A grandeza de Deus e sua autoexistência

 

 

Sermão em Isaías 48:12, sobre na doutrina da asseidade divina. Baseado na CFB 1689, capítulo 2, Sobre Deus e a santíssima Trindade. Pregado em 01/09/2024.

 

 

Peço a igreja que abra no capítulo 48 do profeta Isaías e deixem suas bíblias abertas no profeta Isaías. Irmãos, nós vamos ler o verso 12, apenas o verso 12: “Escuta-me, ó Jacó, e Israel, meu chamado. Eu sou ele, eu sou o primeiro, também sou o último”. Amém!

 

Vamos orar, irmãos. Curve a cabeça.

 

Amado Deus, Santíssimo Senhor, nós te louvamos, Senhor Deus, e rendemos graça e louvor ao teu nome, Pai, pelas tuas grandes e maravilhosas misericórdias que são derramadas sobre nós pelo teu poder maravilhoso, Senhor Deus, em favor do seu povo. Obrigado, Senhor, por esta noite, por estarmos aqui, por sermos chamados e reunidos para adorar o Senhor Deus todo-poderoso, o Senhor dos exércitos, o Deus supremo de toda a glória. Senhor, nós te agradecemos pelo privilégio de sermos reunidos pelo sangue do Cordeiro Jesus junto ao povo de Deus e de toda as eras, de toda tribo e nação, conforme tua palavra. Somos gratos por nos reunir, Senhor Deus, a esta Grande Família e fazermos parte da salvação da eternidade com o Senhor e das tuas grandes e maravilhosas bondades. Senhor, nosso Deus, nós suplicamos que tu fales ao coração de cada um, cada homem e mulher, Senhor, cada adolescente, cada um dos que estão aqui assentados para ouvir e meditar na tua palavra. Ó Deus todo-poderoso, que o teu espírito abra o entendimento e os faça ver a grandeza do Senhor nesta noite, como o Senhor se revela, como o Senhor mesmo se apresenta, a tua identidade nas tuas próprias palavras. Abre o coração da Igreja, Senhor Deus, para que fiquem maravilhados com a grandeza do Senhor, o nosso Deus. Em nome de Jesus nós te pedimos, Amém.

 

Queridos irmãos e irmãs, eu não sei quantos de vocês fazem os exercícios que eu às vezes costumo pedir para vocês fazerem, exercícios de espiritualidade, exercícios de contemplação. Eu espero que vocês façam isso porque é muito bom. E se nós fizermos isso sintonizados com as verdades que estão reveladas na própria escritura sagrada, nós veremos a glória de Deus em todas as coisas que meditarmos e contemplarmos.

 

Irmãos, esses dias eu estive na residência onde nasceram os meus avós maternos e, sempre que vou ali, fico maravilhado com a beleza, com as coisas de Deus, com a grandeza da natureza. Sabe, é um lugar que me faz ver muito o poder de Deus e a glória do Senhor. Às vezes, irmãos, sei que há pessoas que, quando estão diante de cenários assim deslumbrantes, bonitos, encantadores, até mais bonitos do que este, elas ficam se perguntando. Elas ficam tão deslumbradas que se perguntam: ‘Como pode? De onde vem tanta coisa? Quem fez isso?’

 

Às vezes, pessoas que não são cristãs, pessoas que nunca se depararam com as verdades reveladas da escritura que mostram Deus como criador soberano, se deparam com essas coisas e dizem: ‘Meu Deus, que coisa maravilhosa! De onde veio tudo isso? Quem é o autor dessas coisas? Quem fez isso tudo?’ E, de fato, irmãos, o autor não poderia ser outro senão o supremo criador dos céus e da terra, Deus, conforme revelado aqui nas escrituras sagradas.

 

O ateu vai olhar para aquilo tudo e vai dizer: ‘Olha, isso não foi feito por ninguém. Isso surgiu simplesmente porque as coisas surgem do nada, de maneira aleatória. Não há um Deus criador, não há um poder soberano inteligente coordenado que fez isso. Não há Deus, simplesmente há a matéria, simplesmente há o materialismo, e as coisas são como são.’ Certamente, uma explicação um tanto imbecilizada, porque, se formos raciocinar, irmãos, nada pode vir à tona do nada, assim, sem um poder por trás.

