas calvinistas são frios e apáticos. Os Batistas sempre foram pregadores entusiasmados com o poder de Deus através da Sua Palavra, e continuam sendo. São grandes pregadores que acreditam que Deus age por meio da Palavra proclamada.

 

Mais uma falácia é que os Batistas calvinistas não fazem convites à fé em Cristo. Isso é facilmente refutado lendo os sermões dos nossos pais Batistas calvinistas. Leia Charles Spurgeon, John Bunyan, Benjamin Keach, todos pastores Batistas do passado que pregavam no século XVII e XVIII. Eles faziam apelos fervorosos, chamando homens a crer em Jesus: “Venham, recebam a graça de Deus em Cristo. Deixem seus pecados e olhem para Jesus.” Esse era o apelo que faziam aos pecadores.

 

Finalmente, dizem que os Batistas calvinistas são indispostos. Ontem, vi os projetos desta igreja Batista calvinista e não vi nenhuma indisposição. Vi uma igreja com planos audaciosos, desejando pregar a Palavra em regiões isoladas do Amazonas, em lugares de difícil acesso. O pastor mencionou que, se forem em embarcações comuns, a viagem dura quase uma semana, mas, com barcos rápidos, leva 26 horas. A igreja está saindo para missões, e ontem ouvi o relato de um pastor traduzindo as Escrituras, assim como William Carey fez na Índia, para línguas indígenas locais.

 

Que tipo de indisposição é essa? É mais uma falácia. Há muitos exemplos de igrejas Batistas reformadas mostrando seu grande interesse pela obra missionária, pregando a Palavra, realizando conferências, trabalhando com missionários e plantando novos pontos de pregação. A pregação para o nascimento de futuras igrejas, a escrita de obras teológicas para auxiliar os homens com fundamentos teológicos, são todas falácias, meras falácias que eu acabo de citar. Mas a história de fato contradiz essas falácias. O desenvolvimento dos Batistas na Inglaterra e nos Estados Unidos, bem como a obra missionária liderada pelo pastor batista William Carey, revela que o foco dos Batistas calvinistas sempre foi a evangelização.

 

Irmãos, nossos pais Batistas, quando Deus Todo-Poderoso decidiu formar aquela igreja, receberam de Deus um espírito missionário e evangelístico muito poderoso. Essa sempre foi a marca das igrejas que nasceram a partir delas. A marca histórica dos nossos pais Batistas sempre foi sair pelo mundo e pregar o evangelho do Senhor Jesus. A visão errônea de que os Batistas calvinistas são contra a evangelização surgiu baseada em um movimento pontual de hiper-calvinistas no século XVIII. É verdade que no século XVIII os Batistas, que nasceram no século XVII, enfrentaram desafios. Na metade do século XVIII, a Europa foi tomada por um tipo de liberalismo teológico. Não foram só os Batistas que sofreram com isso; na verdade, eles foram os menos atingidos, mas mesmo assim sentiram o impacto. Várias igrejas Batistas começaram a abraçar o liberalismo teológico, o que significa que passaram a desconfiar das Escrituras, considerando a Bíblia um livro importante, mas não a Palavra de Deus sem erro.

 

Esse ataque às Escrituras acabou penetrando algumas igrejas. Além disso, o hipercalvinismo também se infiltrou em algumas igrejas calvinistas, e as que antes eram saudáveis passaram do calvinismo ao hipercalvinismo. Quando isso ocorre, o erro doutrinário faz com que igrejas percam o fervor evangelístico, ficando passivas e esperando que Deus, por Si só, converta as pessoas e as leve até as igrejas. Isso realmente aconteceu com algumas igrejas na Europa, incluindo algumas Batistas, mas foi algo pontual. Não era a marca geral. Foi uma situação que logo foi corrigida, e essas igrejas Batistas abandonaram o hipercalvinismo.