 

Então, as pessoas têm muitas maneiras de tentar dar uma explicação para a grandeza e a beleza das coisas, irmãos. Mas veja, se até para nós, cristãos, é assombroso olhar para a natureza, olhar para o céu estrelado, toda aquela vastidão do espaço, as estrelas, irmãos, aquilo é o espetáculo da mão de Deus. Se até para nós é espantoso ver isso e dizer: ‘Que grande Deus que fez essas coisas tão supremas e maravilhosas!’, quando paramos para pensar, quando nosso pensamento vai além disso, quando olhamos para nós mesmos ou para um bebê recém-nascido, porque uma pessoa é maior do que a criação para Deus.

 

Uma vida vale mais do que montanhas, do que estrelas, do que coisas inanimadas. Uma vida, um homem. E você olha para uma vida, um recém-nascido, e você que é cristão louva a Deus, dá glória a Deus pelo criador, pela existência daquele ser. Você sabe que ele veio de Deus. Aquilo faz com que você contemple o criador, a grandeza do criador.

 

Mas veja, quando em seus pensamentos, nas suas meditações e reflexões, você vai desenvolvendo esse pensamento: ‘Quem fez a natureza? Deus fez a natureza. Deus fez o Cosmos. Quem fez a vida humana? Quem fez o homem? Deus fez o homem’. Gênesis 1, Gênesis 2, a criação é ali colocada diante de nós, exposta. Aliás, o criador é colocado diante de nós porque a criação é um produto do Criador.

 

E aí, então, precisamos perguntar: ‘Quem fez Deus?’ Tomás de Aquino, teólogo católico romano, já dizia que Deus é a causa não causada. Ele é a causa de tudo, mas ele mesmo não é causado por nada. Não há uma causa para Deus, uma origem para Deus, um ser que fez Deus. Se houvesse, esse ser seria Deus.

 

Quando chegamos à pergunta das perguntas, filosoficamente falando: ‘Quem criou Deus? Quem fez Deus? De onde ele vem?’, essa pergunta, irmãos, silencia muitos filósofos, cientistas e até ateus que alegam não haver Deus. Eles são silenciados diante de perguntas desse tipo. A saída mais fácil é dizer: ‘Ninguém fez Deus porque Deus não existe’, segundo os ateus. Então essa seria a saída mais fácil para eles.

 

Mas, quando contemplam e, por um momento, pensam na possibilidade de que Deus existe: ‘Ok, então de onde veio Deus?’. Essa é a pergunta, a grande pergunta. Às vezes, nos questionamos com perguntas como: ‘De onde veio o universo?’ Aí estamos falando da criação, de coisas criadas. Mesmo que alguém não seja cristão, não tenha a mentalidade de um cristão, não seja guiado pela palavra de Deus que diz que todas as coisas vieram da mão de Deus, do verbo divino, mesmo que a pessoa não pense assim, ela terá uma resposta para a criação, porque a criação é inegável. O ateu pode dizer: ‘Deus não existe, me mostre Deus, prove que ele existe, eu quero vê-lo, eu quero tocá-lo’. Ninguém consegue fazer isso. Mas a criação, ele está nela, ele é parte dela, ele tem matéria, ele vê o mundo, ele toca nas coisas, ele respira. Então ele tem que dar uma resposta para a criação: ‘De onde veio a criação?’ A ciência vai dizer que ela veio do Big Bang, de uma explosão.

 

Os agnósticos dirão: ‘Olha, isso não importa para mim, ela pode ter vindo de Deus, pode ter vindo de uma explosão, tanto faz. O importante é que ela existe’. Mas essa pergunta de onde veio a criação é intrigante, irmãos, mas não é tão intrigante quanto a pergunta sobre a existência de Deus: ‘De onde veio Deus?’

 

Os nossos pais batistas reformados, eu gostaria de ler aqui hoje para vocês antes de entrar no nosso texto propriamente dito, uma passagem da Confissão de Fé Batista de 1689 que está no capítulo 2. Essa passagem está no primeiro parágrafo da nossa confissão, e esse parágrafo vai tratar sobre o ser de Deus: quem é Deus, ou como Deus se apresenta, o que Deus diz sobre ele mesmo ou o que as Escrituras falam sobre Deus.

 

O texto então diz assim: Ouçam com muita atenção. Eu vou ler o parágrafo inteiro, embora eu só precise de uma parte dele. O parágrafo diz assim:

 

O Senhor nosso Deus é somente um Deus vivo e verdadeiro, cuja subsistência é em si e de si mesmo, infinito em seu ser e perfeição, cuja essência não pode ser compreendida por qualquer outro senão por ele mesmo. Um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, partes ou paixões, a quem somente pertence à imortalidade, que habita na luz que nenhum homem pode acessar. É imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, em tudo infinito, santíssimo, sapientíssimo, completamente livre e absoluto, operando todas as coisas segundo o conselho da sua vontade imutável e justíssima, para sua própria glória. É amorosíssimo, gracioso, misericordioso, longânimo, abundante em bondade e verdade, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, o galardoador dos que diligentemente o buscam e, contudo, justíssimo e terrível em seus julgamentos, odiando o pecado e que de modo algum terá o culpado por inocente.

 

Nesse parágrafo bem teológico da nossa confissão, ela apresenta um quadro geral no primeiro parágrafo sobre Deus: Ele é bom, Ele é justíssimo, Ele é amorosíssimo. Ele perdoa a iniquidade, o pecado, mas também é justo em seus julgamentos. Porém, ela diz algo sobre a sua existência. Ou seja, a nossa Confissão de Fé responde à pergunta: De onde veio Deus? Ou, se alguém perguntar: Quem criou Deus? Ela responde isso logo nas primeiras linhas desse parágrafo.

 

Se vocês prestarem atenção, o texto diz: “O Senhor nosso Deus é somente um Deus vivo e verdadeiro, cuja subsistência é em si e de si mesmo”. Veja, “cuja subsistência é em si e de si mesmo”. Ou seja, Deus existe por ele mesmo, não foi criado, não tem uma causa, ninguém o fez. Ele não veio de algum lugar, Ele é de si mesmo.

 

Como explicar isso, irmãos? Na verdade, eu até preciso me antecipar a vocês e pedir um voto de confiança para dizer que o que a confissão está dizendo sobre Deus é o que a Bíblia diz sobre Deus. Nós vamos ver isso logo mais. Então vamos tomar isso como uma verdade absoluta: que a confissão está dizendo que Deus é de si mesmo, que ninguém criou Deus, que a existência dele vem dele mesmo. Isso é algo tão gigantesco, irmãos, tão grande, é uma verdade sobre Deus tão maravilhosa, que acaba sendo inexplicável para nós.

 

Gostaria que você parasse um pouco para pensar nisso. Porque tudo que você conhece na vida, com exceção de Deus, tem uma explicação, e tem uma origem. Tudo. Você olha para o seu filho ao seu lado e sabe: esse menino, essa menina veio de mim. E, quando você pensa em você, pensa: eu vim dos meus pais. E assim sucessivamente. Você olha para a criação como um cristão e diz: isso veio de Deus, das mãos de Deus, o Criador fez todas as coisas.

 

Mas, quando você pensa em Deus, o que significa afirmar que Ele existe de si mesmo? Significa que Ele não tem existência provocada, significa que ninguém o fez, ninguém é responsável por Ele, significa que Ele é o único ser completamente livre e independente. Totalmente independente. Todos nós, como criaturas, somos dependentes. Você só existe por causa de Deus, você depende de Deus, você foi criado porque Deus quis criar você. Então há uma dependência indiscutível da criação para com o Criador. Você está vivo, você respira, você já viveu tantos anos porque Deus manteve você vivo até aqui. Então você é totalmente dependente de Deus.

 

Todas as coisas, meus irmãos, tudo que existe, até mesmo se considerarmos as esferas demoníacas, o diabo e seus anjos caídos, todos eles dependem de Deus para existir. Nenhum tem existência própria, só Deus é autoexistente. Essa doutrina, na teologia, é chamada de Asseidade. Talvez vocês poucas vezes tenham ouvido esse termo aqui. Vocês já ouviram termos como “Trindade”, que é aquela verdade das escrituras de que Deus é um ser que subsiste em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não três deuses, mas um só Deus em três pessoas na divindade.