 

O interesse pela evangelização mundial seria, por si só, suficiente para enterrar de vez essa falácia de que o calvinismo é contrário à evangelização. Como mencionei, algumas igrejas Batistas no século XVIII enfrentaram o problema do hipercalvinismo, mas no mesmo século, com o surgimento das missões mundiais feitas pelos Batistas reformados, houve uma reviravolta. No momento em que as coisas pareciam tão sombrias para nossos pais Batistas, Deus enviou um espírito poderoso que animou seus corações e iniciou a obra de evangelização pelo mundo.

 

Atualmente, a maioria dos Batistas brasileiros, incluindo muitos pastores, ainda confunde calvinismo com hipercalvinismo, e é por isso que atacam o calvinismo como se ele fosse o mesmo que o hipercalvinismo. Eles olham para uma igreja Batista calvinista e logo pensam que é hiper-calvinista. Isso ocorre porque não conhecem o verdadeiro calvinismo nem sabem o que é o hipercalvinismo; simplesmente usam o termo de maneira incorreta. O mais paradoxal é que a história dos Batistas no Brasil foi marcada pelo calvinismo dos primeiros missionários norte-americanos. Em outras palavras, os Batistas chegaram ao Brasil por meio da ação missionária de Batistas calvinistas dos Estados Unidos, que enviaram seus primeiros missionários para pregar em nosso país.

 

Vocês devem conhecer o missionário Eurico Nelson, ou talvez tenham ouvido falar de Zachary Taylor e William Buck Bagby. Todos esses homens foram importantes missionários que pregavam a Palavra de Deus e confiavam no poder divino. Graças a eles, os Batistas se espalharam por todos os estados e cidades do Brasil. Quem trouxe essa chama inicial? Quem trouxe a primeira semente do evangelho entre os Batistas no Brasil, senão os Batistas calvinistas? A primeira chama veio de nossos pais na Inglaterra, que foram para os Estados Unidos, e de lá, para o Brasil, para a Índia e para outras partes do mundo.

 

Foram os Batistas calvinistas que espalharam a semente, como na parábola do semeador. Foram eles que pregaram o evangelho de Cristo, chamaram pecadores ao arrependimento e combateram heresias como a do catolicismo romano e as práticas da umbanda que se espalhavam pelo Brasil. Eles pregaram contra a idolatria e a falsa religião, e Deus, de forma poderosa, deu o crescimento. Homens e mulheres que estavam presos no pecado foram libertados, seus olhos foram abertos, e eles creram em Jesus Cristo. Esse foi o trabalho dos nossos pais Batistas calvinistas.

 

O contexto da evangelização brasileira é fascinante. A missão de William Carey estava em pleno andamento na Índia. Prestem atenção e façam essa conexão histórica. William Carey foi um pastor reformado calvinista. Leiam o livro *Testemunha Fiel*, publicado pela Editora Fiel, que conta sua história. É uma das melhores biografias de William Carey, escrita por um autor norte-americano, e mostra como ele estava firmemente enraizado na tradição teológica dos Batistas calvinistas, seguindo as duas Confissões de Fé de 1644 e 1689, que são as confissões dos Batistas particulares ou reformados.

 

Esse homem foi à Índia pregar a Palavra de Deus, e muitos foram impactados por seu exemplo. Nesse contexto, enquanto o trabalho de Carey avançava na Índia, o Brasil passou a ser alvo das missões norte-americanas. Homens que estavam com William Carey, impactados pelo seu exemplo, voltaram para os Estados Unidos e, em seu retorno, passaram pelo Brasil. Alguns deles passaram um tempo no Brasil, plantando as sementes do evangelho. Mais à frente, falarei mais sobre isso, mas guardem essa informação para entenderem como o poder de Deus operou por meio desses homens.

 

Este mapa mostra o desenvolvimento do trabalho missionário norte-americano no Brasil, iniciado pelos Batistas calvinistas. Havia dois grupos históricos que realizaram esse trabalho. O primeiro era o grupo dos Batistas emigrantes, que saíram dos Estados Unidos durante a Guerra de Secessão. Essa guerra aconteceu devido ao conflito sobre a escravidão. O Norte industrializado queria o fim da escravidão, enquanto o Sul, que era rural, dependia da mão de obra escrava e não queria aboli-la. Quando o Sul perdeu a guerra, muitos fazendeiros, incluindo Batistas e Presbiterianos, decidiram deixar os Estados Unidos porque haviam perdido tudo.