 

“Asseidade” é a doutrina que afirma que Deus tem existência própria. É uma doutrina elevadíssima nas Escrituras. Veja, quando você pensa assim: “Deus é todo-poderoso”, você pensa no poder de Deus para fazer qualquer coisa, inclusive dar vida aos mortos, e ressuscitar mortos, que é, obviamente, na nossa perspectiva humana, o ápice do poder. Ninguém nunca viu um morto ressuscitar, senão pelo poder de Deus. Mortos estão mortos, não podem voltar à vida se um poder exterior não os trouxer de volta. E só Deus tem esse poder exterior de trazer de volta os mortos.

 

Então, quando você pensa em “Deus todo-poderoso”, você pensa em poder. Quando pensa na criação, ou em “tudo isso que existe”, raciocina que um poder criou tudo, e o poder é de Deus. Contudo, não estamos falando do poder de Deus, estamos falando do próprio ser de Deus, a própria existência divina. “Asseidade”, a autoexistência. O fato de Ele existir por si mesmo é absolutamente incrível, irmãos. Todos nós temos uma parcela de poder, não é? Eu tenho o poder de levantar este copo acima de minha cabeça, isso é um poder que eu tenho. Não estou falando de força física, de quantidade, mas de uma capacidade, de um poder humano. Além da força física, o homem tem outros poderes e capacidades, como a visão, a fala, o pensamento, etc. Mas eu não tenho o poder da autoexistência. Eu dependo de um ser que me faça existir, que me dê vida, não é mesmo? A criação inteira depende Dele, mas Ele não depende de nada e nem de depende de ninguém. Ele existe “de si mesmo”. A autoexistência é uma doutrina elevadíssima sobre Deus que deve realmente trazer espanto à igreja.

 

E, sabe, irmãos, é assim que Deus se revela a Israel muitas vezes. A autorrevelação de Deus, essa apresentação de Deus, essa maneira de Deus se apresentar é como se Deus estivesse dizendo ao povo, provando ao povo que Ele é o Deus todo-poderoso, o Senhor absoluto. Não existe linguagem, não existem palavras ou expressões tão elevadas em qualquer que seja a língua para apresentar coisas mais elevadas do que as maneiras como Deus se apresenta.

 

Quando Deus diz que Ele é autoexistente, irmãos, isso é algo tremendamente profundo, ao ponto de nós não compreendermos isso bem. Temos um vislumbre disso, mas como entrar nas questões mais profundas da autoexistência? Isso não é do nosso mundo, não é da criatura. Tudo existe porque veio à existência, Deus não. Deus é diferente, Ele é autoexistente, existe por si mesmo. Isso deve nos fazer olhar para Deus, irmãos, com grande admiração, contemplação da majestade de Deus, da grandeza do nosso Deus.

 

Olhe para o verso 12, irmãos. O contexto do capítulo 48 é bem interessante. Nos versos de 1 a 11, o Senhor Deus está trazendo várias exortações a Israel, referindo-se ao povo de Deus, Israel e Judá, várias exortações porque o povo era rebelde, não dava ouvidos à sua palavra, desprezava a palavra dos profetas. O Senhor Deus vai repreendendo, dizendo: ‘Ah, se vocês tivessem ouvido a minha palavra, seriam tão numerosos como as estrelas do céu’.

 

Ele está falando para aquela geração, uma geração que perdeu muitas pessoas, perdeu pais, irmãos, entes queridos. Mulheres, maridos foram mortos pelos caldeus, estavam na Babilônia escravizados, sofrendo o juízo divino. E Deus está dizendo: ‘Ah, se vocês tivessem obedecido a minha palavra, seriam uma geração grande, numerosa’. Então o Senhor Deus está mostrando as exortações a um povo rebelde.

 

Em outro momento, Deus diz: ‘Eu conheço o coração de vocês, a malícia do coração, a perversidade, a maldade que há em vocês’. Mas no verso 9, Ele diz, irmãos: ‘Por amor do meu nome, eu adiei a minha ira’. Que palavra de generosidade do Senhor! Eu adiarei a minha ira, verso 9, irmãos.

 

Então, a primeira parte, dos versos 1 a 11, são exortações de Deus a um povo rebelde, que estava preso no cativeiro da Babilônia porque havia negado a Deus, rejeitado a revelação divina, dito não aos profetas, aprisionado os profetas, recusado Deus, o Salvador de suas vidas. Recusaram a promessa aos patriarcas, recusaram o pacto divino de salvação, disseram não a Deus, queriam viver como seus próprios desejos os guiavam, conforme sua própria vontade.

 

Mas Deus é muito clemente, irmãos. Deus é muito misericordioso. O juízo de Deus não é para sempre com seu povo. Embora Israel tivesse sido enviado para o cativeiro e ficasse lá 70 anos, a palavra da profecia em Isaías é Deus dizendo: “Eu retardei de novo a minha ira”. Isto é, vou tirar esse castigo, essa punição de vocês. Não é para sempre, não é final e última. Eu retirarei de novo. Isso é uma expressão de outra doutrina que nós estudamos no domingo passado: a bondade de Deus, Deus sendo misericordioso com um povo que merece a destruição.

 

Agora, se olharmos para o verso 12, quando Deus começa a dizer o que fará, Ele vai dizer que vai salvar Israel, que vai tirar Israel do cativeiro, irmãos. E é muito importante entender o contexto histórico porque os caldeus aqui são a Babilônia de Nabucodonosor. Nesse momento da história mundial, não estou falando da história bíblica, mas da história mundial, a Babilônia era a nação mais poderosa. Ninguém era como a Babilônia.” “Vocês sabem que o mundo já teve vários impérios. O último dos grandes impérios, um dos mais recentes, foi o Império Romano, nos dias de Cristo, no Novo Testamento, que perdurou por muito tempo. O Império Romano veio a acabar por volta do ano 400, com a invasão dos bárbaros. Ele começou antes de Cristo nascer, e Cristo nasceu durante o período do Império Romano. Mas muitos outros impérios já haviam existido no mundo. Alexandre, o Grande, foi um dos grandes imperadores. E na época do Velho Testamento, nos dias de Isaías, o grande império era a Babilônia, era o poder civil e militar mais forte do mundo, e Israel estava sob seu domínio.

 

E Deus diz: ‘Eu vou tirar vocês da Babilônia, eu vou salvar vocês das mãos dos caldeus.’ Eles não mereciam isso, mas Deus, em sua misericórdia, disse que faria. Agora, a pergunta é: ‘Como Deus fará isso?’ Como Deus vai tirar o seu povo das mãos da nação mais poderosa da terra? Aí, Deus se apresenta de maneira especial.

 

Deus poderia simplesmente dizer: ‘Eu sou o Deus todo-poderoso, e isso seria suficiente para que o povo confiasse em sua palavra. Ele é mais poderoso do que os caldeus, então vai nos tirar de lá, porque tem todo o poder em suas mãos’. Mas, ao invés disso, Deus se apresenta de outra forma. Ele diz: ‘Escuta-me, ó Jacó, e Israel, meu chamado.’ Jacó aqui representa as doze tribos, os filhos de Jacó, ou seja, Israel. Ele está falando com o seu povo, com os descendentes de Abraão, o povo escolhido. E então, Ele diz: ‘Eu sou ele.’

 

Quem é esse ‘ele’? Quem Deus está dizendo que é? E mais, Ele continua dizendo: ‘Eu sou o primeiro e também o último.’ O que Deus está afirmando com isso? Qual o significado dessa expressão no livro do profeta Isaías?

 

Irmãos, esta é a autorrevelação de Deus. Quando o nosso Senhor aparece para Moisés no livro de Êxodo, vocês devem se lembrar bem dessa passagem. Em Êxodo, capítulo 3, Moisés está diante da sarça ardente, e Deus lhe diz: ‘Eu sou o que sou’. Moisés estava prestes a ser enviado ao Egito para libertar o povo de Israel, e ele pergunta a Deus: ‘Senhor, quando me perguntarem quem me enviou, como é o teu nome? O que eu devo dizer?’ E Deus simplesmente responde: ‘Eu sou o que sou’.