 

Decidem, então, deixar a América do Norte para ganhar a vida em outras partes do mundo, e alguns deles vêm para o Brasil. Esse é o primeiro movimento de instalação de americanos Batistas no Brasil. Os primeiros Batistas calvinistas chegaram e se estabeleceram em São Paulo, em Santa Bárbara d’Oeste. Eles seguiam a teologia reformada ou calvinista e plantaram igrejas voltadas para suas próprias famílias, mas não negligenciaram a evangelização. Essas primeiras igrejas Batistas no Brasil realizavam os cultos em inglês, pois eram dirigidos às famílias que haviam vindo em caravanas nos navios, recomeçando a vida no novo país.

 

Eles organizaram duas igrejas: uma em Santa Bárbara d’Oeste e outra em Americana. Tudo acontecia no idioma inglês, tanto entre os Batistas quanto entre os Presbiterianos. Mesmo assim, essas igrejas conseguiram alcançar algumas pessoas que não eram americanas, embora não fosse um grande número, devido à barreira do idioma. Contudo, no dia a dia, conseguiam levar algumas pessoas a Cristo. Esse foi o primeiro movimento de instalação de Batistas vindos da América para o Brasil, ocorrido por volta do final do século XIX.

 

O segundo movimento de instalação no Brasil já tinha um foco missionário. Agora, os Batistas americanos estavam enviando homens com o propósito específico de evangelizar. Eles vinham com o objetivo de conquistar almas para Cristo, indo para a Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, e, em seguida, se espalhando pelo interior do país, pregando a Palavra. Esses missionários eram ligados à Convenção Batista do Sul e foram enviados pela Junta de Richmond, que era a organização missionária dessa convenção.

 

A Convenção Batista do Sul, mesmo hoje, mantém uma teologia calvinista. O Seminário Batista do Sul, que forma a maioria dos pastores americanos e é o maior seminário teológico do planeta, é presidido pelo Dr. Albert Mohler Jr. e continua sendo um seminário de teologia calvinista. Os professores precisam assinar um documento reconhecendo e concordando com as doutrinas calvinistas. Esse seminário tem formado pastores Batistas calvinistas por gerações. No século XIX, a mesma convenção que fundou esse seminário e a Junta de Missões enviou missionários ao Brasil, marcando o início da evangelização Batista em nosso país.

 

Algumas pessoas alegam que os primeiros Batistas no Brasil não eram calvinistas, mas arminianos. Como isso pode ser verdade? Essa afirmação é completamente ilógica e ahistórica. A história prova que não é apenas uma questão de lógica, mas uma realidade documentada. Sem precisar recorrer a documentos, a lógica por si só já demonstra que nossos pais Batistas calvinistas, que desenvolveram igrejas e convenções na América do Norte, enviaram missionários com o mesmo ardor missionário e a mesma teologia para o Brasil.

 

Esses homens, com a fé e a teologia calvinista, plantaram igrejas Batistas no Brasil. Apesar disso, ainda há quem insista em dizer que essas igrejas eram arminianas. Essa é uma afirmação sem base histórica. Eram igrejas calvinistas, cheias de zelo pela pregação do Reino de Deus, desejando ver homens e mulheres salvos, arrependidos de seus pecados, aos pés do Salvador, Cristo Jesus. Elas não eram arminianas, mas sim igrejas calvinistas.

 

Aqui estão os homens mais importantes dessa primeira fase da história das igrejas Batistas no Brasil. O primeiro deles é Luther Rice. Ele era congregacional, mas foi muito impactado pela obra de William Carey na Índia. Enquanto estava nos Estados Unidos, o que Carey fez começou a transformar o coração de Rice. Ele tinha um parceiro missionário, outro calvinista chamado Hudson Taylor, um Batista muito famoso. Esses homens foram tocados pelo poder de Deus e despertados para a obra missionária graças ao exemplo de Carey.

 

Decidiram ir à Índia, onde Carey estava, para pregar o Evangelho com ele. Durante a viagem, estudaram o Novo Testamento e se tornaram Batistas, convencidos pela doutrina do batismo. Ao chegar à Índia, Rice passou pouco tempo lá e decidiu voltar aos Estados Unidos para se desligar oficialmente da Igreja Congregacional que o havia enviado. Durante a viagem de volta, seu barco fez uma parada no Brasil, onde ele ficou por três meses hospedado na casa do cônsul norte-americano.

 

O cônsul era um protestante pedobatista, assim como sua esposa. Eles tinham filhos pequenos e, ao receberem o Reverendo Luther Rice, disseram: “Que bom que Deus mandou você para o nosso país. Que coisa maravilhosa tê-lo aqui. Temos três lindas crianças e gostaríamos que você as batizasse.” Luther Rice, que havia se tornado Batista recentemente, respondeu: “Eu não posso fazer isso, porque o batismo é para crentes, e suas lindas crianças ainda não têm capacidade ou habilidade para crer, ainda não se desenvolveram a ponto de declarar fé.”

 

Arrependimento em nome de Jesus. Aquela família, então, não gostou da resposta e ficou completamente diferente com o Reverendo Luther Rice. Mesmo assim, ele permaneceu três meses no nosso país. Ele chegou em maio de 1813 e, nesses três meses, começou a inspecionar o território brasileiro. A parada no Brasil foi acidental, ou seja, não estava nos planos dele observar o país, mas como o barco parou aqui, ele aproveitou com o coração cheio de fervor para evangelizar, desejando levar Cristo aos pagãos e às nações. Ele olhou para o Brasil e disse: “Que belo lugar para que o nome de Jesus Cristo seja proclamado.” Assim, começou a escrever relatórios sobre o país e sobre a religião de seu povo.

 

Rice foi o primeiro Batista a pisar em nosso país. Os primeiros passos de um Batista no Brasil foram dados por ele. Ele enviou o relatório, mas este não foi bem recebido nos Estados Unidos, onde, naquele momento, não havia interesse em fazer missões no Brasil, pois o foco estava concentrado na Índia. O relatório de Rice foi esquecido, e somente cerca de 40 anos depois outro homem foi enviado pela Convenção do Sul dos Estados Unidos para, agora sim, observar o Brasil e preparar relatórios, pois a convenção pretendia enviar missionários. Esse homem era Teófilo Brantley Jr., que chegou ao nosso país em 1850. Sua missão era avaliativa: analisar o território e preparar um relatório sobre o Brasil, avaliando se seria viável e valioso para a convenção enviar missionários.

 

Todos eles eram calvinistas. Brantley Jr. e os outros missionários olharam para a terra e disseram que seria bom enviar missionários ao Brasil. Mas só em 1860, dez anos após a chegada de Brantley Jr., a Convenção Batista do Sul enviou Thomas Jefferson Bowen como missionário oficial. Bowen, um experiente missionário que havia passado vários anos pregando aos nativos iorubás na África, chegou ao Brasil em 1860. Ele havia aprendido o idioma iorubá, mas também contraíra malária mais de 40 vezes, e era um homem muito doente. Passou pouco tempo no Brasil, mas escreveu cartas à Convenção Batista do Sul, expressando sua esperança de que a obra de Deus se realizasse poderosamente entre os brasileiros. Infelizmente, teve que partir com menos de um ano no país por causa de suas enfermidades.