 

Essa frase, ‘Eu sou o que sou’, é uma das maneiras mais profundas e reveladoras de Deus se apresentar. O que isso quer dizer? Quer dizer que Deus é o ser eterno, que sempre foi e sempre será. Ele não tem princípio nem fim. Ele não foi criado por ninguém, Ele é a própria existência.

 

Pensem um pouco sobre isso, irmãos. Nós, como seres humanos, temos uma origem. Nós fomos criados. Todos nós, em algum momento, não existíamos, e então, pelo poder de Deus, viemos a existir. Nossos pais, avós, bisavós, todos têm uma origem. Até mesmo o mundo ao nosso redor, a criação inteira, veio a existir em algum momento. Mas Deus, ao contrário, nunca ‘veio a ser’. Ele sempre foi. Ele é a própria essência da existência. Quando Ele diz ‘Eu sou’, Ele está afirmando sua autoexistência, sua independência de qualquer outra coisa.

 

Agora, voltando para Isaías 48, quando Deus se revela a Israel e diz ‘Eu sou ele’, Ele está reafirmando sua autoexistência. Ele é o primeiro e o último, o início e o fim. Mas não devemos pensar nisso da mesma forma que pensamos em termos humanos, como uma linha do tempo, com um começo e um fim. Não. Quando Deus diz que é o primeiro e o último, Ele está dizendo que não há ninguém antes Dele e não haverá ninguém depois. Ele é o ser supremo e eterno, sem princípio nem fim. Não há outro deus além Dele.

 

Essa revelação é extremamente poderosa, irmãos. Pensem bem: o Deus que está dizendo que vai libertar Israel da Babilônia não é apenas um Deus poderoso, Ele é o ser autoexistente, aquele que criou todas as coisas, que sustenta todas as coisas e que tem o poder absoluto sobre tudo. Isso é muito mais profundo do que simplesmente ser ‘poderoso’. Ele não depende de nada, mas todas as coisas dependem Dele.

 

A partir do verso 12, Deus continua dizendo que levantará um homem para libertar Israel. Esse homem é Ciro, o rei da Pérsia. Embora o nome de Ciro não seja mencionado diretamente nesse capítulo, sabemos que é dele que Deus está falando. Deus vai usar Ciro para libertar o povo de Israel da Babilônia. E isso é extraordinário, porque Ciro era um rei pagão, um governante que não conhecia a Deus da forma como Israel conhecia, mas, ainda assim, ele era um instrumento nas mãos de Deus. O próprio Ciro, sem saber, estava cumprindo o propósito de Deus ao libertar o povo de Israel do cativeiro e permitir que eles voltassem para Jerusalém.

 

Isso nos mostra, irmãos, o quão soberano é o nosso Deus. Ele controla todas as coisas, até mesmo os reinos e impérios deste mundo. Nada foge ao controle de Deus. Ele é o Senhor da história. E esse Deus que se revela como o ‘Eu sou’, o autoexistente, é quem diz que libertará o seu povo e cumprirá as suas promessas.

 

Agora, irmãos, vamos voltar a outra passagem fundamental, que é Isaías 43. Abra suas bíblias em Isaías 43, versos 10 a 13. Aqui, novamente, Deus está falando ao seu povo e diz: ‘Antes que houvesse dia, eu sou ele, e não há quem possa livrar da minha mão; operando eu, quem impedirá?’ Que revelação maravilhosa, irmãos! Deus está reafirmando sua autoexistência e poder absoluto. Ele diz que não há ninguém que possa impedir os seus planos. Ninguém pode livrar da sua mão, e quando Ele decide agir, nada pode detê-lo.

 

E, ao final, Ele declara: ‘Eu sou o Senhor, o vosso Santo, o Criador de Israel, o vosso Rei.’ Ele é o Criador, o Senhor soberano, e Ele está dizendo ao povo que Ele agirá em seu favor.

 

Isso é uma revelação tremenda da grandeza de Deus. Se nós ficamos maravilhados com a criação, com o poder de Deus em criar todas as coisas, quanto mais devemos ficar espantados com a sua autoexistência? O fato de que Deus existe por si mesmo, sem necessidade de nada ou ninguém para sustentá-lo, é algo além da nossa compreensão humana. Ele é o Deus eterno, o ‘Eu sou’.