 

Finalmente, William Buck Bagby chegou ao Brasil, seguido por Zachary Taylor menos de um ano depois. Bagby chegou em 1881 e é considerado, entre os Batistas da Convenção Batista Brasileira, o maior e mais importante missionário que o nosso país já recebeu dos Estados Unidos. Bagby fundou as primeiras igrejas Batistas no Brasil, na Bahia, no Rio de Janeiro e em outras regiões, estabelecendo mais de dez igrejas ao todo. Ele realmente desempenhou um grande trabalho missionário em nosso país. E há um detalhe importante: Bagby também era calvinista, um missionário com um ardor evangelístico calvinista.

 

Luther Rice e seu ardor evangelístico enxergaram o Brasil como um campo missionário promissor. Ele desembarcou em terras brasileiras em 5 de maio de 1813, retornando de sua missão na Índia. O Brasil despertou nele um forte desejo de evangelizar os nativos brasileiros, e ele decidiu dedicar todos os dias de sua vida ao serviço de Deus. Vejam que coisa bonita, irmãos: aqui está um homem em oração. Vocês sabem que naquela época era comum escrever diários, onde registravam suas vidas e desejos. No diário de Luther Rice, ele escreveu suas orações. Em uma delas, ele disse que queria dedicar toda a sua vida e vigor à obra de evangelização dos homens perdidos, desejando ir aonde esses homens estivessem, independentemente da distância ou das dificuldades do lugar.

 

Ele consagrou-se inteiramente à obra de evangelização. Quando estava a caminho do Brasil, a bordo do navio Dona Maria, escreveu as seguintes palavras em seu diário: “Hoje tenho 30 anos de idade. Renovadamente me entrego ao Senhor.” Isso, irmãos, é um calvinista falando. Estamos falando de Batistas calvinistas com grande ardor missionário, o que é contrário ao que muitos dizem sobre nós. Ele continuou: “Renovadamente me dedico à causa das missões. Imploro a Deus que me aceite como Seu, e particularmente como dedicado ao serviço missionário. Senhor, rogo-Te que me aceites. Consagro-me a Ti e à causa missionária. Permita-me, se for Tua vontade, alguns anos para trabalhar no campo missionário, e então me receba no céu por causa de Cristo. Amém.”

 

Essa é a oração de um pastor Batista calvinista, um homem disposto a qualquer custo a estar na obra missionária, na obra de Deus. Um homem cujo coração estava inteiramente consagrado a Cristo e desejava ganhar almas, levar o evangelho e a Palavra de Deus ao mundo. Olhem o que conseguimos destacar apenas nessa oração de Luther Rice: fervor, ardor e desejo pela obra do Salvador, por trabalhar na obra do Senhor Jesus. Ele implora a Deus que o aceite como Seu, dedicado ao serviço missionário. Ele sabia que precisava do poder de Deus, da mão de Deus, para consagrá-lo ao serviço. Era consciente de que o trabalho era maior do que seus desejos e que precisava de um mover poderoso de Deus para confirmá-lo.

 

Ele suplicou a Deus que lhe desse vida e vigor para levar a mensagem do evangelho da graça: “Permita-me, se for Tua vontade, alguns anos para trabalhar no campo missionário.” Relatos como esse devem nos impactar profundamente. Às vezes é difícil encontrar homens dispostos a ir ao campo missionário. Lembro-me de que, da última vez que estive aqui, há pouco mais de um ano, os pastores falaram sobre uma congregação que visitamos ontem. Eles disseram: “Pastor, é muito difícil encontrar alguém que queira vir para cá e começar um trabalho, porque o local é um pouco afastado, ainda que não seja tão longe.” Mesmo sendo praticamente na cidade, é difícil encontrar homens consagrados, que queiram trabalhar na obra do Senhor. Vejam Luther Rice.

 

Veja o coração desse homem. Ele diz: “Senhor, eu quero, eu te peço que me deixes trabalhar os anos de minha vida na obra missionária. Permita-me, se for Tua vontade, alguns anos para trabalhar no campo missionário.” Ele queria, ele ansiava por uma porta aberta. Ele queria entrar por essa porta e ir para as missões, desejava ir a qualquer lugar onde houvesse homens que não conhecessem a Cristo. Ele queria estar ali e pregar a Palavra. Era um homem consagrado ao Senhor.

 

Luther Rice, finalmente, irmãos, foi usado por Deus de uma maneira diferente na obra missionária. Em vez de ser enviado ao campo missionário, Deus enviou Luther Rice a inúmeras igrejas ao redor dos Estados Unidos para angariar recursos para sustentar a obra de missões. Este homem viajava montado a cavalo por toda a América do Norte. Prestem bem atenção: ele não viajava de carro, mas a cavalo, percorrendo igreja após igreja Batista. Onde quer que parasse, pregava as Escrituras Sagradas, despertando as congregações para a obra de missões, chamando homens e mulheres a se levantarem e trabalharem para ganhar almas para Cristo.

 

Rice visitou centenas de igrejas, pregando e apelando a cada cristão que fizesse um esforço pessoal para apoiar a obra missionária ao redor do mundo. Ele dizia aos crentes comuns: “Vocês precisam colaborar, vocês precisam ajudar a expansão do Reino de Deus.” Ele despertou nas igrejas o desejo de contribuir financeiramente para a obra missionária dos Batistas. E sabe o que aconteceu, irmãos? A obra não parou; pelo contrário, cresceu muito, porque as igrejas começaram a doar seus bens, dinheiro e recursos. Homens eram impactados por pregações como as de Luther Rice, despertados para a obra missionária. Alguns diziam: “Olha, eu não tenho recursos, mas eu serei o recurso do Senhor, porque sinto que Deus está me chamando para esta obra. Eu quero ir para o campo das missões.” O Senhor fez a obra crescer por meio desse homem.

 

Rice é um exemplo triunfante do verdadeiro entendimento do calvinismo, irmãos. Ele demonstrava o ardor calvinista na prática. As doutrinas da soberania de Deus, do decreto eterno, da eleição incondicional, da expiação limitada, e da depravação total jamais o moveram ao comodismo. Ele nunca pensou: “Ah, se Deus predestinou e elegeu, eu vou me sentar e esperar Deus fazer a obra.” Essas doutrinas nunca o levaram a se acomodar; pelo contrário, despertavam seu coração cada vez mais. Ele dizia: “Vejam bem quão absurdo é contender contra a doutrina da eleição ou contra os decretos da soberania divina”, demonstrando sua sólida teologia calvinista.

 

Teófilo Brantley Jr. foi o segundo homem a vir ao Brasil, 37 anos depois que Rice passou por aqui. Em 1850, a missão Batista o enviou para estudar o campo missionário brasileiro. Ao chegar, encontrou miséria. Isso está registrado em seu relatório para a Convenção Batista do Sul: um povo miserável, pobre, vivendo em palhoças. Em relação à religião, ele escreveu: “É um povo idólatra, que não conhece o Deus vivo e verdadeiro. O evangelho precisa ser pregado a essa nação.” Ele observou a adoração de ídolos de madeira e descreveu o povo como católico romano, cego em seus pecados. Mais adiante, no relatório, ele menciona as práticas de candomblé, oriundas da cultura e religião africanas.

 

Esse relatório de Teófilo Brantley Jr. é um raio-x da situação que ele encontrou no Brasil. Ele também se dirigiu ao povo Batista americano e disse: “Que o nosso povo, com o Espírito de Cristo, doe seus bens para enviar um missionário ao Brasil. Que Deus comova nossos corações para cumprir o nosso evidente dever.” Ele orou nessa parte de sua carta, pedindo que Deus comovesse o coração dos Batistas americanos, para que enviassem missionários e sustentassem financeiramente essa obra, porque isso é o dever da igreja.