 

Essa revelação de Deus deve nos fazer parar e refletir sobre a majestade e a grandeza do nosso Senhor. Não apenas um ser poderoso, mas o próprio ser que dá existência a todas as coisas. Que Deus grandioso nós servimos! Ele é infinitamente maior do que podemos imaginar.

 

Agora, irmãos, eu quero levá-los a uma reflexão ainda mais profunda. Quando olhamos para a doutrina da encarnação, o mistério do Deus autoexistente se fazendo carne, isso deve nos deixar ainda mais maravilhados. O Deus que se revelou a Moisés como ‘Eu sou’, o Deus que se apresentou a Israel como o primeiro e o último, veio ao mundo em forma de homem. Ele tomou sobre si a carne humana, na pessoa de Jesus Cristo, e habitou entre nós. Isso é algo tremendo! Como pode o Deus eterno, o autoexistente, se humilhar a esse ponto? E mais: Ele veio a este mundo caído para sofrer por nós, para morrer pelos nossos pecados.

 

Talvez alguém diga: ‘Pastor, você está confundindo as coisas. Você está falando do Deus Pai, mas o Filho é diferente.’ Não, irmãos, o Filho, o Logos divino, é também autoexistente. Ele é eternamente gerado pelo Pai, mas tem a mesma essência divina. Há uma única essência em Deus, compartilhada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. O mesmo Deus que se revelou como o ‘Eu sou’ em Isaías e no Êxodo é o mesmo que se fez carne na pessoa de Jesus Cristo.

 

Isso é algo para nos deixar perplexos, irmãos. Quando olhamos para Jesus Cristo nas páginas das escrituras, vendo-o sofrer, ser humilhado, pode até parecer que Ele não é Deus, que Ele é fraco. Mas lembrem-se: é o Deus autoexistente, o ‘Eu sou’, que está ali, assumindo a forma humana, para nos salvar.

 

Abra suas bíblias agora em João, capítulo 8, verso 58. Aqui, Jesus está debatendo com os fariseus, que diziam: ‘Nós somos descendentes de Abraão’. Eles estavam orgulhosos de sua herança, e então Jesus diz a eles: ‘Antes que Abraão existisse, eu sou’. Que declaração poderosa! Jesus está claramente se identificando com o ‘Eu sou’ de Êxodo 3. Ele está dizendo que Ele é o mesmo Deus que apareceu a Moisés na sarça ardente. Ele é o Deus eterno, o autoexistente.

 

Os fariseus entenderam isso, e por isso tentaram apedrejá-lo, porque, para eles, Jesus estava blasfemando, ao se declarar como o próprio Deus. Eles entenderam corretamente as palavras de Jesus, mas não aceitaram essa verdade. Para os fariseus, era impensável que aquele homem diante deles, nascido de Maria, pudesse ser o próprio ‘Eu sou’, o Deus eterno que havia se revelado a Moisés.

 

Vejam o que acontece no verso 59 de João 8: “Então pegaram em pedras para atirarem nele, mas Jesus ocultou-se e saiu do templo, passando pelo meio deles.” Os judeus quiseram apedrejá-lo porque consideraram que Ele estava se fazendo igual a Deus, tomando o nome divino para si. Mas a verdade é que Ele realmente é Deus. O mesmo Deus que se revelou no Antigo Testamento agora estava diante deles em carne e osso, na pessoa de Jesus Cristo.

 

Irmãos, essa revelação de Jesus como o ‘Eu sou’ é fundamental para a nossa fé. O Filho de Deus, que se fez carne, não é apenas um profeta, um grande mestre ou um líder espiritual. Ele é o próprio Deus encarnado. E é justamente esse fato que torna a nossa salvação tão grandiosa. O preço pago na cruz não foi o sofrimento de um homem qualquer, mas foi o sacrifício do próprio Deus, do autoexistente, daquele que sustenta todas as coisas com o poder da sua palavra.