 

Brantley Jr., como calvinista, não era desmotivado. A teologia calvinista o motivava a pregar o evangelho aos perdidos. Para ele e para os Batistas, o dever da pregação era um chamado divino que os tornava diretamente responsáveis por anunciar Cristo aos homens. A verdadeira história da chegada dos Batistas ao Brasil, com seu ardor evangelizador, prova que o calvinismo nunca foi um obstáculo; ao contrário, foi um grande motivador. A boa teologia calvinista acendeu o coração do nosso povo, trazendo fervor e energia para realizar a tarefa de pregar o evangelho, despertando o coração dos eleitos de Deus no Brasil. Essa doutrina poderosa foi o que impulsionou os Batistas a irem a países distantes e inóspitos, como o nosso, para pregar o evangelho de Cristo.

 

Thomas Jefferson Bowen foi o primeiro missionário oficial a fazer missões no Brasil. Os dois homens anteriores vieram apenas para observar a terra e fazer relatórios; não eram missionários propriamente ditos. Bowen, enviado pela Convenção Batista do Sul, chegou ao Brasil em 1860, dez anos depois de Brantley Jr., para pregar a Palavra. Ele era um missionário experiente, mas enfrentou dificuldades desde o primeiro até o último dia de sua estadia no Brasil. A obra foi árdua, e ele encontrou uma barreira intransponível para a chegada do evangelho.

 

Em uma carta enviada aos Batistas do Sul, Bowen escreveu: “Não estou convencido de que tenha vindo aqui em vão.” Ele disse isso porque, mesmo diante de tantas dificuldades, acreditava que Cristo estava com ele. “Quantas vezes o evangelho encontrou maiores dificuldades e as venceu? Cristo está conosco. Quando os corações dos homens forem tocados pelo poder do Espírito Santo, eles seguirão o Salvador mesmo em meio às chamas. Cremos ser dependentes do Espírito Santo para o êxito da pregação.”

 

Os Batistas brasileiros contemporâneos, no entanto, olham para Bowen e o consideram um fracasso. Por que ele é visto assim? Porque durante os oito meses em que esteve no Brasil, não houve conversões registradas. Muitos livros o descrevem como um missionário fracassado, afirmando que sua obra foi uma perda de tempo. Mas, irmãos, Bowen foi um grande sucesso em sua missão. Não podemos saber nem contabilizar quantas almas creram em Cristo por meio dele, se uma, mais de uma, ou nenhuma. Mas podemos afirmar com certeza que a pregação de Bowen faz parte da obra do evangelho no Brasil. Ele incansavelmente pregou a Palavra em nossa terra.

 

Apesar de ser desvalorizado por alguns escritores nacionais e considerado um fracasso por muitos, Bowen cumpriu seu papel. Ele evangelizou escravos africanos no Brasil. Ele havia passado muitos anos na África e aprendido o idioma iorubá, um dialeto de uma tribo africana. Ao chegar ao Brasil, ele encontrou escravos dessa mesma tribo e, sem saber o português, começou a pregar a esses escravos no idioma iorubá. Quantos deles creram em Cristo? Não sabemos, mas ele pregou a Palavra. A teologia de Bowen era o nosso bom e velho calvinismo dos antigos.

 

Batistas particulares reconheciam a necessidade de um chamado eficaz do Espírito Santo ao pecador para que a salvação chegasse aos perdidos. Isso significa que Bowen tinha plena consciência de que somente aqueles cujo coração fosse tocado pelo Espírito de Deus viriam a Cristo, sendo convencidos, tendo os olhos abertos e experimentando uma operação poderosa. Por isso, ele disse: “Quando os corações dos homens forem tocados pelo Espírito Santo, somente então eles seguirão o Salvador, mesmo em meio às chamas. Eles virão a Cristo a qualquer custo, mas apenas quando o Espírito de Deus tocar seus corações.”

 

Por último, irmãos, temos William Bagby. Ele chegou ao Brasil em 1881, enviado pela Junta de Missões Estrangeiras dos Batistas do Sul, conhecida como a Junta de Richmond. Bagby e outros missionários, todos Batistas calvinistas, foram enviados para realizar a obra missionária no nosso país. Bowen, já doente, precisou partir, e então Bagby foi enviado, juntamente com outros missionários. Bagby plantou a Igreja Batista em Salvador em 1882 e a primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro em 1884, além de outras tantas igrejas espalhadas pelo Brasil. Mas essas são as mais importantes para serem citadas neste momento.