 

Quando olhamos para a cruz, devemos nos lembrar disso. Não é apenas o sacrifício de um homem justo por pecadores, mas o sacrifício do próprio Deus, que se humilhou até a morte para nos resgatar. Isso deve nos encher de espanto e gratidão. Como o Deus autoexistente, aquele que não tem começo nem fim, que não depende de nada nem de ninguém, se fez homem e morreu em nosso lugar? Que mistério glorioso é esse!

 

Agora, irmãos, eu quero voltar um pouco ao que Jesus disse em João 8:24. Vamos ler novamente esse verso, pois ele tem uma implicação muito séria. Jesus diz: “Por isso eu vos disse que morrereis em vossos pecados, porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.” Veja a gravidade desta declaração. Jesus está dizendo que, se as pessoas não crerem que Ele é o ‘Eu sou’, elas morrerão em seus pecados.

 

Isso significa que negar a divindade de Jesus, negar que Ele é o Deus autoexistente, é algo fatal. É impossível ser salvo sem crer que Jesus é Deus. É por isso que as seitas que negam a divindade de Cristo estão tão erradas e fora do caminho da salvação. Aqueles que dizem que Jesus é apenas um anjo poderoso ou um ser criado, negam a verdade central do evangelho. Eles rejeitam o fato de que Jesus é o ‘Eu sou’, o Deus que se fez carne para nos salvar. E, por causa disso, eles estão em grande perigo.

 

Se não crermos que Jesus é Deus, se não aceitarmos que Ele é o ‘Eu sou’, morremos em nossos pecados. Isso é algo extremamente sério, irmãos. A nossa salvação está diretamente ligada à nossa fé na divindade de Jesus. Ele é o único que pode nos salvar, justamente porque Ele é o Deus todo-poderoso, o Deus que se fez homem e deu a sua vida por nós.

 

Nós, como cristãos, somos bem-aventurados, porque essa graça nos foi revelada. Fomos abençoados com o conhecimento de que o nosso Salvador é o próprio Deus, o autoexistente, o Criador dos céus e da terra. Essa revelação deve nos levar a uma profunda adoração e gratidão. Devemos reconhecer a grandeza do nosso Deus e do seu amor por nós, manifestado em Cristo Jesus.

 

E, voltando ao texto de Isaías 48, entendemos agora por que Deus se revelou ao seu povo daquela maneira. Quando Ele diz: “Eu sou o primeiro e o último”, Ele está afirmando sua soberania sobre todas as coisas. Ele está dizendo ao povo que eles podem confiar Nele, porque Ele é o Deus eterno, o Deus que está no controle de tudo, desde o início até o fim. Mesmo quando Israel estava no cativeiro, sob o domínio dos babilônios, Deus estava no controle. Ele já havia planejado sua libertação, e agora estava agindo para resgatar o seu povo.

 

E assim é em nossas vidas, irmãos. Deus é o primeiro e o último, o Alfa e o Ômega. Ele está no controle de todas as coisas, desde o início até o fim. Podemos confiar Nele, porque Ele é o Deus soberano, o Deus autoexistente que governa sobre tudo. Não importa as circunstâncias que enfrentamos, podemos ter certeza de que Deus está no controle e de que Ele cumprirá todas as suas promessas.

 

Por fim, irmãos, eu quero encerrar com uma reflexão sobre o que significa para nós, hoje, saber que o nosso Deus é o ‘Eu sou’. Saber que Ele é autoexistente, que Ele é o primeiro e o último, deve nos encher de confiança e de paz. Nada neste mundo foge ao controle de Deus. Ele é o soberano Senhor da história, e, assim como Ele libertou Israel do cativeiro na Babilônia, Ele nos libertou do cativeiro do pecado através de Jesus Cristo.

 

E mais, essa mesma verdade nos dá a certeza de que Ele voltará. O Deus que é o primeiro e o último não nos abandonou. Ele prometeu voltar para buscar o seu povo, e assim será. Porque Ele é fiel, Ele é eterno, e Ele cumpre todas as suas promessas.

 

Que essa verdade nos fortaleça e nos faça confiar cada vez mais no nosso Senhor, o Deus autoexistente, o ‘Eu sou’, o primeiro e o último, que governa sobre todas as coisas e que nos ama com um amor eterno.

 

Amém.