 

Em 1881, a Junta de Missões Estrangeiras tinha grandes expectativas para o trabalho de Bagby no Brasil. E o que Bagby trouxe consigo? Ele trouxe confissões de fé e catecismos para ensinar o povo brasileiro. Com a chegada dos missionários Batistas norte-americanos, também chegaram as primeiras confissões de fé conhecidas no Brasil. As igrejas Batistas que foram iniciadas no país, sem exceção, eram igrejas confessionais. Isso significa que todas as primeiras igrejas subscreviam um documento de fé, uma confissão de fé. Aqueles Batistas trouxeram a Confissão de Fé de New Hampshire, que havia sido subscrita nos Estados Unidos anos antes. Era uma versão resumida da Confissão de Fé Batista de 1689, com o acréscimo de outros artigos de fé.

 

Toda igreja Batista brasileira era reconhecida como Batista apenas se subscrevesse essas confissões de fé. Todas as igrejas Batistas do Brasil no século XIX, sem exceção, adotaram a Confissão de Fé de New Hampshire como regra, até 1986, no século XX. E essa é uma confissão de fé calvinista. Bagby conhecia a Confissão de Fé da Filadélfia e também a de New Hampshire, que era baseada na Filadélfia. Em uma de suas cartas enviadas do Brasil para os Estados Unidos, ele escreveu para o secretário da convenção, dizendo: “Dou graças a Deus porque hoje, domingo, no dia do Senhor,” e então especifica a data, “fundamos a primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro sob os artigos de fé da Filadélfia,” isto é, subscrevendo uma confissão de fé Batista calvinista.

 

Ele também trouxe catecismos infantis para ensinar as crianças as primeiras doutrinas da Palavra de Deus. Todos esses homens tinham um sério compromisso com o Senhor e com Sua doutrina. Todos tinham corações completamente tomados pelo poder de Deus para fazer missões. Quando olhamos para o cenário Batista brasileiro hoje, vemos uma quantidade quase incontável de igrejas, congregações e plantações. Quero que vocês nunca se esqueçam de que tudo isso começou em 1638, quando os Batistas, movidos pelo poder de Deus, começaram a plantar igrejas fundamentadas na sã doutrina calvinista, nas doutrinas da graça de Deus. Eles saíram pelo mundo, da Inglaterra, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Índia, e depois vieram ao Brasil, enviando homens na fé de que Deus faria uma grande obra.

 

Nossas primeiras igrejas são frutos do trabalho desses homens. Não aceitem outra informação contrária a essa que estou transmitindo hoje, porque aqui está o verdadeiro movimento das igrejas Batistas no Brasil. Estes são os personagens. Esta é a história Batista brasileira. Aqui está o poder de Deus que operou grandemente nos corações de nossos pais, nossos antepassados Batistas. Que o Senhor, nosso Deus, mova nossos corações como moveu o deles para a obra de missões.

 

Irmãos, que a mensagem de Luther Rice, pregada nas igrejas americanas, chegue ao coração de vocês para que sejam tocados a contribuir com a obra missionária. Não se trata apenas de dar dinheiro; é dar a vida, se entregar, cooperar no que for preciso para a obra de missões. É acompanhar um pastor na obra, orar por ele, estar presente, fazer parte, entregar-se inteiramente ao serviço do Senhor. Orem como Luther Rice orava, como esses homens oravam, dizendo: “Senhor Deus, a Ti me consagro. Molda-me e prepara-me para a obra de Cristo em missões.”

 

Há muito trabalho a ser feito aqui, irmãos. Há muito a ser feito. Há muitos homens e mulheres em nossa cidade que não conhecem o evangelho, muitos que estão perdidos, enganados e iludidos com falsas religiões. O nosso trabalho é grande, intenso, numeroso. Que o nosso Deus se compadeça de nós. Amém.